sexta-feira, 29 de junho de 2007

Capítulo 5 Um estranho dentro de mim

Capítulo 5

Chegou o dia que iríamos viajar, decidimos ir para a França, apesar de que eu queria também conhecer o Egito, mas resolvemos ir em uma outra oportunidade. O vôo estava marcado para as 22:00, eu preferi marcar para vôo noturno porque a gente vai dormindo e quando acorda já chegou, eu sei que dormir em avião é muito desconfortável, mas pelo menos esperamos o tempo passar sem vê-lo passar. Na parte da manhã fui até Campinas deixar a Dani na casa da minha mãe, ela cuidaria do meu “bebê” até eu voltar, pensei em deixá-la em um hotel pra cachorros, mas fiquei com receio dela ficar doente, pois ela era muito apegada a mim, já estando com minha mãe ela se distraia com a família, e também seria uma viagem curta, apenas dez dias. Voltando da casa da minha mãe, eu fui até a loja de roupas de inverno comprar algumas peças, pois na época em que fomos viajar na Europa era inverno e as roupas que eu tinha nem sei se me serviam mais, também fazia tanto tempo que eu não saia do país...
Depois das compras fui pra casa preparar minhas malas, aproveitei e deixei uma mala vazia, para trazer um monte de lembrancinhas da França para os amigos e família, claro que pra mim também, sempre fui fã de perfumes e lá eu estaria na “nascente”. Quando eram aproximadamente 19h o Daniel tocou a campainha, cheio de malas também, ele deve ter colocado até roupa de esquiar dentro da mala, tamanho era o volume que aquelas três malas faziam.
-Nossa...
-O que foi?
-Não acha que tem malas demais?
-Você disse que lá vai estar frio...
-Sim, mas também não vamos esquiar pela “Rue de la République”, não terá montanhas de neve pelas calçadas, nós só vamos à Paris e não à Bariloche... Deixe esse esqui aqui em casa...
-Tudo bem, da próxima vez avisa...
-Desculpe! Agora vamos...
-Calma... E o meu beijo?
-Hum...
Chamamos um táxi para nos levar até o aeroporto, deu um trabalho enorme pra colocar aquele monte de malas dentro do carro, tivemos que deixar uma mala do Daniel em casa, ele não gostou muito da idéia no começo, mas depois concordou, mas também pra que levar uma mala só com sapatos? Ficamos na sala vip até a hora do embarque, tiramos algumas fotos, olhamos o mapa do local onde estariam os guias para não nos perdermos, e também um mapa de Paris.
No avião pedi para sentar na janela, Daniel se levantou e trocou de lugar comigo, atrás de nós havia uma mulher com as outras duas poltronas vagas, pelo que deu a entender ela comprou os três lugares só pra ela, na poltrona da frente havia um casal com uma criança, que deveria ser uma pestinha, pois queria furar a poltrona do avião com um palito de sorvete, o pior de tudo era que os pais não falavam nada, a comissária teve que intervir, os pais da criança não gostaram muito, mas deram um puxão de orelha no moleque e ele ficou quieto, ainda bem que ao nosso lado ficou uma poltrona vazia, eu e Daniel pudemos viajar mais à vontade. Quando o avião decolou, ele segurou na minha mão e disse olhando nos meus olhos:
-Está com medo?
-Não, e você?
-Um pouco, se eu disser que te amo agora, você acredita?
-Você está quase me convencendo.
-Vamos ver se com esse beijo eu te convenço...
Ele pegou na minha cabeça com sua mão esquerda e trouxe minha boca para junto da dele, acariciando meus lábios com os seus, suavemente, depois notei que as pessoas no avião nos olhavam um pouco assustadas, mas até então nem estávamos preocupados.
O que era para ser apenas 10 dias, acabou virando 20 dias. Quando chegamos no aeroporto de Paris, o Daniel não entendia o que os avisos diziam, mas como eu sabia falar francês fluente, pra mim não foi difícil achar o hotel e os guias. Chegamos no hotel, pegamos a chave do quarto e fomos conhecê-lo, haviam duas camas de solteiro, a decoração era estilo clássico, de bom gosto e muito charmosa. Colocamos as malas sobre as camas, começamos a tirar as roupas de dentro e arrumá-las nos armários.
-Ai que frio...
-Frio bom pra namorar...
-Ficar agarradinho...
Estava muito frio, a paisagem vista da janela nos enchia os olhos, aqueles jardins de folhas secas no chão formando um tapete natural, parecia um bolo “floresta negra”, haviam poucos carros na rua, bem tranqüilo o lugar.
Depois de arrumar tudo em nosso quarto, fomos passear pela cidade, andando pelas calçadas de Paris paramos em um café, comemos um delicioso croissant acompanhado de um chocolate bem quentinho. Quando batia aquele vento gelado o Daniel me abraçava, era muito bom.
-“Bonjour”!
-“Bonjour! S’il vous plaît, un chocolat et un croissant”.
-“Oui. Et vous monsieur”?
-“Diz pra ele que vou querer o mesmo que você”.
-“Aussi”.
-“Voilà”.
O garçom foi buscar nosso pedido, reparei que na mesa ao nosso lado tinha um casal de gays que se beijavam com a maior naturalidade, era um casal jovem, deveriam ter a faixa de idade que eu e o Daniel tínhamos, eram muito bonitos os rapazes, às vezes algumas pessoas olhavam disfarçadamente para os dois com uns olhares meio tortos, mas nenhuma reação homofóbica foi presenciada por nós.
-O que você tanto olha para aqueles dois?
-Nada...
-Como nada? Você não tira o olho...
-Eu estou surpreso com a atitude deles de beijar em publico e das pessoas em volta que tratam com naturalidade...
-E o que tem haver beijar em público? Se for o caso fazemos também.
Ele me puxou pra junto dele e começou a me beijar, o Daniel tinha suas loucuras que me assustavam, mas tinha umas que me deixava sem fôlego, claro que tudo que vinha dele eu adorava, quando a gente gosta de alguém temos que aprender a gostar das qualidades e defeitos, e eu gostava dele por completo.
-Você sabe que eu não me sinto bem...
-Mas o que tem de errado?
-Eu sei que não tem nada de errado, mas tem pessoas que se assustam, pois não estão acostumadas...
-Tudo bem, nós paramos então.
-Mesmo assim eu continuo gostando de você...
-Por que você não me deixa te fazer feliz?
-Não entendi.
-Você parece ter medo de se entregar...
-Mas é claro, você vem de um mundo diferente do meu, talvez amanhã você acorde e vê que não é isso que quer pra sua vida...
-Eu sei o que eu quero pra minha vida, se eu decidi ficar com você é porque tenho certeza do que eu quero...
-Tudo bem, discutimos isso depois.
-Ta bom.
Depois do nosso lanche, fomos dar uma volta no parque, começamos a correr entre as arvores, até que o Daniel conseguiu me pegar, mas acabamos tropeçando no banco e caímos sobre as folhas secas no chão, meu corpo ficou sobre o dele, cara a cara, demos muita risada, quase sem fôlego, até rolar um beijo, ele foi me abraçando com seus braços fortes e ficamos ali trocando carinhos, ao som dos pássaros, foi muito bom. À noite fomos passear pelas ruas da “Cidade luz”, Paris à noite é linda, charmosa, pegamos o metrô na estação central e ficamos passeando até ficarmos perdidos, olhei naquele mapa cheio de linhas que nos confundia, ouvimos o anuncio de que a operação estaria se encerrando em 15 minutos, corremos para pegar o ultimo metrô para a estação central, por pouco não o perdemos, pois já estavam fechando as portas.
Saímos da estação central morrendo de rir, tirei uma foto pelo celular do Daniel tropeçando na calçada, acho que as pessoas nos achavam loucos, mas éramos dois loucos felizes e que se amavam. Voltamos para o hotel de madrugada, fomos tomar um banho bem quente juntinhos, achei a água um pouco estranha, sem contar que é muito cara, tivemos que tomar banho bem rápido. Depois do banho juntamos as duas camas de solteiro e dormimos como um casal, bem agarradinhos.
Para o Daniel tudo era novidade, eu era o primeiro homem que ele havia ficado, até então ele sabia lidar com mulheres e não com homens. Naquela noite ele olhou para mim, tocou em meu rosto e olhando nos meus olhos ele disse:
-É estranho...
-O que é estranho?
-Eu amar um homem.
-Ainda dá tempo de se arrepender e voltar atrás.
-Nunca, é de você que eu gosto, é com você que quero ficar, é pelo seu amor que quero lutar.
-Nossa... Nunca recebi uma declaração dessa...
-Se você me permitir te amar, te farei uma pessoa muito feliz...
-É...?
-Sim...
-E a mina que você estava ficando?
-Nunca mais a vi.
Começamos a nos beijar, ele era um cara muito carinhoso, meigo, mexia comigo dia após dia, fizemos amor à madrugada toda, em Paris, foi algo mágico, inesquecível, nossos corpos suando de frio e calor ao mesmo tempo, nosso suor misturado nos fazia deslizar um sobre o corpo do outro, meu cabelo estava já molhado, o dele também, tamanha era a intensidade do nosso desejo. Tremendo de frio ele deu um beijo na minha testa, encostou sua cabeça sobre meu peito e me abraçou.
-Está com frio?
-Um pouco, mas vai passar.
-Deita aqui que te esquento.
Dormi no céu e acordei no paraíso, lá fora chovia um pouco, uma garoa chata, um ótimo pretexto para ficar dentro do quarto o dia todo abraçadinhos, deitados trocando carinhos, fazendo amor. Aquela garoa durou dois dias, ficamos os dois dias dentro do quarto namorando, abraçadinhos, dormindo com aquele friozinho.
No décimo dia fomos para Carcassonne, ficamos na estação aguardando a partida do TGV que é um trem bem veloz na França, dependendo do lugar a viagem sai mais cara que ir de avião. Sentados na estação ficamos aguardando o anuncio, o Daniel não entendia nada, ficou todo confuso:

“Correspondance pour Carcassonne”
“départ 11h29, quai nº 4, voie B.”

