quinta-feira, 19 de julho de 2007

Capítulo 8

Capítulo 8

Tomei banho, passei meu perfume pra ficar cheirosinho, vesti roupa nova e fiquei na sala esperando o Daniel ir me buscar, ansioso para ver aquele rostinho inocente que ele tinha. Quando eram quase 21h a campainha tocou, fui atender correndo, eu já quase nem tinha mais unha de tanto que roí, ao abrir a porta ele entrou com tudo me beijando, prendeu meu corpo junto a estante da sala, eu adorava quando ele fazia isso, seus beijos eram selvagens, quentes, mas ao mesmo tempo carinhoso, às vezes ele fazia um estilo cafajeste que me levava à loucura.
-Como você está cheiroso...
-Estou cheiroso pra você!
-Mas você já é cheiroso sem passar perfume...
-Te amo, sabia?
-Eu também te amo, "petit"! Vamos?
-Sim.
Fui pegar minha carteira que estava no criado-mudo do meu quarto, Daniel abriu a porta da sala e ficou segurando até eu sair, sempre gentil comigo e com todo mundo, isso era mais um de seus encantos. Fomos até o estacionamento de visitantes do condomínio onde ele havia estacionado seu carro, entramos na caminhonete preta dele e seguimos pelas ruas de São Paulo, com os vidros do carro fechado em uma noite quente, liguei o ar-condicionado:
-Nossa... Ta muito calor, vou ligar o ar...
-Por favor...
-Sabe que eu adoro essa parte da cidade?
-Eu também gosto muito do Centro à noite, pena que não se pode arriscar muito andando por essas ruas...
-Olha essa vista do Municipal...
-Vamos tirar uma foto?
-Eu não estou com a câmera aqui.
-Deixa que eu tiro do celular...
-Vou parar o carro.
Daniel parou o carro em frente ao Teatro Municipal e tiramos uma foto com o Teatro de fundo, apesar de ser pelo celular a resolução ficou ótima. As ruas estavam vazias e haviam alguns casais de namorados passeando de mãos dadas, deveria estar tendo algum evento no Municipal, pois havia uns canhões de luz na porta, tapete vermelho e uns seguranças, ás vezes batia uma brisa fresca, mas a noite continuava quente. Entramos no carro e seguimos para o lugar onde iríamos comemorar nosso aniversário de namoro, deixei que ele escolhesse, não dei palpite em nada porque sabia que o Daniel tinha bom gosto. Chegamos ao lugar onde ele havia programado me levar, era uma espécie de bar/restaurante com música ao vivo, o lugar que ele escolheu era muito agradável, sofisticado e a comida era ótima, muita gente bonita e os funcionários bastante simpáticos.
-Boa noite!
-Boa noite. Eu tenho uma mesa reservada em nome de Daniel Marzin.
-Podem me acompanhar.
-Obrigado.
Fomos acompanhando o garçom até chegar na mesa reservada para nós, caminhando entre as mesas eu ia observando o lugar, notei que o pessoal que freqüentava o local era um público jovem e bonito, a decoração era em estilo rústico/moderno, havia mesas para duas, quatro, seis e oito pessoas, a mesa que estava reservada para nós estava bem no canto, uma vela em cima da mesa que boiava sobre um recipiente com água, a música que tocava era ambiente, uma garota muito talentosa cantava “Teto de vidro” da Pitty.
-Gostou do lugar?
-Adorei, você sempre tem bom gosto...
-E você é minha inspiração.
Ele tocou na minha mão e olhou no meu olho, respirei fundo e fechei os olhos, os carinhos que ele fazia na minha mão me faziam relaxar, me apaixonar, nossa relação era aquele tipo de "amor perfeito", tudo lindo, tudo perfeito. No jantar comemos pato ao molho de manga, confesso que no começo quando ele disse "pato ao molho de manga" eu fiz uma careta, mas quando eu comi comprovei o quanto era bom, e que meu amor como sempre, acertou. No decorrer do jantar conversamos sobre nossas vidas, planos para o futuro.
Antes de acabar o jantar, ele se levantou e disse que voltaria logo, fiquei aguardando sentado na mesa terminando de comer meu bolo de chocolate, de repente a música parou de tocar, uma voz começou a falar no microfone e quando olhei para o palco, o Daniel estava sentado no lugar da garota com um violão na mão se declarando pra mim, no telão passava nosso vídeo de Paris.
-Já volto.
-Tudo bem.