-Mas o que ele está falando?
-Ele disse que o trem que parte para Carcassonne vai partir às 11h29, na plataforma 4, via B.
-Nossa...
-Hahaha...
-Pára de rir, eu só sei falar inglês...
-Mas eu não to rindo de você.
-Do que você está rindo?
-Da careta que você fez...
Dentro do trem tive que fechar a cortina, pois ele andava tão rápido que quando passava outro ao lado nos dava vários sustos e me deixava um pouco tonto, mas as paisagens eram lindas.
A cada dia que passava eu gostava mais do Daniel, seu jeito me cativava, sua alegria me contagiava, seu brilho nos olhos me faziam acreditar que seu sentimento era verdadeiro, ele tinha uma sensualidade inexplicável, uma magia dentro de si. Meu medo era a hora que ele não me quisesse mais, o melhor a fazer era não criar expectativas, o difícil era por em pratica, eu estava começando a gostar dele de verdade, já nem lembrava mais do Bruno, ao lado do Daniel eu me sentia seguro, mesmo assim não ia me entregar por completo e correr o risco de me machucar depois.
No décimo quinto dia fomos conhecer o Chateau de Versailles, Louis XIII em 1623, construiu em Versailles uma morada para sua residência em tempo de caça, Louis XIV, seu filho, conhecido como “Rei Sol”, aproveitou essa construção e mandou erigir um dos mais lindos palácios existentes até hoje na Europa, com seus jardins e edifícios, o famoso salão dos espelhos, os luxuosos quartos do rei e da rainha, era tanta beleza que chegava até a doer os olhos. Graças à sua dupla vocação, residência real e Museu da história da França, possui inúmeras obras de arte, uma mais linda que a outra, pena que não podemos tirar fotos. O lugar teve sua inscrição na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO em 1979. Eu e Daniel ficamos babando na beleza daquele lugar, aproveitei a oportunidade e caminhei, corri pelos corredores verdes da vegetação que cercava aqueles lindos jardins, tiramos fotos, filmamos o lugar, foi engraçado em uma hora que o Daniel foi segurando a câmera e eu fui fingindo que era o rei Louis XIV, desfilando pelo corredor de nariz empinado. Naquele dia brincamos bastante, foi tudo muito divertido, eu caminhando na ponta dos pés com o nariz empinado, as imagens saíram um pouco tremidas, pois o Daniel se matava de rir.
-Do que você está rindo?
-Nada majestade...
-Quer ir para o calabouço?
-Não, não...
Depois fomos ao Museu do Louvre, um dos mais importantes museus do mundo. Tivemos que ir com um mapa nas mãos, fomos visitando as obras expostas lá, para conhecer tudo seria necessário pelo menos 1 semana lá dentro, tamanha era a grandiosidade do lugar e quantidade de obras. Construído em 1190 como um forte, foi reconstruído em 1360 para ser um Palácio Real. Durante 4 séculos, com Reis e Imperadores, sofreu acréscimos e construções tendo sido transformado em Museu, em 1793. O acervo está dividido em 7 departamentos por período: Antiguidades orientais, gregas, romanas, egípcias e etruscas, pinturas, esculturas, objetos d'art da Idade Média até 1850, impressões e desenhos. Eu fiquei maravilhado com a parte egípcia, pois adoro essa mitologia de faraós, aquelas múmias originais na minha frente me fizeram tremer de emoção e medo ao mesmo tempo. A coleção de tesouros do Museu começou com Francisco I que adquiriu muitos quadros italianos, inclusive a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. No Louvre também está a Vênus de Milo, que data de século 2 a.C. São 8kms de galerias com milhares de trabalhos expostos, claro que eu e o Daniel não conseguimos ver tudo, mas valeu a pena ver o que vimos. A nova entrada do Louvre é uma pirâmide de vidro, de autoria de um arquiteto sino-americano, inaugurada em 1989.
Depois de algumas compras e um almoço próximo à Basílica, descemos uma ladeira e chegamos ao Moulin Rouge, o bordel mais famoso do mundo, sempre tive curiosidade sobre a historia que contavam sobre esse lugar, finalmente pude conhecer o local. Assistimos o famoso show com 60 dançarinas, mil fantasias e "French Can Can". A célebre dança parisiense nasceu neste local, que também foi imortalizado por Toulouse Lautrec, no quadro "Bal du Moulin Rouge".
-Essas dançarinas não dançavam sem calcinha?
-Não acredito que você vai ficar reparando se elas usam calcinha ou não...
-Desculpa amor, foi só um comentário bobo.
-Ta bom, Daniel.
Na volta para o hotel acabei me perdendo do Daniel, com medo de me perder pela cidade resolvi voltar para o hotel e esperá-lo por lá, quando cheguei na recepção a recepcionista me parou para entregar algo:
-“Pardon monsieur, une chose pour vous”
-“Pour moi?”
-“Oui.”
-“Qu’est-ce?”
- “Je ne sais pas”.
-“Voilà. Merci beaucoup.”
-“De rien.”
Peguei o embrulho que esperava por mim na recepção, deixei para abrir no quarto do hotel, quando eu estava subindo as escadas comecei a sentir cólicas, aconteceu de repente, de uma hora pra outra comecei a ter diarréia, deveria ser alguma coisa que eu havia comido estragada, nem dei muita importância. Após sair do “toillete” fui abrir o pacote que recebi, era um coração vermelho de pelúcia, com o perfume do Daniel, no meio estava escrito “Je t’aime”, que significa “Te amo” em francês. Não demorou muito e o Daniel chegou, com um botão de rosa nas mãos.
-Gostou da surpresa?
-E tem como não gostar das suas surpresas?
-Comprei isso aqui pra você guardar como recordação.
-Obrigado.
No dia de voltarmos ao Brasil, quase perdemos o avião, a culpa foi do Daniel que inventou de pegar um ônibus até o aeroporto e mais uma vez ficamos perdidos. Fomos os últimos a embarcar, dessa vez ele ficou na janela e eu no corredor. Já era noite e todos no avião já dormiam, inclusive o Daniel, sem despertar muita atenção das pessoas me levantei e fui até o banheiro, não estava conseguindo dormir, lavei o rosto, enxuguei as mãos no papel e quando ia saindo levei um susto, ao destravar a porta o Daniel já foi me empurrando com tudo pra dentro do banheiro, travou a porta e começou a me beijar.
-Eu sempre tive vontade de fazer amor no banheiro de avião...
-Mas...
-Vou me realizar com você...
Ele me fazia perder o juízo, eu ficava fora de mim quando ele vinha com aquela carinha de cachorro abandonado, bati 2 vezes a cabeça na parede tamanha era à força de suas pegadas, ele me beijava como se não me visse ha anos, em menos de 5 minutos o Daniel já havia tirado minha roupa e a dele também, começamos a pingar de suor, o ar condicionado não estava dando conta, transamos no canto da pia, naquele banheiro apertadinho, não podíamos gritar nem fazer muito barulho para não acordar os passageiros, nossos gemidos eram bem baixinhos, um seguido do outro, em ritmo lento e acelerado, ficamos em média meia hora fazendo amor, sexo, sacanagem. Muito tesão, desejo, era uma mistura de sentimentos que me deixava louco, eu adorava essas fantasias muito malucas que ele tinha, era divertido e ao mesmo tempo dava muito tesão, a adrenalina subia a mil. Deixamos o banheiro do avião discretamente, sem que fossemos notados voltamos para nossas poltronas e tentamos dormir, suados, ofegantes, exalando sexo.
Eu e Daniel achamos em geral, as pessoas em Paris, um pouco mal educadas, andam rápido e se fosse preciso passavam por cima da gente. Não me senti seguro andando em Paris, não sei por que, mas em várias situações nos pegamos sendo observados por pessoas estranhas, principalmente dentro de trens e metrôs. Incrível, mas foi um dos lugares onde me senti mais inseguro. Paris é uma cidade muito cara, fiquei impressionado, mas também pudera, Paris é Paris.
Ao desembarcarmos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, chamamos um táxi, Daniel preferiu me acompanhar até em casa, eu estava ansioso, parecia que nunca chegávamos, não via a hora de rever minha “bebê”, ver minha mãe, meu pai... Quando chegamos em casa fui logo telefonar para minha mãe:
-Alô?
-Alô... Mãe?
-Oi meu filho, como você está?
-To bem, mãe! Acabei de voltar, como está minha “bebê”?
-Está aqui do meu lado.
-Põe o telefone no ouvido dela?
-Dani... Dani...
Minha mãe colocou o telefone na orelha dela e comecei a chamar seu nome, ela reconheceu minha voz e começou a latir sem parar.
-Filho, ela chorou todas as noites olhando pela janela...
-Eu vou buscá-la hoje, mãe. Meu braço já está curado e eu já posso dirigir.
-Ta bom meu filho, vou arrumar todas as coisinhas dela na malinha.
-Ok mãe, beijo.
-Outro!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Capítulo 4 - Um estranho dentro de mim

Capítulo 4

-Vou pegar uma roupa pra você vestir e depois vamos dormir... Pegue...
-Não vou vestir... Eu só consigo dormir pelado.
-Você quem sabe. Vou dormir no outro quarto, tenha uma boa noite.
Apaguei a luz do quarto, peguei um travesseiro e fui dormir em outro quarto. Não vou dizer que consegui dormir, pois mal preguei o olho, fiquei revirando na cama, pensando naquele beijo, naquele corpo, não sei o que deu nele para me agarrar e muito menos em mim de permitir, só consegui adormecer quando o dia estava clareando.
Fui acordado com o telefone tocando, era minha mãe querendo saber como eu estava, disse pra ela que a recuperação do acidente estava correndo bem, seguindo as orientações médicas, pelo seu suspiro ela parecia bem mais aliviada, falamos um pouco no telefone e depois desliguei, fui até o quarto onde o Daniel dormia, abri a porta cuidadosamente para não acordá-lo, sentei na beirada da cama e fiquei velando seu sono, tão tranqüilo... Não demorou muito e ele acordou.
-Nossa...
-O que foi?
-O que estou fazendo aqui? Por que estou sem roupa?
-Você bebeu demais ontem e ultrapassou dos limites...
-Sério? Fiz você pagar mico? Abusei da sua paciência?
-Você não se lembra de nada?
-Não.
-Nada mesmo?
-Nada...
-Você não estava em condições ontem de dar um passo sozinho, tive que trazer você pra cá, até banho eu te dei pra tentar passar um pouco a bebedeira.
-Caramba... Desculpa.
-Não se preocupe, vamos esquecer tudo. Agora eu vou colocar sua roupa para lavar e depois coloco na secadora. Em 2 horas fica prontinha para você vestir.
-Beleza.
Fui até o banheiro e peguei sua roupa de dentro da pia, levei até a lavanderia e coloquei as roupas dentro da máquina de lavar, deixei as roupas lavando e fui até a cozinha preparar o café, deixei a cafeteira preparando e fui até o quarto.
-Bom, já coloquei sua roupa para lavar e estou fazendo um café.
-Mas você não tinha feito café ontem?
-Mas café amanhecido é horrível...
-É... Posso tomar um banho?
-Claro, o banheiro é bem ali...
-Valeu.
Enquanto ele foi tomar banho eu fui pegar uma toalha, deixei no banheiro e fui até a cozinha arrumar a mesa para o café da manhã, coloquei um monte de coisas gostosas, tudo que eu costumava comer diariamente. Achei estranho ele ter citado o café da noite anterior, como ele sabia que eu havia feito café? Já que ele parecia não se lembrar de nada... Daniel terminou seu banho e foi até a cozinha onde eu estava, com a toalha enrolada na cintura e o corpo molhadinho, era inevitável não olhar, fiquei desconsertado, parecia que fazia de propósito só pra me provocar, ele pegou uma maçã da cesta de frutas, encostou-se ao batente da porta e começou a me fazer perguntas.
-Está cheiroso seu café...
-Obrigado.
-Porque você não abre o jogo?
-Que jogo?
-Sobre ontem.
-Mas eu já contei sobre sua bebedeira...
-Eu perguntei o que tinha acontecido nessa madrugada, queria saber T-U-D-O, entendeu?
-Não, onde você quer chegar?
-Por que você não falou sobre o beijo de ontem?
Nessa hora eu queimei meu dedo com o bule de café, Daniel colocou a maçã sobre a pia e veio olhar meu dedo preocupado, ele era tão cuidadoso...
-Ai...
-O que foi?
-Queimei meu dedo com o café...
-Deixa-me ver... Não foi nada, quer um beijinho pra sarar?
Ele segurava meu dedo quando eu recuei a mão.
-O que você quer?
-Por que você não me falou do nosso beijo?
-Qual beijo?
Peguei os copos e fui para a sala colocar na mesa, Daniel pegou as xícaras e veio relembrando a madrugada.
-Aquele beijo que eu te dei...
-Mas você disse que...
-Eu menti. Lembro de tudo que aconteceu, só fingi que não lembrava para ver se você seria corajoso para me contar a verdade.
-O que você queria? Que eu chegasse em você e dissesse: “Daniel, você me beijou ontem”.
-E por que, não?
-Porque você não é gay, há alguns dias atrás você tinha uma namorada, e para um cara como você não deve ser fácil conviver com um homossexual. Tem também o fato de você poder achar que eu abusei de você por estar bêbado...
-Mas se fui eu que te beijei...
-Sim, foi você, mas você poderia muito bem dizer que eu me aproveitei da situação... Olha Daniel, acho melhor esquecer tudo isso e mudarmos de assunto, se não vamos acabar brigando.
-Eu namorava garota, sempre tive tesão por seios, marca de biquíni, jogar meu futebol com os amigos...
-Eu não estou interessado em saber da sua virilidade...
-Tudo bem, eu só queria dizer que ontem eu senti atração por você...
Engasguei com o suco quando ele falou aquilo.
-Como assim?
-É difícil pra eu ter que assumir isso, mas não sei o que me deu ontem que senti vontade de beijar você...
-Eu sei o que te deu, você estava bêbado.
-Não é isso...
Ele se levantou da cadeira, foi até onde eu estava, ajoelhou ao meu lado, pegou na minha mão e continuou a falar.
-O seu beijo foi diferente... Foi gostoso... Pela primeira vez eu beijei alguém sem primeiro sentir uma atração sexual...
-E você está querendo me convencer que...
-Não quero te convencer de nada, só quero que você saiba que eu gostei, que o fato de ter gostado de beijar você não quer dizer que eu vá me interessar por homens.
-E eu sou o que?

-Você é homem, mas é 1 homem, e eu senti vontade de beijar só você, não é porque eu beijei você que vou sair por ai agora beijando um monte de caras, é o seu beijo que eu gostei, é do seu beijo que eu provei.
-O que você quer que eu diga?
-Não diga nada, apenas me beije.
Ele tocou meu rosto com os dedos por trás da minha orelha, com a outra mão ele segurava minha cintura, seguido de um carinho gostoso e intercalado com uns apertões, não foi um simples beijo, foi mais que um beijo, sem palavras para explicar, nos levantamos e encostamos corpo com corpo, Daniel me colocou contra a parede e seu corpo me imobilizava, ficamos ali nos beijando por um longo tempo, aquela língua safada me fazia perder o juízo quando passava no meu pescoço, aqueles sussurros no meu ouvido me faziam estremecer...
-Acho melhor pararmos por aqui...
-Mas está tão bom...
-O café vai esfriar, preciso colocar sua roupa dentro da secadora também...
-Ok, vamos terminar o café.
-Eu vou colocar sua roupa pra secar.
-Está bem.
Fui colocar suas roupas na secadora, depois voltei e tomamos café juntos, conversamos sobre futebol, sobre baladas, e muitas outras coisas. Fiquei confuso com o fato dele ter gostado do meu beijo, mas ao mesmo tempo eu adorei a idéia, pois também havia adorado o beijo dele.
Depois do café ele vestiu suas roupas e nos despedimos com um longo beijo, fechei a porta e fiquei com medo que ele se arrependesse mais tarde, afinal, antes de me beijar ele só ficava com mulher. Aproveitei o domingo para arrumar o guarda-roupa, tirar umas roupas que já não usava mais e doar para quem precisava. Quando eu era criança, minha mãe sempre nos ensinou que devemos ajudar aos necessitados, eu ia com ela e meus irmãos em orfanatos e doava nossos brinquedos que não usávamos mais, era uma satisfação para nós vermos o brilho nos olhos daquelas crianças ganhando um brinquedo, eram usados, mas não importava.
Na segunda feira acordei com a campainha tocando, eu odiava ser acordado com barulho, me deixava de mau humor, levantei, vesti meu roupão e fui atender a porta querendo socar o infeliz que me acordava, era o porteiro com uma linda cesta na mão.
-Bom dia seu Bader!
-Fala.
-Deixaram isso pro senhor hoje cedo lá na portaria.
-Obrigado.
Fechei a porta e coloquei a cesta sobre a mesa, nunca recebi nada assim e nem fazia idéia de quem havia mandado. Abri o cartão que tinha preso na alça, tinha um perfume familiar naquele envelope.

“Bom dia!

Dormiu bem? Como está o braço? Não consegui dormir muito bem essa noite, fiquei pensando em você, no seu cheiro, na sua boca.

Logo irei para a academia, depois te ligo.


Daniel”


Fiquei encantado com essa atitude, ninguém nunca me tratou assim, peguei a cesta e levei para a mesa da cozinha, não conseguia parar de cheirar aquele bilhete perfumado, parecia proposital. Fui tomar um banho, depois do banho fui fazer meu almoço, na verdade eu fui descongelar a comida, porque eu costumava fazer toda a comida no começo da semana e distribuir em pequenas quantidades, depois colocava no freezer e tirava quando fosse comer. Tirei do freezer uma porção de batata, feijão e frango assado, coloquei o feijão e o frango no microondas, comecei a fritar as batatas e cozinhar o arroz, quando eu estava virando as batatas meu telefone tocou, baixei o fogo e fui atender:
-Alô?
-Alô! Bader?
-Sim...
-É o Daniel, você está bem?
-Com aquela cesta que recebi hoje pela manhã, não poderia estar ruim...
-Que bom que você gostou. O que você está fazendo?
-Preparando meu almoço, você já almoçou?
-Ainda não, acabei de sair da academia, vou passar na praça de alimentação do shopping e comer alguma coisa...
-Vem almoçar comigo?
-Hummm... O que vai ter de bom para o almoço?
-Feijão, arroz, frango assado, batata frita e salada de agrião.
-Que delicia! Vou levar a sobremesa então.
-Vou te aguardar ansiosamente.
-Em um piscar de olhos estarei aí.
-Beijo.
-Outro.
Desliguei o telefone e fui correndo virar as batatas no fogo, sorte que elas não tinham queimado ainda, o arroz estava quase pronto, e a Dani não parava de pular na minha perna querendo comer.
-Calma bebê, o papai já vai te dar comida.
Coloquei um pouco de ração no pote dela, comecei a lavar a salada quando o interfone tocou.
-Diga...
-O senhor Daniel está na portaria.
-Pode deixar subir.
Tratei de ir arrumar a mesa rapidinho, enfeitei com algumas flores e frutas, logo a campainha tocou, eu morava no 19º andar, mas o elevador do prédio era bem rápido. Quando ouvi a campainha tocando meu coração disparou, eu não sabia o que fazer na hora, a campainha tocou mais uma vez, respirei fundo e fui abrir a porta.
-Oooooi.
-Oi Daniel.
Nos cumprimentamos com um beijo e um abraço.
-Não via a hora de te encontrar outra vez...
-Eu também mal podia esperar.
-Vontade de sentir seu cheiro... Sua pele... Seu beijo...
Começamos a nos beijar e a Dani começou a latir, ficamos nos beijando por quase 5 minutos...
-Fica quieta, Dani.
-Deixa ela... Continue me beijando...
Quando íamos dar outro beijo o microondas apitou, fui até a cozinha retirar a comida:
-O microondas...
-Vamos que eu te ajudo, não é bom você pegar peso com o braço machucado se não os pontos podem abrir...
-Tira essa vasilha aqui... Você não se importa de comer comida congelada?
-Estando perto de você, eu comeria até cachorro quente na esquina.
-Desculpa, é que não tenho tempo de cozinhar todo dia, então deixo tudo prontinho, só aquecer e comer.
-Por falar em aquecer, o sorvete que eu trouxe deve estar derretendo lá na sala...
-Meu Deus... Vou buscar...
Fui até a sala buscar o pote de sorvete, quando peguei o pote, o Daniel me abraçou por trás e começou a morder meu pescoço, na hora eu me assustei, deixando cair o sorvete.
-Ai que susto...
-Desculpa gato... Olha só a sujeira que fez...
-A sujeira é o de menos, deixe ai que depois eu limpo, vamos almoçar se não a comida esfria.
-Vamos.
Almoçamos e conversamos por um longo tempo, sua companhia era muito agradável, ele tinha assunto pra tudo, uma pessoa muito inteligente, a cada palavra sua eu ficava mais apaixonado, era um sentimento puro, inocente, sincero.
-Você vai ficar em casa por quantos dias ainda?
-Acho que mais um mês e meio.
-O que acha de fazermos uma viagem?
-Pra onde você me levaria?
-Japão!
-Já conheço.
-Sério?
-Sim, fui a trabalho uma vez e morei por 2 meses lá.
-Você já conhece a França?
-Ainda não.
-Eu também não, o que acha de irmos conhecer?
-Podemos conversar sobre isso depois, você está de carro?
-Estou sim!
-Você pode me dar uma carona? Pra voltar eu me viro...
-E você acha que eu vou te deixar lá sozinho? Te levo e trago até em casa.
Depois do almoço fomos até meu trabalho levar uns projetos, o Daniel me esperava no carro, até queria levá-lo para conhecer o pessoal que trabalhava comigo, mas ele não encontrou vaga para estacionar o carro.
Duas semanas se passaram, eu e Daniel nos falávamos todos os dias por telefone, algumas vezes ele passava em casa no finalzinho da tarde para ver como eu estava, e foi em uma tarde dessas que quase morri de medo ao sair com ele.
Havíamos marcado de ir ao cinema em uma sexta feira à noite, à tarde ele me ligou e pediu para eu me aprontar que iria passar em minha casa para me buscar, antes do cinema tínhamos programado um jantar. À noite me arrumei, fiquei todo bonito pra ele, não demorou muito e ele ligou dizendo que já estava pegando o elevador, meu coração palpitava só de ouvir sua voz, apaguei as luzes do apartamento, fechei as portas e fiquei na sala esperando ele chegar para sairmos. A campainha tocou, fui abrir a porta e ele já entrou me agarrando, mal deu para respirar, ele sempre me tirava o fôlego, ficamos nos beijando por uns dez minutos, com ele eu perdia os sentidos, às vezes nem conseguia pensar, tamanha era o impacto que ele causava com sua presença, confundindo todos meus sentidos.
-Ai que boca gostosa...
-Mais gostoso ainda é ficar agarrado com você...
-Está pronto pro nosso cinema?
-Prontinho!
-Então vamos.
Pegamos o elevador e não demorou muito entrou o síndico do prédio.
-Boa noite!
-Boa noite!
O elevador social do prédio era espelhado, não muito grande, deveria caber umas 10 pessoas aproximadamente, ficamos olhando um para a cara do outro sem ter o que dizer, é bem clima de elevador mesmo, todos ficam parados olhando pra porta sem falar nada, quando para minha surpresa o Daniel me pegou e começou a me beijar, o síndico ficou constrangido, notei que nasceu uma repugnância ao presenciar uma cena de beijo, claro que o Daniel fez aquilo propositalmente para testar a reação do Carlos. Para nossa surpresa, sua reação foi pior do que imaginávamos.
-Não é permitido esse tipo de cena dentro das áreas sociais desse condomínio.
-Desculpe, não entendi.
-Eu disse que não é permitido...
-Ele disse que não é permitido dois homens se beijarem dentro do condomínio.
-Não foi isso que eu quis dizer...
-Você sabia que isso é uma forma de discriminação?
-Olha aqui...
-Olha aqui você...
Tive que segurar o Daniel, pois ele já queria partir pra cima do Carlos, não tiro sua razão, o Carlos foi muito preconceituoso e estava pegando no nosso pé pela nossa condição, se mostrando uma pessoa totalmente homofóbica. Essas regras de não poder beijar nas áreas sociais do condomínio eu desconhecia, tanto é que a Gloria, moradora do 16º andar vive se agarrando com os namorados dela no Deck da piscina, no hall do elevador, cada semana era um diferente, e até então eu nunca vi nenhuma repressão.
-Vamos parar com isso, por favor.
-Eu vou quebrar a cara desse palhaço...
-Você não vai quebrar a cara de ninguém, por favor esquece isso.
-Só não quebro sua cara, porque o Bader ta pedindo, mas a gente ainda vai se cruzar...
O elevador parou no térreo, saímos do elevador e o Carlos continuou sem abrir a boca, deve ter ficado com medo de apanhar do Daniel, que é um homem alto e forte, e eu também fiquei com medo do Daniel machucá-lo, não seria bom para nossa imagem perante o condomínio. Quando chegamos no estacionamentos de visitantes eu não avistei o carro dele, estranhei e perguntei onde que ele havia estacionado o carro, ele abriu a mochila e me entregou um capacete.
-Onde você estacionou seu carro?
-Segura ai...
-O que é isso?
-Um capacete.
-Eu sei que é um capacete, mas pra que você me entregou?
-Para você colocar na cabeça e subir na minha garupa.
-Mas...
-Sem mas, sobe logo.
Subi na garupa de sua moto e grudei em sua cintura, morrendo de medo, mas confiei nele. Eu já deveria suspeitar que ele estava armando alguma coisa, notei quando ele desviou do caminho do shopping e começou a seguir por um caminho que eu não conhecia, passando por uma longa estrada de terra...
-Pra onde você está me levando?
-Pro paraíso.
Ele guardou segredo o caminho todo, me deixando curioso e com medo também, pois o caminho era um pouco escuro. Ao chegar, deu pra notar que era uma casa no mato, deveria ser um sítio, no meio da escuridão dava pra ver a luz que vinha de dentro da casa, um silêncio que chegava a incomodar, quebrado pelas cigarras em volta.
-Chegamos...
-Que lugar é esse?
-Nosso ninho de amor...
Segurando na minha mão ele me levou até a casa, abriu a porta pra mim e logo em seguida já foi me abraçando, a casa era linda, bem decorada, tinha um estilo country, as cortinas iam do teto ao chão, sofás de couro, ventiladores de teto, alguns retratos na parede de um homem com alguns cavalos, deveria ser seu pai, na varanda tinha uma rede e embaixo da escada havia um bar cheio de bebidas:
-Aqui vamos poder esquecer por um tempo da correria da cidade...
-De quem é essa casa?
-Da minha família... Minha mãe quase nunca vem pra cá, às vezes quando me sinto sozinho eu venho refletir aqui...
-Linda casa...
-É... Mais linda ainda é a visão que temos do segundo andar. Vem ver...
Ele pegou na minha mão e me levou até o andar superior da casa, subimos por uma escada de madeira que nos levava até um corredor cheio de portas, deveria ter umas oito portas, caminhamos até um dos quartos, era lindo, uma cama bem ampla, deveria caber umas cinco pessoas ali deitadas, o quarto tinha um estilo meio rústico, de um lado uma parede cheia de tijolinhos e do outro uma parede coberta por um armário que terminava na porta do banheiro, da varanda do quarto principal dava pra ver o céu cheio de estrelas, coisa que da cidade é quase impossível de ver por causa da poluição, uma lua linda nos iluminava e clareava aquele gramado. Daniel me abraçou e me contou uma história que seu pai contava para ele quando criança:
-Está vendo aquelas estrelas no céu?
-Sim.
-Quando eu era pequeno, meu pai dizia que as estrelas do céu eram reis, faraós e todas as pessoas boas que viveram na terra e continuavam a reinar no céu, só que olhando e cuidando daqueles que precisam aqui na Terra.
-Que lindo.
Daniel tocou no meu rosto, olhou nos meus olhos, fechou os seus e começou a me beijar, nos abraçamos e deitamos na cama, sozinhos, cercado pela natureza, trocando carinhos, carícias, sentimentos. Ele parecia ser uma pessoa totalmente desligada, mas só parecia, quem o via com aquela pose de machão não conseguia enxergar a criança carente que existia dentro dele. Sussurrando no meu ouvido, ele cantava bem baixinho, bem juntinho, só pra mim:
-Diz pra eu ficar mudo, faz cara de mistério, tira essa bermuda que eu quero você sério...
-Te amo, Daniel.
-Eu quero você, como eu quero...
Foi uma noite linda, impossível de esquecer, mais difícil ainda seria não me apaixonar pelo Daniel, que dia após dia me conquistava mais e mais.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Capítulo 3 - Um estranho dentro de mim
