-Boa noite a todos! Bem... Hoje estou comemorando 6 meses de namoro, 6 meses de felicidade e alegrias. Conhecer você Bader, foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida, o amor que sinto por você é tão grande que às vezes até dói, com você eu quero viver pra sempre. Em nome de todo esse amor que sinto por você, eu vou cantar uma música dedicada a você.
Eu fiquei sem reação na hora, pra mim só iria ter o jantar, ele pegou o violão e começou a tocar olhando pra mim, às vezes fechava os olhos e parecia tirar a música do fundo do coração, cantava com a alma, uma verdadeira declaração de amor.
-“Eu e você.
Não é assim tão complicado Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer
Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei você vai rir da minha cara
Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar
Teu sorriso é só disfarce
E eu já nem preciso
Sinto dizer
Que amo mesmo,
Tá ruim pra disfarçar
Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contramão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida
Eu procurei
Qualquer desculpa
Pra não te encarar
Para não dizer
De novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já não to nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Lê no meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Por que eu já nem preciso
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida.”

Composição: Dudu Falcão

Essa música tinha tudo haver com nossa história, acabou virando “nossa” música, o ambiente todo começou a cantar junto com ele, os casais se abraçavam e trocavam carícias, enquanto isso eu tentava conter minhas lágrimas, mas foi impossível não se emocionar, só vivendo uma situação assim para saber como é a sensação de receber uma declaração de amor em público, pra se fazer algo assim tem que amar muito a outra pessoa, pois eu achei uma verdadeira loucura. Depois de cantar a música ele foi aplaudido de pé por todos, pelo visto todos adoraram, até o pessoal da cozinha foi ouvir ele cantar, meu coração disparou quando o vi se dirigindo até a mesa onde eu estava, havia uma garota na mesa ao lado da nossa que estava com seu namorado que olhou pra mim e disse:
-Parabéns pelo namoro e pelo namorado...
-Obrigado.
O Daniel parou na minha frente, pediu para que eu fechasse os olhos e colocou uma venda em meus olhos, pegou pela minha mão e foi me conduzindo, no começo fiquei com medo, não sabia o que ele iria fazer colocando aquela venda nos meus olhos, mas confiei nele e permiti, fui caminhando de mãos dadas com ele até o carro, eu perguntei onde estávamos indo e ele falou que era segredo. Fiquei um bom tempo andando de carro sem ver nada, quando já estava quase tirando a venda senti o carro parar, ele segurou minha mão e pediu para que eu não estragasse a surpresa que ele havia preparado pra mim tirando a venda, então acabei deixando a venda onde estava e ele foi me conduzindo, deixei o carro, o local tinha eco, deveria ser uma garagem, subi alguns degraus tropeçando, depois um silêncio tomou conta do ambiente que foi quebrado por um barulho de porta sendo fechada, foi quando ele disse para eu tirar a venda:
-Já pode tirar...
-Mas está escuro...
Estava tudo escuro, quando ele acendeu a luz meus olhos brilharam, eu estava dentro de um quarto de motel, sobre a cama havia um urso de pelúcia enorme branco com um laço vermelho no pescoço, era maior que eu, havia espalhado por todos os cantos pétalas de rosas vermelhas, no chão, na cama, até no banheiro, dentro da banheira havia algumas velas aromáticas boiando na água e pétalas de rosas vermelhas misturadas com amarelas, aquele ambiente um pouco escuro, apenas iluminado pelas velas que decoravam o lugar e algumas luzes decorativas, um quarto bem sofisticado, a cama era enorme, lençóis brancos, quatro travesseiros, no banheiro tinha dois roupões de banho, chinelo, escova de dente e outros produtos de higiene pessoal.
-Gostou?
-Nossa... Adorei...
-Você que fez tudo isso?
-Não, mas contratei alguém para deixar do jeito que eu queria...
-Ficou lindo.
-Lindo é você.
Começamos a nos beijar, abraçados eu já podia sentir as batidas do seu coração, seu braço atravessou minhas costas aproximando mais ainda meu corpo do seu, sobre aqueles lençóis brancos em contraste com o vermelho das pétalas nos deitamos.
-Petit, eu te amo tanto que às vezes chega até a doer meu peito.
-Só de pensar em ficar longe de você um dia eu tremo, não consigo mais viver minha vida sem você, meu futuro é você comigo.