Capítulo 3

Minha implicância com o Daniel foi se tornando carinho na medida em que ia o conhecendo mais, não sei o que estava acontecendo, só sei que já não tinha mais raiva dele, somente um carinho especial. Acabei adormecendo dentro da hidromassagem, quando acordei o dia já tinha amanhecido, minha pele estava toda enrugada, fui me enxugar, tomar meu café e ir pra academia que já estava na hora. Depois da academia estava saindo pra trabalhar quando na saída encontrei com uma amiga dos tempos de faculdade,
-Bader...
-Juliana?
-Quanto tempo...
-Tudo bem com você?
-Eu to ótima, e você?
-Eu estou bem. E como anda lá no seu trabalho?
-Ai nem me fala, depois que você saiu de lá aquele lugar nunca mais foi o mesmo.
-Serio?
-É... Ah... Sabe quem andou procurando por você?
-Quem?
-Aquele seu amigo que ia te buscar na faculdade...
-Que amigo?
-Aquele loirinho...
-O Bruno?
-De nome eu não sei...
Pela descrição dela deveria ser o Bruno que estava me procurando, o que será que ele queria comigo? Ficamos conversando um pouco até que ela se foi, quando eu ia atravessando a rua escutei um assovio me chamando, era o Daniel:
-Bader... Peraê...
-Fala, Daniel.
-Ta indo pra onde?
-Trabalhar...
-Bom, to indo pra Perdizes...
-Eu vou pra Pinheiros.
-Quer uma carona?
-Pode ser.
Vínhamos andando pelo quarteirão, pois ele havia estacionado o carro em um estacionamento na rua de trás, íamos conversando sobre as novas regras da academia, de repente eu senti alguém me empurrando, bati com tudo no poste, eram 6 caras que já chegaram nos agredindo do nada, eles jogaram o Daniel no meio da rua, a intenção deles era nos imobilizar, mas eu me debatia na tentativa de escapar deles, mas ao mesmo tempo eu queria tirar o Daniel dali, foi quando um deles ia dar uma garrafada na cabeça do Daniel, não sei o que me deu na hora, consegui escapar dos outros dois que me seguravam e dei uma voadora na cara que ia matando o Daniel, nisso um dos caras que estava me segurando veio e me deu um tapa na cara, o tapa foi tão forte que eu cai no meio da rua, o Daniel ficou furioso e partiu pra cima deles.
-Você não vai machucar ele...
-Filho da p...
-Não toca nele... Se vocês querem briga, que briguem comigo, deixem ele em paz. Corre Bader...
-Eu não vou te deixar aqui sozinho... Socorro... Alguém nos ajude pelo amor de Deus...
Comecei a gritar por socorro, eles iriam machucar o Daniel se continuassem e bater nele, me joguei na frente dos carros que passavam na rua, mas nenhum parou para nos ajudar, o Daniel já havia dado aula de jiu-jitsu, foi o que nos ajudou enquanto o carro da policia não chegava. Eu fiquei impressionado com as pessoas que ficaram assistindo tudo sem fazer nada, vendo nós ali pedindo ajuda e ninguém se mexeu para pelo menos chamar a polícia, eu fico indignado com o espírito humanitário de hoje em dia, se fosse eu com certeza ajudaria no que pudesse, mas ficar de braços cruzados vendo esse tipo de cena, é um absurdo, seria o primeiro passo pra acabar com a violência nessa cidade, um ajudar o outro e todos se ajudarem. Fomos para a delegacia registrar a ocorrência, eu fiquei mais indignado ainda com o descaso dos policiais que anotaram o nome do Daniel em uma prancheta e perguntaram se era de nosso interesse registrar uma ocorrência, como se ser agredido por quatro caras em plena luz do dia fosse a coisa mais normal do mundo. Chegamos na delegacia e tivemos que contar toda a história outra vez para o escrivão e para o delegado, não agüentava mais contar a mesma história. Passamos o resto da tarde e o começo da noite registrando BO e fazendo corpo de delito, eu me senti humilhado, um lixo, tamanho foi o descaso das autoridades.
-Muito obrigado, Bader!
-Pelo quê?
-Por ter me salvado, se não fosse você eu teria morrido com a garrafada que iam me dar.
-Eu fiz por você o que todo mundo deveria fazer ao presenciar um tipo de situação dessas, um por todos e todos por um... Você precisa passar no hospital pra ver esses ferimentos...
-Quanto aos ferimentos não se preocupe, muito obrigado, você se preocupou comigo como há tempos ninguém se preocupava... E você, está bem?
-Estou com as costas um pouco dolorida, mas estou bem. Então, vamos passar lá em casa para eu fazer um curativo nesse ferimento?
-Tudo bem...
Depois de fazer o corpo de delito fomos para minha casa, eu não sabia que corpo de delito era só responder algumas perguntas e basta, pensei que ao menos o médico olharia os ferimentos. Chegando em casa eu pedi pra ele aguardar na sala enquanto eu ia buscar a caixa de primeiros socorros no banheiro:
-Tira a camisa...
-Peraí.
-Foram só uns arranhões...
-Ai... Ta ardendo...
-Calma... Um homem desse tamanho com medo de remedinho...
-Fica zoando...
-Hahaha...
Ele era tão charmoso, me encantava cada dia mais com seu jeito de ser, meigo, sensível, nem aparentava com aquele corpo forte, mais parecido com um “Bad Boy”.
-Daniel...
-Fala.
-Por que você disse na delegacia que há muito tempo ninguém se preocupava com você?
-Porque é verdade. Desde que meu pai morreu, eu sinto falta de alguém pra conversar, alguém que me defenda, alguém que me ouça, me dê conselhos...
-Mas e sua mãe?
-Minha mãe está pouco se importando comigo, vive viajando com as amigas, eu passo mais tempo sozinho naquela casa enorme...
Conversando mais com ele, percebi que o Daniel era um cara carente, sensível, além de tudo, sofrido, ele deveria ser muito apegado ao pai, e a perda deve ter o deixado abalado.
No decorrer da semana eu liguei para minha mãe e contei sobre o acidente, ela ficou um pouco preocupada, mas tratei logo de tranqüilizá-la. Minha mãe era minha melhor amiga, quando eu precisava era só ligar pra ela, pelo menos três vezes na semana nos falávamos por telefone, pois era difícil eu ir pra Campinas. Continuei indo à academia normalmente e sempre tomando cuidado para não dar nenhuma pancada no Daniel, chega de mico.
-Bom dia!
-Fala Bader, firmeza cara?
-Tudo legal! Como estão os machucados?
-Nem sinto mais. É amanhã, hein...
-Pois é.
-Chamei uma mina que eu to ficando, você não se incomoda, né?
-Claro que não, chame mais amigos se quiser...
-Melhorou seu braço?
-Já consigo dirigir, mas não posso fazer esforço. Sorte que aqueles caras não tocaram nele.
-Menos mal, meu carro fica pronto semana que vem.
-Que bom! O meu já está pronto.
-Da hora... Ganhei um amigo num acidente de carro.
Estávamos dentro do vestiário masculino, eu havia acabado de chegar e fui guardar minhas coisas, o Daniel parecia já estar de saída, conforme ele falava, ia tirando a roupa, eu ainda não havia reparado muito no seu corpo até aquele momento, somente no peitoral no dia do passeio no parque do Ibirapuera, que foi impossível não reparar. Um corpo todo definido, ele era um magro falso, usava a calça meio caída com a cuequinha à mostra, corpo com pelos serrados, pele morena, cabelo todo espetadinho com gel, topete e um sorriso perfeito, era de deixar qualquer mulher apaixonada, não era a toa que as meninas da academia pagavam um pau pra ele, as vezes eu escutava elas comentando sobre um professor, mas nunca tínhamos nos cruzado antes nas dependências da academia, mas agora eu concordo com elas que ele é tudo e mais um pouco.
No sábado ele passou em casa por volta de 20h, pedi para o porteiro deixá-lo subir, quando ele entrou na sala, pedi para que ele me aguardasse enquanto iria tomar meu banho, ele sentou no sofá e ficou olhando as fotos dos porta-retratos.
-E aê cara...
-Beleza?
-Firmão. Já está pronto?
-Que nada, nem tomei banho ainda.
-Sem problemas, ainda está cedo.
-Da um tempo ai que vou tomar um banho.
-Vai lá.
-Você não ia trazer sua mina?
-A mãe dela tava meio adoentada... E também a parada hoje é só pra homem, nada de mulher pra encher o saco.
-Hahaha.
-Pô... Legal essas fotos, Bader.
-Quais?
-Essas aqui...
-Ah... Essa é minha família, tiramos já faz um tempo...
-É bonito ver uma família unida assim... Eu tenho poucas fotos com meu pai e minha mãe juntos, eles não se davam muito bem...
-Deve ser muito ruim mesmo.
-Quem é esse do seu lado? Seu irmão?
-Onde?
-Vocês estão em uma praia.
-Ah não, esse é meu ex-namorado.
-Namorado?
-É. Por que o espanto?
-Nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado...
-Você é contra um relacionamento homo?
-Não, tenho amigos homos, nada contra.
-Já é hora de jogar essa foto no lixo.