Deitamos naquela cama já em brasa, o clima foi esquentando, de corpos nus tocávamos calor humano, já não conseguíamos distinguir o que era gemido de dor e de prazer, pois os dois se fundiram tornando-se uma coisa só, um corpo apenas, um repasse de energias que se transformavam em combustível que aumentava nosso tesão, seu corpo gelado e suado se arrepiava quando sentia minha língua explorá-lo, aquela sua mão grande puxava meu cabelo com cuidado para não me machucar, em movimentos desordenados, às vezes ele tremia quando sentia uma “fisgada”, fizemos amor gostoso, sexo selvagem, seu corpo coberto de pelos serrados esfregava no meu corpo liso, transamos na cama, no chão, na hidromassagem, sem intervalos até o amanhecer. O Daniel tinha muito fogo, se deixasse ele conseguia seis, sete em uma noite, além de fogoso ele era gostoso, por sermos jovens acho que contribuía muito, juntando seu fogo com o meu nos tornávamos uma fogueira impossível de apagar.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Capítulo 7 Um estranho dentro de mim

Capítulo 7

Na manhã seguinte, acordei cedo e fui preparar o café, coloquei uma toalha branca na mesa como de costume, capuccino, brioches, pão de queijo, suco de maracujá, salada de frutas, barras de cereal, enfim, como todos os dias eu fazia. Depois de tomar café, fui passar as fotos da câmera para o computador, realmente ficaram lindas, tinha uma que o Daniel estava abraçado comigo no castelo de Versalles, de rostinho coladinho com o meu, ficou tão linda que mandei fazer um pôster para presenteá-lo, também imprimi para colocar no porta-retrato e transformei em papel de parede do meu micro.
Lá pelas 9:00h o Daniel chegou, como o porteiro já o conhecia permitia que ele subisse sem problemas, fui atender a porta e como sempre ele trouxe algo para me agradar, uma caixa de bombons de chocolate com licor.
-Bom dia, amor!
-Bom dia!
-Trouxe isso aqui pra você... E isso também...
-O que é isso?
-Um CD.
-Jura?... Que é um CD eu sei, quero saber o que tem nesse CD.
-Coloca lá no DVD que você vai ver...
Coloquei a caixa de bombom sobre a mesa e fui ver o que tinha no CD que ele me trouxe, a capa do CD era nossa foto e de fundo a Torre Eiffel, muito linda a montagem. Liguei o DVD e sentei no sofá, ele deitou no meu colo, começou a tocar uma música e um céu foi se abrindo na frente da TV, de fundo veio surgindo nossa foto, depois a foto se desfazia e vinha um poema que ele fez pra mim, só de ouvir a música comecei a me emocionar, depois foram passando varias fotos nossas da viagem, correndo pelas ruas, provando chapeis nas bancas da rua, em frente à torre Eiffel, tudo era lindo, as dedicatórias que ele fez nas fotos ficaram perfeitas, o slide terminava com uma foto onde nos beijávamos e de fundo o por do sol decorava o cenário de amor.
-Gostou?
-Amei! Só você mesmo...
-Agora vamos lá fazer uns exercícios, afasta essa mesinha daqui e deite aí no tapete.
-Sim...
-Agora eu vou segurar seus pés, você vai cruzar os braços de forma que suas mãos fiquem no seu ombro...
-Assim?
-Perfeito. Agora você vai subir e descer 30 vezes sem parar...
-Ok.
Começamos com a Abdominal, Daniel segurava meus pés enquanto eu me exercitava, de frente pra mim ele acompanhava a série de exercícios, a cada vez que eu subia dava um selinho nele, desse jeito eu iria querer fazer exercícios com ele todos os dias, quando completei as séries, ele segurou minha cabeça, trouxe pra junto da dele e ficamos ali na sala nos beijando por uns 5 minutos, até ele me deitar no tapete, olhar dentro dos meus olhos e deitar seu corpo coberto de músculos por cima do meu, me prendendo no tapete da sala de maneira que só sairia dali quando ele deixasse. Eu ainda estava de pijama, ele estava de bermuda e regata branca, pelo que senti, ele parecia estar sem cueca, com uma bermuda vermelha estilo surfista, suas pegadas fortes exploravam meu corpo como um terreno desconhecido, ele levou sua mão por baixo da minha camiseta e ia acariciando parte por parte do meu corpo, minha pele ficava arrepiada quando sentia sua mão com calos alisar minha pele lisa, com o roçar do seu corpo no meu ele ia tirando sua bermuda, que depois de desabotoada saiu facilmente, confirmando a minha suspeita de que ele estaria sem cueca. Com os dentes ele foi arrancando meu short, me deixando totalmente nu, sua respiração já estava ofegante, se misturando com a minha que seguia em ritmos desordenados, o suor que corria pelos nossos corpos era uma mistura de tesão e desejo, com uma pitada de prazer, aquelas coxas grossas com pelos serrados se esfregavam na minha, com os dois corpos totalmente nus ele me pegou no colo e me levou para o quarto, com o pé Daniel fechou a porta que estava aberta e me colocou na cama, o vento soprava pela janela, confundindo com sua respiração. As mordidas na orelha que ele me dava me faziam viajar, gemidos de prazer, arranhões, lambidas na orelha, chupadas no pescoço, no mamilo, muito tesão, sussurrando no meu ouvido varias vezes "Te amo"...
Passamos a manhã inteira no quarto, nos curtindo, nos amando, adormecemos agarradinhos, pele com pele, no lençol ficou a mistura do nosso perfume com nosso suor, foi lindo, gostoso, acho que agora eu sei o que significa "Fazer amor". Acordei quase 13:00h, levantei delicadamente para não acordá-lo e fui tomar banho, encostei a porta do banheiro e deixei a do box aberta, de olhos fechados eu deixava a água cair sobre meu rosto, não demorou muito e o Daniel entrou no banheiro.
-Banho... E nem me chamou...
-Você estava dormindo tão gostoso...
-Gostoso é estar com você, sentir você, beijar você, tocar você, tomar banho com você...
Ele ia falando e chegando mais perto de mim, entrou no box e fechou a porta, me prendeu na parede me deixando indefeso, sobre seu poder, tomando posse do meu corpo e do meu coração:
-Está querendo fugir de mim?
-Imagine... To gostando muito de você, te amo cada dia mais...
-Eu também te amo.
-Tenho medo que esse sonho acabe...
-Mas não vai acabar, confie em mim.
O que eu sentia pelo Bruno era diferente do que o que eu sentia pelo Daniel, agora eu consigo perceber que o que eu sentia pelo Bruno não era amor, era apenas uma paixão, uma ilusão, sendo meu primeiro namorado, primeira paixão, acabei me iludindo, mas não me arrependo, foi importante para meu amadurecimento e crescimento como pessoa.

Meses se passaram, eu e Daniel já íamos comemorar 6 meses de namoro, como passou rápido, a cada dia que passava mais eu o amava, parecia um sonho, nos entendíamos em todos os sentidos, nunca havíamos brigado, às vezes eu me perguntava se merecia tanto, meu único medo era que aquela história de amor por algum motivo um dia viesse acabar. Conheci o Daniel em uma ocasião muito louca, não sei se é obra do destino, não acreditava nessas coisas, só sei que aquele jeitinho dele me olhar fazia meu coração disparar, aquele olhar de cachorro abandonado, sorriso perfeito, lábios carnudos e safados, com seus 187 cm de altura preenchia minha cama e minha vida, tapando os buracos deixados pelo passado.
No dia em que estávamos comemorando o aniversário de 6 meses de namoro havíamos marcado de jantar fora, o Daniel ficou encarregado de escolher o lugar, como ele sempre teve muito bom gosto para esse tipo de ocasiões, preferi deixar por conta dele. Durante o dia eu fui ao shopping comprar um presente e roupa nova para jantar com meu "petit" (Era assim que ele me chamava). Comprei calça, camisa, sapato, cinto, tudo novo, e de presente eu comprei um pingente de ouro branco com brilhante, era um Ideograma Japonês que significava "Amor".
Antes de o Daniel chegar, ele estava em seu quarto se preparando para passar em casa quando sua mãe entrou no quarto furiosa:
-Daniel...
-Fala, mãe...
-Quem é Bader de que você tanto fala?
-Meu amigo, por quê?
-Amigo que beija na boca?
-Do que a senhora está falando?
-Estou falando dessa foto...
Ela jogou uma foto em que estávamos abraçados no Louvre, na nossa viagem à França, atrás havia uma dedicatória minha pra ele.
-O que há de errado com essa foto?
-Eu não acredito, deixa de ser falso, eu não quero ter um filho bicha.
-Olha como à senhora fala comigo.
-Então olhe você as companhias com quem anda saindo.
-Não fale assim do Bader, eu sei muito bem com quem eu saio.
Ela sentou na beira da cama e começou a chorar, com a mão no rosto ela lamentava:
-Por que isso tinha que acontecer comigo?
-Mas eu continuo sendo o mesmo Daniel de sempre...