Peguei a foto, tirei do porta retrato e amassei, joguei no lixo, não sei nem por que aquela foto ainda estava em casa, eu me livrei de tudo que lembrava o Bruno, acho que só faltou aquela foto. Entrei no box e liguei o chuveiro, escutei a voz dele perguntando onde tinha água, gritei dizendo que na cozinha tinha. Após meu banho fui vestir uma roupa bacana, passei meu perfume de sempre, fiz meu penteado de sempre, levei quase meia hora em frente ao espelho pra deixar o topete do jeito que eu gostava.
-Pronto.
-Até que enfim...
-Nem demorou tanto assim...
-O que? Quase dormi aqui no seu sofá. Mas não tem problema, como você que vai pagar, vou beber pra caramba...
-Sem exageros.
Chegamos na balada já passava da 00h, eu dificilmente bebia, o Daniel logo quando chegou foi pegar uma caipirinha, a balada estava cheia, muita gente bonita, no começo as músicas estavam chatas, ficamos no bar conversando um pouco.
-Faz tempo que você freqüenta aqui?
-Eu vinha bastante quando namorava, o Bruno adorava esse lugar.
-Quanto tempo vocês namoraram?
-Três anos.
-Uau, bastante tempo...
-Sim, o conheci com 21 anos, mas como disse minha mãe: Algo melhor me espera.
-E você sonha com um conto de fadas?
-Não, só o que eu quero é ter alguém do meu lado todos os dias e para sempre.
-Legal isso... O engraçado é que nos tempos de hoje as meninas estão fugindo de compromisso sério e os homens estão afim...
-Pois é... E por que você terminou com seu relacionamento, então?
-Porque eu queria casar e ela não. Quero ser amado, receber carinho, tenho 26 anos, já transei com todas as garotas que eu quis, beijava as que dava vontade, agora eu cansei, queria ter a certeza de que alguém me ama de verdade, me deseja...
-Eu sei muito bem o que é isso...
-Pode não parecer, mas eu só tenho aparência de “Bad Boy”...
-Mas sua aparência assusta um pouco.
-Não me julgue pelas aparências.
-Desculpa, mas é verdade.
-Está ouvindo essa música?
-Sim... Adoro ela...
-Eu também. Vamos dançar?
-Claro.
Na pista de dança ele se soltou e mostrou que sabia dançar muito, a pista estava cheia, apertada, ele me puxou para o meio da pista e ficamos dançando um de frente para o outro, o Daniel era um cara muito bonito, cativante, dançando e olhando pra ele eu ficava pensando no que ele havia dito, sem que eu esperasse ele me puxou pra bem junto dele, fiquei sem reação, não foi com malícia, apenas uma empolgação, mas me deixou com vontade de beijar aquela boca carnuda, isso eu não posso negar. Eu acho que estava começando a gostar dele, se isto fosse concreto eu estaria perdido, ele gostava de mulher e eu não teria chance alguma.
As músicas estavam cada vez mais legais e a vontade era de ficar na pista e não sair mais, o Daniel continuava bebendo sem parar, comecei a ficar preocupado quando percebi que ele já havia ultrapassado os limites, o puxei pelo braço e avisei para irmos embora.
-Daniel... Já chega, está na hora de ir...
-Agora que está ficando bom?
-É necessário, você já bebeu demais.
-Ah... É por causa da bebida? Deixa que eu pago então, seu pão duro.
-Não é isso, estou preocupado contigo, o que você consumiu eu pago conforme o prometido.
-Ta bom...
-Vamos.
Saímos de lá eram quase 4h, o Daniel não estava em condições de dirigir, mal conseguiu subir as escadas, foi uma briga para convencê-lo a me deixar dirigir.
-Eu te deixo em casa e depois sigo para a minha.
-Você não está em condições de dirigir, Daniel.
-Eu to ótimo, veja...
-Cuidado... Você quase caiu...
Ele estava tão bêbado que foi fazer um “4” e quase caiu.
-Imagine... Eu sei muito bem o que to fazendo.
-Ok. Mas deixa que eu te levo até em casa...
-E como você vai voltar para a sua?
-Eu pego um táxi.
-Nananananão.
-Sim e sim.
Joguei ele dentro do carro, travei a porta, entrei no carro, ele ficou se debatendo e gritando, travei o cinto nele e fomos para casa.
-Entra...
-Eu já disse que irei te levar...
-Põe o cinto e cala essa boca. Onde você mora?
-Não vou dizer, você disse que era pra eu calar minha boca...
-É assim? Então vou te levar para minha casa, quando você estiver sóbrio eu deixo você ir sozinho.
-Socorro... Socorro...
-Pára de gritar, está louco?
-Louco eu estaria se deixasse você me levar, vai que dessa vez você bate o carro em um caminhão...
-Engraçadinho.
-Hahaha.
Fechei o vidro do carro e o trouxe para minha casa praticamente carregado por mim, porque sozinho ele não conseguia nem dar 2 passos. Precisei da ajuda dos seguranças do condomínio para carregá-lo até o elevador, com um pouco de dificuldade eu abri a porta da sala com ele apoiado em meus ombros, não falava coisa com coisa.
-Você precisa dormir um pouco...
-Dormir? Nada de dormir... Ta cedo...
-Daniel, você não está bem...
-Eu to ótimo... Vamos conversar um pouco...
-Vou fazer um café pra você beber.
-Enquanto você faz um café, vou jogar vídeo game...
-Nem pensar, você precisa de um banho frio...
Arrastei ele até o banheiro, foi difícil convencê-lo a entrar no box, ele se debatia o tempo todo, com muita paciência e força consegui colocá-lo em baixo do chuveiro.
-Venha...
-Eu não quero...
-Tira a roupa...
-Eu não vou tirar nada.
Abri o chuveiro e o empurrei para baixo da água fria com roupa e tudo, essa bebedeira tinha que passar de qualquer jeito.
-Ai... Está gelada... Ta molhando minha roupa...
-Você não quis tirar, eu avisei antes... Pára de se debater, você está me molhando...
-Deixa de viadagem e entra aqui, não vou me molhar sozinho.
Ele me puxou para dentro do box e travou a porta.
-Não...
-Hahaha.
Comecei a me debater, minha raiva ia aumentando na medida em que eu não conseguia sair, já estava me irritando aquela sua bebedeira, sóbrio ele era uma outra pessoa, mas bêbado ele era impertinente, comecei a tirar sua roupa, passei xampu em seu cabelo, com muito sacrifício consegui tirar toda sua roupa, o deixando totalmente nu.
-Me solta...
-Você não pode ficar com essa roupa molhada.
-Eu não quero tirar...
-Deixa de viadagem você agora... O que você tem ai eu também tenho.
-Sua roupa também está molhada.
-Ok, depois vou tirá-la.
-Depois nada, vai tirar agora também.
Tirei minha roupa e ficamos nus, terminei de dar banho nele e fui buscar uma toalha no quarto, pois a que estava no banheiro acabei molhando. Fui pegar uma toalha seca dentro do guarda-roupa, quando ia voltar para o banheiro me deparei com o Daniel dentro do meu quarto, todo molhado, como era a suíte de casa o banheiro praticamente ficava dentro do quarto.
-Mas o que você faz aqui? Eu disse para me esperar no banheiro...
-Até parece...
-Você está molhando todo o meu tapete.
-Judiação... Amanhã eu mando importar um tapete novo do Oriente pra você.
-Chega de bobagens e se enxugue...
-Não me amole...
-Se você não se secar, eu te seco.
O Daniel era muito teimoso, tive que secá-lo à força, mas ele não parava quieto, me dava até raiva. Nós éramos da mesma altura, então quando eu falava com ele era próximo ao seu ouvido, o que começou a despertar nele algo diferente.
-Pare quieto...
-Nossa... Não fale assim porque eu não resisto...
-Então se enxugue sozinho.
-Não vou me enxugar nada...
Ele pulou na minha cama todo molhado, quando eu o vi fazendo aquilo me subiu um ódio tão grande, paciência tem limite e a minha já tinha se esgotado.
-Caralho, você está molhando toda minha cama... Sai daí agora
-Hahaha...
Eu peguei pelo braço dele e comecei a puxá-lo pra fora da cama, eu já estava a ponto de quebrar sua cara, não é possível que uma pessoa quando bebe fique tão insuportável assim, maldita foi a hora que concordei em pagar uma balada pra ele, se eu tivesse passado um cheque pra cobrir os gastos do conserto do carro teria menos prejuízo. Puxei ele por duas vezes e ele insistia em não sair da cama, quando na terceira vez ele me puxou pra cama junto com ele, eu comecei a me debater, então ele subiu em cima de mim, segurou meus braços e olhou dentro dos meus olhos, fiquei imóvel, não tive reação nenhuma.
-Sai da minha cama...
-Deita aqui...
-Não...
-Nossa... Você tem uma boca tentadora...
-Será que você só sabe zoar?
-Eu to falando sério.
Ele segurou meu rosto e começou a me beijar, eu não sabia o que fazer, fui pego de surpresa, aquele seu corpo nu sobre o meu também nu me possuindo como se fosse uma terra desapropriada, sua mão explorava meu corpo com pegadas fortes, naquele instante eu fiquei sem fôlego. Ele beijava muito bem, tinha muito fogo, mas estava bêbado, não sabia o que estava fazendo, foi quando interrompi:
-Pare com isso...
-Parar por quê?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Capítulo 3 Um estranho dentro de mim

Galera para quem está vendo gora comece a ler pelo post nº 1 ok abraços e boa diverção ...

Capítulo 3

Minha implicância com o Daniel foi se tornando carinho na medida em que ia o conhecendo mais, não sei o que estava acontecendo, só sei que já não tinha mais raiva dele, somente um carinho especial. Acabei adormecendo dentro da hidromassagem, quando acordei o dia já tinha amanhecido, minha pele estava toda enrugada, fui me enxugar, tomar meu café e ir pra academia que já estava na hora. Depois da academia estava saindo pra trabalhar quando na saída encontrei com uma amiga dos tempos de faculdade,
-Bader...
-Juliana?
-Quanto tempo...
-Tudo bem com você?
-Eu to ótima, e você?
-Eu estou bem. E como anda lá no seu trabalho?
-Ai nem me fala, depois que você saiu de lá aquele lugar nunca mais foi o mesmo.
-Serio?
-É... Ah... Sabe quem andou procurando por você?
-Quem?
-Aquele seu amigo que ia te buscar na faculdade...
-Que amigo?
-Aquele loirinho...
-O Bruno?
-De nome eu não sei...
Pela descrição dela deveria ser o Bruno que estava me procurando, o que será que ele queria comigo? Ficamos conversando um pouco até que ela se foi, quando eu ia atravessando a rua escutei um assovio me chamando, era o Daniel:
-Bader... Peraê...
-Fala, Daniel.
-Ta indo pra onde?
-Trabalhar...
-Bom, to indo pra Perdizes...
-Eu vou pra Pinheiros.
-Quer uma carona?
-Pode ser.
Vínhamos andando pelo quarteirão, pois ele havia estacionado o carro em um estacionamento na rua de trás, íamos conversando sobre as novas regras da academia, de repente eu senti alguém me empurrando, bati com tudo no poste, eram 6 caras que já chegaram nos agredindo do nada, eles jogaram o Daniel no meio da rua, a intenção deles era nos imobilizar, mas eu me debatia na tentativa de escapar deles, mas ao mesmo tempo eu queria tirar o Daniel dali, foi quando um deles ia dar uma garrafada na cabeça do Daniel, não sei o que me deu na hora, consegui escapar dos outros dois que me seguravam e dei uma voadora na cara que ia matando o Daniel, nisso um dos caras que estava me segurando veio e me deu um tapa na cara, o tapa foi tão forte que eu cai no meio da rua, o Daniel ficou furioso e partiu pra cima deles.
-Você não vai machucar ele...
-Filho da p...
-Não toca nele... Se vocês querem briga, que briguem comigo, deixem ele em paz. Corre Bader...
-Eu não vou te deixar aqui sozinho... Socorro... Alguém nos ajude pelo amor de Deus...
Comecei a gritar por socorro, eles iriam machucar o Daniel se continuassem e bater nele, me joguei na frente dos carros que passavam na rua, mas nenhum parou para nos ajudar, o Daniel já havia dado aula de jiu-jitsu, foi o que nos ajudou enquanto o carro da policia não chegava. Eu fiquei impressionado com as pessoas que ficaram assistindo tudo sem fazer nada, vendo nós ali pedindo ajuda e ninguém se mexeu para pelo menos chamar a polícia, eu fico indignado com o espírito humanitário de hoje em dia, se fosse eu com certeza ajudaria no que pudesse, mas ficar de braços cruzados vendo esse tipo de cena, é um absurdo, seria o primeiro passo pra acabar com a violência nessa cidade, um ajudar o outro e todos se ajudarem. Fomos para a delegacia registrar a ocorrência, eu fiquei mais indignado ainda com o descaso dos policiais que anotaram o nome do Daniel em uma prancheta e perguntaram se era de nosso interesse registrar uma ocorrência, como se ser agredido por quatro caras em plena luz do dia fosse a coisa mais normal do mundo. Chegamos na delegacia e tivemos que contar toda a história outra vez para o escrivão e para o delegado, não agüentava mais contar a mesma história. Passamos o resto da tarde e o começo da noite registrando BO e fazendo corpo de delito, eu me senti humilhado, um lixo, tamanho foi o descaso das autoridades.
-Muito obrigado, Bader!
-Pelo quê?
-Por ter me salvado, se não fosse você eu teria morrido com a garrafada que iam me dar.
-Eu fiz por você o que todo mundo deveria fazer ao presenciar um tipo de situação dessas, um por todos e todos por um... Você precisa passar no hospital pra ver esses ferimentos...
-Quanto aos ferimentos não se preocupe, muito obrigado, você se preocupou comigo como há tempos ninguém se preocupava... E você, está bem?
-Estou com as costas um pouco dolorida, mas estou bem. Então, vamos passar lá em casa para eu fazer um curativo nesse ferimento?
-Tudo bem...
Depois de fazer o corpo de delito fomos para minha casa, eu não sabia que corpo de delito era só responder algumas perguntas e basta, pensei que ao menos o médico olharia os ferimentos. Chegando em casa eu pedi pra ele aguardar na sala enquanto eu ia buscar a caixa de primeiros socorros no banheiro:
-Tira a camisa...
-Peraí.
-Foram só uns arranhões...
-Ai... Ta ardendo...
-Calma... Um homem desse tamanho com medo de remedinho...
-Fica zoando...
-Hahaha...
Ele era tão charmoso, me encantava cada dia mais com seu jeito de ser, meigo, sensível, nem aparentava com aquele corpo forte, mais parecido com um “Bad Boy”.
-Daniel...
-Fala.
-Por que você disse na delegacia que há muito tempo ninguém se preocupava com você?
-Porque é verdade. Desde que meu pai morreu, eu sinto falta de alguém pra conversar, alguém que me defenda, alguém que me ouça, me dê conselhos...
-Mas e sua mãe?
-Minha mãe está pouco se importando comigo, vive viajando com as amigas, eu passo mais tempo sozinho naquela casa enorme...
Conversando mais com ele, percebi que o Daniel era um cara carente, sensível, além de tudo, sofrido, ele deveria ser muito apegado ao pai, e a perda deve ter o deixado abalado.
No decorrer da semana eu liguei para minha mãe e contei sobre o acidente, ela ficou um pouco preocupada, mas tratei logo de tranqüilizá-la. Minha mãe era minha melhor amiga, quando eu precisava era só ligar pra ela, pelo menos três vezes na semana nos falávamos por telefone, pois era difícil eu ir pra Campinas. Continuei indo à academia normalmente e sempre tomando cuidado para não dar nenhuma pancada no Daniel, chega de mico.
-Bom dia!
-Fala Bader, firmeza cara?
-Tudo legal! Como estão os machucados?
-Nem sinto mais. É amanhã, hein...
-Pois é.
-Chamei uma mina que eu to ficando, você não se incomoda, né?
-Claro que não, chame mais amigos se quiser...
-Melhorou seu braço?
-Já consigo dirigir, mas não posso fazer esforço. Sorte que aqueles caras não tocaram nele.
-Menos mal, meu carro fica pronto semana que vem.
-Que bom! O meu já está pronto.
-Da hora... Ganhei um amigo num acidente de carro.
Estávamos dentro do vestiário masculino, eu havia acabado de chegar e fui guardar minhas coisas, o Daniel parecia já estar de saída, conforme ele falava, ia tirando a roupa, eu ainda não havia reparado muito no seu corpo até aquele momento, somente no peitoral no dia do passeio no parque do Ibirapuera, que foi impossível não reparar. Um corpo todo definido, ele era um magro falso, usava a calça meio caída com a cuequinha à mostra, corpo com pelos serrados, pele morena, cabelo todo espetadinho com gel, topete e um sorriso perfeito, era de deixar qualquer mulher apaixonada, não era a toa que as meninas da academia pagavam um pau pra ele, as vezes eu escutava elas comentando sobre um professor, mas nunca tínhamos nos cruzado antes nas dependências da academia, mas agora eu concordo com elas que ele é tudo e mais um pouco.
No sábado ele passou em casa por volta de 20h, pedi para o porteiro deixá-lo subir, quando ele entrou na sala, pedi para que ele me aguardasse enquanto iria tomar meu banho, ele sentou no sofá e ficou olhando as fotos dos porta-retratos.
-E aê cara...
-Beleza?
-Firmão. Já está pronto?
-Que nada, nem tomei banho ainda.
-Sem problemas, ainda está cedo.
-Da um tempo ai que vou tomar um banho.
-Vai lá.
-Você não ia trazer sua mina?
-A mãe dela tava meio adoentada... E também a parada hoje é só pra homem, nada de mulher pra encher o saco.
-Hahaha.
-Pô... Legal essas fotos, Bader.
-Quais?
-Essas aqui...
-Ah... Essa é minha família, tiramos já faz um tempo...
-É bonito ver uma família unida assim... Eu tenho poucas fotos com meu pai e minha mãe juntos, eles não se davam muito bem...
-Deve ser muito ruim mesmo.
-Quem é esse do seu lado? Seu irmão?
-Onde?
-Vocês estão em uma praia.
-Ah não, esse é meu ex-namorado.
-Namorado?
-É. Por que o espanto?
-Nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado...
-Você é contra um relacionamento homo?
-Não, tenho amigos homos, nada contra.
-Já é hora de jogar essa foto no lixo.