-Só falta você me dizer agora que quer meus brincos emprestados...
-Já chega, mãe. O fato de estar amando um homem não me faz menos homem do que qualquer outro. Não tenho intenção de usar colares, pulseiras, por silicone e nem cortar meu pinto...
-Me respeite, Daniel.
-Me respeite a senhora que chega invadindo meu quarto dessa maneira como se tivesse algum poder sobre minha vida, eu estou feliz com meu corpo, continuo sendo o mesmo Daniel de antes, só que amando um outro homem.
-Você acha fácil pra uma mãe abrir uma pasta no computador e encontrar um monte de fotos do único filho dela beijando outro homem? E depois encontrar uma foto com uma dedicatória de amor?
-Mãe...
-Meu sonho era ser avó, quem vai herdar os patrimônios que seu pai deixou?
-Eu vou herdar.
-Quem vai dar continuidade ao nome da família?
-Chega mãe, deixe de ser egoísta. O tempo todo você só pensou em você...
-Mas Daniel...
-E eu? Meu coração? Meus sentimentos? Eu A-M-O o Bader, minha vida sem ele já não tem mais sentido...
-O que a sociedade vai dizer...
-Foda-se o que a sociedade vai dizer, eles não tem o que dizer, enquanto tivermos dinheiro para freqüentar os mesmos lugares que eles, seremos tratados como "gente deles". Não tenho motivos pra esconder de ninguém os meus sentimentos.
-Mas meu filho, é pecado...
-O que é pecado? Quem disse que é pecado?
-O padre disse na missa que...
-Ah... O padre... A igreja... A mesma igreja que no século retrasado dizia que negros não eram filhos de Deus? A mesma igreja que pede dinheiro na missa? Que matava as pessoas na Santa Inquisição?
-Bader...
-Onde que Deus diz que é pecado amar? Se homossexualidade não fosse coisa de Deus, ninguém nasceria estéril, já que a filosofia da igreja é que o sexo só serve para procriar. Mãe, eu quero que a senhora entenda uma coisa: Assim como a senhora ama sua mãe eu amo o Bader, e por a senhora amar sua mãe não é considerada homossexual, só porque ela é sua mãe, mas tem o mesmo sexo.
-O que isso tem haver?
-Nada... Não tem nada haver, só quis dar o exemplo de que você não pede para amar uma especifica pessoa ou sexo, isso é um preconceito social, alguém disse que isso era certo e outro alguém obedeceu.
-Pelo menos eu vou poder conhecer esse seu...
-Namorado. Vou conversar com ele, o Bader é um cara legal e vai gostar de conhecer a sogra dele, assim como eu adorei conhecer a minha.
-Você já conhece a mãe dele?
-Não só a mãe, mas também o pai, irmão e a cunhada, fui até convidado para ser um dos padrinhos do casamento do irmão mais velho dele.
-Eles sabem que vocês dois tem um caso?
-Não sou homem de casos, eles sabem que nós namoramos sim, e dão o maior apoio. Agora estou de saída, tchau.
Claro que não é fácil para uma mãe saber que o filho é gay, apesar do mundo estar moderno, ainda existem pessoas conservadoras, preconceituosas, racistas, pessoas que vão passar o resto da vida com a mesma filosofia, mente fechada para as mudanças que o mundo sofre. Daniel pegou a foto da mão de sua mãe, colocou em um quadro ao lado de sua cama, deu um beijo na testa dela e saiu.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Capítulo 6 Um estranho dentro de mim

Capítulo 6

Deixei as malas em casa e desci para pegar o carro, pedi para que o Daniel viesse comigo para apresentá-lo a minha família.
-Daniel, vou até a casa da minha mãe buscar a Dani, vamos comigo?
-Até a casa da sua mãe?
-É... Quero te apresentar para minha família...
-Sério?
-Sim, agora que eu sei que amo você...
-Nossa... Eu vou sim, quero muito conhecer a família do meu... Namorado.
-Do quê?
-Meu namorado. Falei algo de errado?
-Estou surpreso, pois você nunca me pediu em namoro.
-E precisa? Você ainda tem duvidas de que eu gosto demais de você?
-Não tenho mais.
Ele me puxou pela gola camisa, me abraçou e começou a me beijar com muitos afagos, carinhos e calor, aquele movimento que ele fazia de me puxar pra junto do seu corpo e afastar, me fazia tremer, era difícil resistir ao charme do Daniel. Depois de aproximadamente dez minutos de beijos e apertões, descemos para pegar o carro. Dessa vez eu fui dirigindo, meu braço já estava bem melhor. Era encantador o jeito que ele me olhava, me tratava, me tocava, comecei a reparar que já não pensava mais no Bruno, reparei que a ausência do Daniel já era notável, estar com ele me fazia sentir bem, sem ele era como se algo faltasse em mim, principalmente quando ele me olhava com aquele olhinho de cachorro abandonado, ai eu não resistia, acho que isso se chama amor.
-Não vejo a hora de voltar para a academia.
-Você não está em condições de pegar peso ainda, mas eu posso montar para você uma série e acompanho todos os dias seu desempenho.
-Hum... Vou adorar...
-Nossa... Eu gosto tanto de você que às vezes chega até a doer.
-Eu também!
-E se você me esquecer um dia?
-Não irei te esquecer, porque você é presente em minha vida e dela nunca mais vai sair.
-Você quer me fazer chorar?
-Veja...
Levei sua mão até meu coração, que palpitava só de ouvir sua voz.
-Nossa... Por que isso?
-Basta ouvir sua voz para ele ficar assim... Como posso esquecer de alguém se ele me lembra todo dia de você?
-Primeira vez que você se declara...
-E também é a primeira vez que eu digo que te amo!
Fiquei emocionado ao ver seus olhos cheios de lágrimas, na hora seu rosto se abriu uma luz, ele não conseguia conter sua alegria e começou a gritar pela janela, com metade do corpo pra fora, os carros passavam e buzinavam, eu tentava puxá-lo pra dentro outra vez, mas ele queria dizer a todo mundo sobre nosso amor...
-Se você soubesse o quanto eu sonhei em ouvir isso de você... Mas dizer que te amo eu já disse, agora preciso dizer a todo mundo... Bader... Te amo... Te amo...
-Pára com isso, você vai cair aí...
-Eu já caí de amor por você há muito tempo...
Ele abriu o teto solar do carro e ia subindo quando eu o puxei:
-Chega, você já gritou o quanto você quis, senta ai e põe o cinto antes que eu leve uma multa.
-Desculpa, amor!
Liguei o rádio e começou a tocar “Lá vem o alemão”, aumentei o rádio e começamos a cantar juntos, com os vidros abertos, os carros ao lado passavam por nós e dava pra ver que as pessoas gostavam e cantavam conosco, alguns buzinavam também, é incrível como existem coisas em nossas vidas que ficam marcadas para sempre, pode ser uma música, um perfume, uma peça de roupa, uma foto ou até mesmo uma data, o que importa é as boas lembranças que a vida nos trás e a saudade que ela deixa.
-Subiu a serra, me deixou no boqueirão, arrancou meu coração depois desapareceu...
-Fiquei na merda, nas areias do destino...
-Olha aquele carro ali...
-O que tem?
-Repara que eles estão cantando com a gente...
-É verdade...
Chegamos na casa da minha mãe, buzinei na porta e escutava a Dani latir sem parar, ela deve ter reconhecido meu cheiro, os cães tem esse sentido bem aguçado, incrível. Minha mãe abriu a porta e a Dani passou por baixo das pernas dela, pulando dentro do carro pela janela, a coitada até chorava de felicidade em me ver.
-Isso que é amor, hein...
-Estava com saudade do papai?
-Filho, ela olhava pra lua toda noite e ficava chorando...
-Ah mãe, é que eu falo sempre pra ela que se eu não estiver por perto é só olhar pra lua que eu me torno presente, a Dani é muito inteligente.
-Vamos entrar, filho...
-Mãe, deixa eu te apresentar o Daniel...
-Prazer, Daniel...
-Prazer, Vivian. Espero que você faça meu filho feliz e não o faça chorar como o de antes.
-Se depender de mim, as lágrimas que seu filho derramar serão somente de felicidade.
Pelo visto, o Daniel ia se dar muito bem com minha família, pois já estava se sentindo em casa, entramos para tomar um café e conversar um pouco, além de matar a saudade que eu estava de todos eles. Sentamos no sofá da sala, peguei na mão do Daniel e abracei a Dani, ele ficou um pouco envergonhado no começo, mas depois viu que meus pais viam com naturalidade e foi se soltando.
-Boa noite...
-Boa noite. Você que é o Daniel?
-Sim.
-Eu sou Felipe, pai do Bader.
-Prazer, senhor Felipe.
-Pode continuar sentado.
-Ok.
-O que você faz da vida?
-Eu sou Professor de Educação Física.