Peguei a foto, tirei do porta retrato e amassei, joguei no lixo, não sei nem por que aquela foto ainda estava em casa, eu me livrei de tudo que lembrava o Bruno, acho que só faltou aquela foto. Entrei no box e liguei o chuveiro, escutei a voz dele perguntando onde tinha água, gritei dizendo que na cozinha tinha. Após meu banho fui vestir uma roupa bacana, passei meu perfume de sempre, fiz meu penteado de sempre, levei quase meia hora em frente ao espelho pra deixar o topete do jeito que eu gostava.
-Pronto.
-Até que enfim...
-Nem demorou tanto assim...
-O que? Quase dormi aqui no seu sofá. Mas não tem problema, como você que vai pagar, vou beber pra caramba...
-Sem exageros.
Chegamos na balada já passava da 00h, eu dificilmente bebia, o Daniel logo quando chegou foi pegar uma caipirinha, a balada estava cheia, muita gente bonita, no começo as músicas estavam chatas, ficamos no bar conversando um pouco.
-Faz tempo que você freqüenta aqui?
-Eu vinha bastante quando namorava, o Bruno adorava esse lugar.
-Quanto tempo vocês namoraram?
-Três anos.
-Uau, bastante tempo...
-Sim, o conheci com 21 anos, mas como disse minha mãe: Algo melhor me espera.
-E você sonha com um conto de fadas?
-Não, só o que eu quero é ter alguém do meu lado todos os dias e para sempre.
-Legal isso... O engraçado é que nos tempos de hoje as meninas estão fugindo de compromisso sério e os homens estão afim...
-Pois é... E por que você terminou com seu relacionamento, então?
-Porque eu queria casar e ela não. Quero ser amado, receber carinho, tenho 26 anos, já transei com todas as garotas que eu quis, beijava as que dava vontade, agora eu cansei, queria ter a certeza de que alguém me ama de verdade, me deseja...
-Eu sei muito bem o que é isso...
-Pode não parecer, mas eu só tenho aparência de “Bad Boy”...
-Mas sua aparência assusta um pouco.
-Não me julgue pelas aparências.
-Desculpa, mas é verdade.
-Está ouvindo essa música?
-Sim... Adoro ela...
-Eu também. Vamos dançar?
-Claro.
Na pista de dança ele se soltou e mostrou que sabia dançar muito, a pista estava cheia, apertada, ele me puxou para o meio da pista e ficamos dançando um de frente para o outro, o Daniel era um cara muito bonito, cativante, dançando e olhando pra ele eu ficava pensando no que ele havia dito, sem que eu esperasse ele me puxou pra bem junto dele, fiquei sem reação, não foi com malícia, apenas uma empolgação, mas me deixou com vontade de beijar aquela boca carnuda, isso eu não posso negar. Eu acho que estava começando a gostar dele, se isto fosse concreto eu estaria perdido, ele gostava de mulher e eu não teria chance alguma.
As músicas estavam cada vez mais legais e a vontade era de ficar na pista e não sair mais, o Daniel continuava bebendo sem parar, comecei a ficar preocupado quando percebi que ele já havia ultrapassado os limites, o puxei pelo braço e avisei para irmos embora.
-Daniel... Já chega, está na hora de ir...
-Agora que está ficando bom?
-É necessário, você já bebeu demais.
-Ah... É por causa da bebida? Deixa que eu pago então, seu pão duro.
-Não é isso, estou preocupado contigo, o que você consumiu eu pago conforme o prometido.
-Ta bom...
-Vamos.
Saímos de lá eram quase 4h, o Daniel não estava em condições de dirigir, mal conseguiu subir as escadas, foi uma briga para convencê-lo a me deixar dirigir.
-Eu te deixo em casa e depois sigo para a minha.
-Você não está em condições de dirigir, Daniel.
-Eu to ótimo, veja...
-Cuidado... Você quase caiu...
Ele estava tão bêbado que foi fazer um “4” e quase caiu.
-Imagine... Eu sei muito bem o que to fazendo.
-Ok. Mas deixa que eu te levo até em casa...
-E como você vai voltar para a sua?
-Eu pego um táxi.
-Nananananão.
-Sim e sim.
Joguei ele dentro do carro, travei a porta, entrei no carro, ele ficou se debatendo e gritando, travei o cinto nele e fomos para casa.
-Entra...
-Eu já disse que irei te levar...
-Põe o cinto e cala essa boca. Onde você mora?
-Não vou dizer, você disse que era pra eu calar minha boca...
-É assim? Então vou te levar para minha casa, quando você estiver sóbrio eu deixo você ir sozinho.
-Socorro... Socorro...
-Pára de gritar, está louco?
-Louco eu estaria se deixasse você me levar, vai que dessa vez você bate o carro em um caminhão...
-Engraçadinho.
-Hahaha.
Fechei o vidro do carro e o trouxe para minha casa praticamente carregado por mim, porque sozinho ele não conseguia nem dar 2 passos. Precisei da ajuda dos seguranças do condomínio para carregá-lo até o elevador, com um pouco de dificuldade eu abri a porta da sala com ele apoiado em meus ombros, não falava coisa com coisa.
-Você precisa dormir um pouco...
-Dormir? Nada de dormir... Ta cedo...
-Daniel, você não está bem...
-Eu to ótimo... Vamos conversar um pouco...
-Vou fazer um café pra você beber.
-Enquanto você faz um café, vou jogar vídeo game...
-Nem pensar, você precisa de um banho frio...
Arrastei ele até o banheiro, foi difícil convencê-lo a entrar no box, ele se debatia o tempo todo, com muita paciência e força consegui colocá-lo em baixo do chuveiro.
-Venha...
-Eu não quero...
-Tira a roupa...
-Eu não vou tirar nada.
Abri o chuveiro e o empurrei para baixo da água fria com roupa e tudo, essa bebedeira tinha que passar de qualquer jeito.
-Ai... Está gelada... Ta molhando minha roupa...
-Você não quis tirar, eu avisei antes... Pára de se debater, você está me molhando...
-Deixa de viadagem e entra aqui, não vou me molhar sozinho.
Ele me puxou para dentro do box e travou a porta.
-Não...
-Hahaha.
Comecei a me debater, minha raiva ia aumentando na medida em que eu não conseguia sair, já estava me irritando aquela sua bebedeira, sóbrio ele era uma outra pessoa, mas bêbado ele era impertinente, comecei a tirar sua roupa, passei xampu em seu cabelo, com muito sacrifício consegui tirar toda sua roupa, o deixando totalmente nu.
-Me solta...
-Você não pode ficar com essa roupa molhada.
-Eu não quero tirar...
-Deixa de viadagem você agora... O que você tem ai eu também tenho.
-Sua roupa também está molhada.
-Ok, depois vou tirá-la.
-Depois nada, vai tirar agora também.
Tirei minha roupa e ficamos nus, terminei de dar banho nele e fui buscar uma toalha no quarto, pois a que estava no banheiro acabei molhando. Fui pegar uma toalha seca dentro do guarda-roupa, quando ia voltar para o banheiro me deparei com o Daniel dentro do meu quarto, todo molhado, como era a suíte de casa o banheiro praticamente ficava dentro do quarto.
-Mas o que você faz aqui? Eu disse para me esperar no banheiro...
-Até parece...
-Você está molhando todo o meu tapete.
-Judiação... Amanhã eu mando importar um tapete novo do Oriente pra você.
-Chega de bobagens e se enxugue...
-Não me amole...
-Se você não se secar, eu te seco.
O Daniel era muito teimoso, tive que secá-lo à força, mas ele não parava quieto, me dava até raiva. Nós éramos da mesma altura, então quando eu falava com ele era próximo ao seu ouvido, o que começou a despertar nele algo diferente.
-Pare quieto...
-Nossa... Não fale assim porque eu não resisto...
-Então se enxugue sozinho.
-Não vou me enxugar nada...
Ele pulou na minha cama todo molhado, quando eu o vi fazendo aquilo me subiu um ódio tão grande, paciência tem limite e a minha já tinha se esgotado.
-Caralho, você está molhando toda minha cama... Sai daí agora
-Hahaha...
Eu peguei pelo braço dele e comecei a puxá-lo pra fora da cama, eu já estava a ponto de quebrar sua cara, não é possível que uma pessoa quando bebe fique tão insuportável assim, maldita foi a hora que concordei em pagar uma balada pra ele, se eu tivesse passado um cheque pra cobrir os gastos do conserto do carro teria menos prejuízo. Puxei ele por duas vezes e ele insistia em não sair da cama, quando na terceira vez ele me puxou pra cama junto com ele, eu comecei a me debater, então ele subiu em cima de mim, segurou meus braços e olhou dentro dos meus olhos, fiquei imóvel, não tive reação nenhuma.
-Sai da minha cama...
-Deita aqui...
-Não...
-Nossa... Você tem uma boca tentadora...
-Será que você só sabe zoar?
-Eu to falando sério.
Ele segurou meu rosto e começou a me beijar, eu não sabia o que fazer, fui pego de surpresa, aquele seu corpo nu sobre o meu também nu me possuindo como se fosse uma terra desapropriada, sua mão explorava meu corpo com pegadas fortes, naquele instante eu fiquei sem fôlego. Ele beijava muito bem, tinha muito fogo, mas estava bêbado, não sabia o que estava fazendo, foi quando interrompi:
-Pare com isso...
-Parar por quê?