Nessa hora meu irmão Rodrigo chegou junto com a noiva dele, a Millena. O Rodrigo sempre teve bom gosto para suas namoradas, ta certo que cada mês era uma que ele arrumava, mas confesso que ele sempre soube escolher mulher. Ele e Millena já estavam namorando há 3 anos, e noivos há 2, só a Millena conseguiu segurar as rédeas do Rodrigo, o que deixou minha mãe feliz da vida. Ela era uma mulher muito simpática, cabelos acobreados todo repicado, fazia faculdade de fisioterapia, olhos verdes, muito inteligente, corpo muito bem cuidado, já morou fora do país, uma pessoa bonita em todos os sentidos.
-Boa noite... Bader, quanto tempo...
-Millena... Tudo bem? Beleza Rodrigo?
-Firmão cara...
-Bader me conte, como foi em Paris?
-Foi ótimo, Millena. Visitamos aquele restaurante que você sugeriu perto da Basílica, é maravilhoso, fomos também ao Moulin Rouge!
-É assim Rodrigo?
-Desculpa amor... Você sabe que só tenho olhos pra você...
-Depois conversamos sobre isso...
-Bem que você poderia dançar assim pra mim, né?
-Hahaha...
-E Varsalles, você foi conhecer?
-Mas é claro, simplesmente linda!
-Estava muito frio por lá?
-Estava razoável, eu adorei.
-Quando eu fui era verão, um calor insuportável, mas não perdeu o charme daquelas cidades lindas.
-Deixa eu te apresentar o Daniel... Amor, essa é a Millena, noiva do meu irmão.
-Prazer, Millena!
-Prazer, sou o Daniel!
-Você tem bom gosto, Bader. Parabéns.
-Valeu.
-Bader, temos uma novidade pra você...
-Qual?
-Eu e seu irmão já temos data marcada para o casamento.
-Que bacana, já estava na hora mesmo.
-Então... Pensamos em chamar você e o Daniel pra serem nossos padrinhos...
-Nós?
-É... Claro que terão mais, né.
-O que acontece é que a Millena adora o Bader e morreria se ele não fosse padrinho dela.
-Falou tudo, amor.
-Por mim, beleza.
-E então, Bader?
-Eu topo também.
Meu pai foi buscar um espumante na cozinha e trouxe para comemorarmos, procuramos não beber muito, pois ainda íamos pegar a estrada pra voltar. Enquanto todos brindavam, Daniel me levou até o canto e falou no meu ouvido:
-Muito legal sua família, gostaria que a minha fosse assim...
-Eles são uma comédia... Pode considerar sua também.
-Vamos brindar, eu e você?
-Pra quê?
-Brindar o nosso amor, quer motivo maior?
Começamos a nos beijar na sacada da sala, era noite de verão, na rua crianças brincavam, adultos conversavam, enquanto eu e Daniel nos beijávamos no escurinho. Sempre me achei um cara de sorte por ter a família que eu tinha, sempre me apoiando e me dando força quando precisava. Ficamos por mais uns quarenta minutos conversando na sala, meu pai e o Daniel já ficaram amigos, meu pai começou a contar sobre suas aventuras na Aeronáutica, e o Daniel também já serviu a Aeronáutica, parece que seu pai e meu pai serviram juntos, chegaram até a jogar bola no mesmo time de várzea, assunto era o que faltava entre os dois, mas já estava ficando tarde e tive que interromper:
-Pai, precisamos ir.
-Mas já?
-Dorme aqui, filho.
-Não mãe, quero a minha cama, minha casa.
-Ah que pena...
-Mas nós voltamos outro dia, ou vocês vão nos visitar em São Paulo...
-Mas eu vou sim Bader, pode deixar.
-Vou te esperar Millena.
Nos despedimos de todos, e viemos embora, só faltou o Pedro que havia ido acampar com uns amigos. Na volta pra casa, fomos conversando sobre o assunto de sermos padrinhos do casamento, de início eu fiquei surpreso, mas depois passei a amar a idéia, já o Daniel ficou empolgadíssimo.
-Adorei ter conhecido sua família...
-Pelo que vi, eles te adoraram também.
-O que me deixou feliz foi ver que eles aceitam nosso relacionamento com muita naturalidade.
-Desde adolescente meus pais sabem sobre mim, nunca me trataram diferente dos outros irmãos, eles são pessoas livres de preconceito. Quando contei para minha mãe que era homossexual, ela estava costurando uma camisa minha antes de eu ir pra escola, aquele segredo já estava me sufocando e cheguei pra ela já desabafando, contei que era gay e ela perguntou: E...? Claro que estranhei, aí ela me sentou na cadeira da cozinha, olhou nos meus olhos e disse: Homossexual não ama? Não respira? Não chora? Não sofre? Onde está a diferença? Você saiu daqui de dentro, eu sofri pra ter você, passei nove meses esperando pra ver sua carinha, ouvir seu choro, esperei um ano pra ouvir você dizer “mamãe”, passava noites em claro cuidando das suas cólicas... Acha mesmo que eu seria capaz de deixar de amá-lo por isso?
-Nossa... Sua mãe é demais, pena que a minha não é assim.
-O lado homossexual que é mostrado por aí não condiz com nossa realidade, ser homossexual não quer dizer que eu vá querer me vestir de mulher, usar batom, colocar peito, não é isso...
-É verdade.
-Nós somos homens comuns, iguais a outros homens, somente temos preferência por homens, mas nada interfere em nossa personalidade ou capacidade de sermos o que somos.
-É, eu sei muito bem como é, também pensava assim. A visão quando se está dentro é bem diferente da que vemos de fora. Mas eu não gosto de homens, gosto só de você...
Parados na rua do condomínio do Daniel demos um longo beijo, nos despedimos e depois segui para minha casa, cansado e com fome. Ao chegar em casa a Dani foi cheirar todos os cantos, coloquei as coisas dela em um dos quartos e fui desfazer minhas malas, tirei todas as roupas e coloquei sobre a cama, depois fui tomar um banho com os cosméticos que trouxe da França, hum... Cada coisa boa... Após o banho, fiz uma salada de alface americana com tomate e um suco de abacaxi. Peguei o prato e o copo, fui jantar na sala de frente para a TV, quando entrei na sala comecei a sentir frio, o mais estranho era que a noite estava quente, nem havia dado tempo de abrir as janelas ainda, levei a mão à testa e notei que estava com febre, tomei um remédio para baixar a febre e fui jantar. Depois de jantar, fui até a cozinha e coloquei a louça dentro da lavadora, deixei-a se encarregando da lavagem enquanto fui escovar os dentes, depois vesti uma cueca samba canção e fui ver TV, fiquei deitado na sala assistindo um documentário até o telefone tocar:
-Alô?
-Alô, Bader...
-Oi Dani...
-Não me chame de Dani, se não vou pensar que está falando com a cachorra...
-Hahaha... Desculpa amor...
-O que você está fazendo ai de bom?
-Eu jantei há pouco tempo e fiquei aqui vendo um pouco de TV.
-Você está com a voz um pouco rouca...
-Eu não sei o que está acontecendo, do nada fiquei com febre, agora estou ficando rouco.
-Deve ser a diferença de temperatura, lá estava tão friozinho...
-Deve ser, e você o que estava fazendo?
-Eu estava passando pro computador as fotos que tiramos, ficaram lindas.
-As que tirei com minha máquina eu passo amanhã, não vou trabalhar mesmo...
-Pode deixar que depois eu te mando em CD, me acabei de rir com o vídeo que gravamos em Versalles...
-Hahaha... Deve ter ficado engraçado.
-Ficou demais, amanhã eu vou até ai para supervisionar seus exercícios.
-Hum... Vou esperar ansiosamente...
-Nos vemos amanhã então.
-Beijão.
-Te amo.
-"Moi aussi."
Depois de desligar o telefone, desliguei a TV e fui dormir, acabei dormindo em outro quarto, porque as roupas da viagem estavam todas sobre minha cama e acabei ficando com preguiça de tirar. Durante a noite inteira eu passei mal, tive febre outra vez, levantei para ir ao banheiro e estava mais uma vez com diarréia, senti fraqueza ao levantar da cama, me olhei no espelho e me achei um pouco abatido, quando ia me deitando outra vez comecei a sentir ânsia de vômito, corri para o banheiro, ajoelhei próximo ao vaso e tentei vomitar, mas não consegui, era uma sensação horrível, meu corpo estava dolorido, um mal estar vinha me consumindo cada vez mais, a febre não baixava, troquei de roupa, desci até a garagem e peguei o carro para ir a uma farmácia 24 horas comprar outro remédio para febre e um para diarréia. Só não entendi o por que disso tão de repente, será que eu comi alguma coisa que me fez mal? Mas o Daniel e eu comemos a mesma coisa e só em mim deu problema, o melhor a fazer era ir ao médico mesmo.