sábado, 16 de junho de 2007

Capítulo 2 Um estranho dentro de mim

Capítulo 2

-Eu acho que você me odeia, cara...
-Foi mal... O que você faz aqui?
-Eu trabalho aqui, e você?
-Eu treino aqui.
-Se não me engano, eu havia te contado que era professor de Educação Física... -Ah... É verdade... Que coincidência... -Pois é, não pense que eu esqueci da balada. -É verdade, é só marcar... -Que estilo de música você curte? -Eletrônica, rock... -Eu adoro musica eletrônica... -Eu conheço uma balada que toca umas legais. -Fechado. Sábado está bom pra você? -Pode ser. -Falou.
Já não me senti bem encontrando o Daniel pela segunda vez dando-lhe uma pancada, desse jeito ele ia me achar um atraso de vida, se é que já não me achava. Depois de pagar minha divida com ele não pretendia o ver nunca mais, tamanha era a vergonha que havia ficado, o pior de tudo era que ele dava aula na mesma academia que eu malhava, pensando bem, até que faz sentido quando bati em seu carro, estávamos próximos do shopping... Ele deveria estar saindo da academia na hora do acidente.
Na terça-feira cheguei um pouco mais cedo na academia, pois não consegui dormir com os latidos da Dani por causa do gato da vizinha, ao entrar na academia notei que o Daniel já estava lá, estava um pouco triste. Fui até o vestiário deixar minha mochila e trocar de roupa, depois peguei minha ficha nos arquivos e fui fazer esteira, programei a esteira como sempre fazia e comecei a caminhar, o Daniel se aproximou de mim para colocar presença na ficha:
-Bom dia!
-Bom dia, Daniel! Tudo bem com você?
-Humpft... Estou um pouco depre...
-Aconteceu algo?
-Mano... A vida é tão cruel cara...
-Olha, se você precisar desabafar, quiser trocar uma idéia, pode contar comigo, bele? -Você se importa se eu te alugar um pouco? -Relaxa, se precisar estamos ae. -O que você vai fazer depois daqui? -Vou pra casa, por quê? -Está a fim de dar um rolê? -Só se você dirigir... -Beleza.
Depois do treino, fui até o vestiário tomar um banho pra tirar o suor, passei desodorante para não ficar transpirando igual uma torneira, Daniel já me esperava no estacionamento da academia, entrei no carro e seguimos sem rumo, sem destino. -Alguma vez você já se sentiu culpado pela tristeza de alguém? -Isso acontece às vezes... -É assim que estou me sentindo, um lixo.
Daniel estacionou o carro em uma vaga de zona azul e fomos conversando e caminhando pelo Centro de São Paulo. Nenhum ser humano é livre de problemas, todos temos problemas e quando achamos que estamos livres de um, aparece outro, seguido de outro e mais outro... Paramos no Vale do Anhangabaú e ficamos sentados conversando, em frente ao Municipal. -Lembra daquele namoro que eu te falei que havia terminado? -Sim, lembro. -Pois é, ela tentou se matar por isso. -Caramba... -E o pior de tudo é que ela estava grávida, esperando um filho meu... -É complicado, mas pense que você não é culpado... -Claro que sou... -Claro que não, você sabia que ela estava grávida? -Não, fiquei sabendo hoje. -Então, você não deve se achar culpado por algo que não cometeu, se você terminou um relacionamento é porque não estava mais afim, ela teria que ser adulta o suficiente de entender isso, pra mim não passa de infantilidade. -Eu fiquei triste... -Eu compreendo que você tenha ficado triste, mas você não deve ficar guardando uma culpa que não é sua, ficar carregando fardo dos outros. -Mas era meu filho... -Sim, era uma vida inocente que pagou pela irresponsabilidade da mãe. -Não agüento mais pressão em cima de mim. -Você precisa se distrair, ocupar sua cabeça com outras coisas. -É... Mas não tenho amigos que curtam umas loucuras... -Agora você tem a mim. -Da hora cara, pra onde vamos então? -Agora? -Demoro... -Já sei.
Saímos do Centro e fomos para um parque de diversões aqui mesmo em São Paulo, fazia tempo que eu não ia a um lugar desses. Não estava muito cheio, o dia estava ensolarado, ainda bem que eu estava de boné, se não iria ficar todo queimado de sol. -Nossaaaaaaaaaaaaa... Bader você é o cara... Faz muito tempo que eu não venho num lugar desses... -Então vamos aproveitar. -Com CER-TE-ZA. -Vamos começar pelo SkyCoaster? -Só se for agora.
SkyCoaster era uma espécie de rede que era segurada por alguns cabos e erguida até o topo de uma torre, onde era dado um sinal e nós puxávamos uma corda onde liberava a descida. Colocamos a rede com a ajuda dos instrutores, no começo me deu um frio na barriga, só de pensar em despencar lá do alto segurado apenas por dois cabos me deixava de perna bamba, mas o Daniel me encorajou. -Vamos lá... Uhuuu -Será que tem como voltar atrás? -Agora já não, vai ter que pular... -Parem isso... -Não adianta, ninguém vai ouvir, pra descer daqui só puxando essa cordinha... -Ai caramba... Eu to com medooooooo. -Haha, segura firme na minha mão...
Ele pegou na minha mão e segurou forte, na tentativa de me confortar e me deixar mais à vontade, confesso que me confortou, mas não tirou meu medo totalmente. -Olha isso... -Não vou olhar nada... -Abre o olho e olha como os carros na Marginal parecem formigas... -Pára que já estou quase em pânico. -No 3, hein? -Ah meu Deus... -1... 2... 3... Uhuuuuuuuuuu -Ahhhhhhhh -Que demais... Uhuuuuu... Mais um... Mais um... -Chega, pelo amor de Deus... -Já acabou... Que demais cara. -Quase morri. -Haha, foi da hora. -Agora tem que pegar a fita do nosso sobrevôo... -É verdade, deixa-os descerem a gente daqui...
Depois de tirarmos todo o equipamento fomos buscar o certificado de coragem e pegar a fita onde gravaram nossa descida, claro que eu devo ter pagado o maior mico, pois fiquei o tempo todo de olho fechado. Pegamos o certificado e a fita, depois fomos andar na montanha russa, ficamos 40 minutos na fila esperando para andar no brinquedo: -E ai, Daniel, está gostando? -Estou me divertindo muito, e você? -Eu também...
Demos risada pela situação, eu estava era morrendo de medo, na verdade eu estava era traumatizado com o SkyCoaster, temendo os outros brinquedos. Chegou nossa hora de andar no brinquedo, eu e Daniel fomos um do lado do outro, à nossa frente foi um pessoal zoeira, fazendo a maior zona: -Está com medo? -Claro que não. -Sei... Haha... -Pára...
Começamos a subir, no começo estava tranqüilo até que paramos lá no topo, respirei fundo e fechei os olhos, começamos a descer com tudo, nem consegui gritar, fiquei imóvel, o Daniel só dava risada, pra ele estava sendo uma festa, pra mim estava sendo um martírio, o pior de tudo é que fui eu quem deu a idéia. -Nossa cara... Que demais... -É mesmo, né?
Comecei a concordar com ele, tive receio dele me achar um chato, nunca se sabe o que se passa pela cabeça das pessoas. Deixamos a montanha russa e fomos dar uma volta pelo parque, eu estava adorando me distrair um pouco, já que há tempos eu não fazia um programa divertido desses, e o Bruno nunca que iria comigo se eu pedisse, paramos um pouco para comer e conversar na lanchonete, estávamos desde a academia sem comer nada, já era hora de forrar o estômago: -Vamos parar aqui? -Sim, estou morrendo de fome. -Eu também... -Vou pedir um suco... -Nossa... Bader... -O quê? -Estou adorando passar essa tarde com você... -Sério? -Sim, estou me divertindo pra caramba. -Eu também.
Eu nunca tive um "melhor amigo", sempre me relacionei com "melhores amigas", pois achava que garotos tinham umas brincadeiras idiotas, mas nunca fui afeminado, ninguém dizia que eu era gay ou parecesse um. Mesmo com meu braço imobilizado, deu para brincar nos brinquedos, por um bom tempo esqueci dos problemas, foi ótimo. -Esse suco está sem açúcar... -Eu pedi com adoçante... -Eu também, mas parece que não colocaram nada... -Chame a garota do caixa... -Deixa pra lá, não está tão ruim assim. -Eu já ia atirando essa bolinha de papel nela... -Você tem boa pontaria? -Antes de ferir meu braço eu tinha. -Haha... DU-VI-DO. -Mas eu falo sério. -Vamos ver então, topa fazer uma aposta? -Que aposta? -Tiro ao alvo, quem conseguir derrubar todas as latinhas da pirâmide ganha a aposta. -E o que você quer apostar? -Se eu ganhar, amanhã você vai ter que ocupar meu dia assim como hoje. -Ta certo, e se eu ganhar não precisarei mais pagar a balada de sábado e não precisarei olhar nunca mais pra sua cara... -Hahahaha... Fechado.
Fomos até o quiosque onde tinha o tiro ao alvo, varias latinhas empilhadas e um garoto fazendo as apostas, a cada latinha derrubada o prêmio ia ficando mais sofisticado. -Começa você, Bader. -Tudo bem...
Mirei bem no meio, respirei fundo por três vezes, contei até cinco e atirei, todas as latinhas começaram a cair, mas a ultima tremeu, tremeu, e não caiu, ou seja, não derrubei todas. O que tinha a fazer agora era torcer para que o Daniel não derrubasse nenhuma, porque ai eu não teria que passar o dia com ele outra vez. O problema não era passar o dia com ele, pois o Daniel era uma companhia muito agradável, eu só não queria correr o risco de "acertar" o Daniel mais uma vez. -Agora é minha vez...
Ele mirou na pirâmide, ficou imóvel olhando a pilha de latas, quando eu menos esperava, ele atirou, derrubando toda a pilha de latas, foi inacreditável, mas ele conseguiu derrubar todas as latas, claro que eu não gostei muito da idéia, mas o que poderia fazer... -Ganhei... Terei companhia pra amanhã... Uhuuuu... -Pois é.
Depois pegamos os prêmios e seguimos para casa, não vou dizer que odiei passar o dia no parque com o Daniel, pois na verdade eu adorei, fazia muito tempo que eu não me divertia assim. -Bader... Muito obrigado. -Pelo quê? -Pela companhia, fazia muito tempo que eu não me divertia assim em uma companhia agradável... -Você me deixa sem graça... -Muito obrigado mesmo... -Relaxa, eu também me diverti muito, pode ter certeza. -Eu achei que você não gostou muito da idéia de passar o dia comigo amanhã... -Mas... -Cara, não vou te forçar a nada, se você não estiver afim, não tem problema, não quero te forçar a fazer o que não estiver afim. -Sem problemas, vamos cumprir as promessas feitas, promessa é divida. -Eu quero saber se você está afim, está? -Claro. -Então beleza. Vou te deixar em casa agora. -Firmeza.
Gostei do jeito que ele levou a conversa, me deixando escolher se iria ou não, só por causa disso eu decidi cumprir a promessa de passar o dia com ele, no caminho ele foi me contando sobre sua vida profissional, suas experiências em outros empregos, muito interessante e inteligente.
No outro dia fomos ao parque do Ibirapuera correr um pouco, andamos de bicicleta, foi muito divertido apostar uma corrida com o Daniel, ele corria muito e acabei perdendo outra vez, tive que pagar um sorvete pra ele. Depois de brincarmos bastante, sentamos embaixo de uma árvore e ficamos descansando, conversando, até que o Daniel levou uma bolada na cabeça, atrás de nós tinha uma quadra onde haviam uns moleques jogando futebol, Daniel pegou a bola, olhou feio para os garotos e disse: -Quem foi que jogou? -Desculpa aê mano... -Desculpa o caralho, vamos ver quem é bom aqui. -Devolve a bola deles, Daniel. -Calma... Vamos fazer uma aposta, desafio vocês 6 a jogar um contra... -Ta beleza. Você e mais quem? -Eu e meu amigo aqui, contra vocês 6. -Firmeza. -Mas Daniel, eu não sei jogar futebol... -Deixa comigo...
Começamos a disputar uma partida de futebol contra os garotos da quadra, acabei me arriscando no futebol que eu nem sabia jogar, até que não jogava muito mal, já o Daniel jogava muito bem, deu um show, driblou três garotos e marcou um gol. Os garotos não gostaram muito, o Daniel veio correndo de encontro a mim e me deu um abraço de felicidade, aquele abraço mexeu comigo, aquele corpo suado sem camisa encostando no meu, fiquei sem reação, senti um arrepio, um frio na barriga. Claro que eu fiquei na minha, no fim da tarde cada um foi pra sua casa, Daniel me deu uma carona até em casa, ele nem quis subir pra tomar um suco, estava com pressa, pois ia buscar sua mãe na casa de uma amiga. Cheguei em casa e fui tomar um banho de hidromassagem, coloquei meu discman e fechei os olhos pra relaxar um pouco, fiquei pensando naquele abraço que o Daniel me deu, naquele sorriso, ele não saia da minha cabeça.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Capítulo 1 - Um estranho dentro de mim

Galera me indentifiquei muito com esse livro vou postar diariamente pra vcs galera esperom que gostem hehehe ....

Capítulo 1

A vida é muito engraçada, às vezes estamos sozinhos e sentimos a falta de alguém ao nosso lado e quando encontramos esse alguém, queremos ficar sozinhos. "A felicidade não existe, o que existe são momentos felizes", eu acreditava nesse pensamento até que um acidente me provou que a felicidade existe sim, e que nós perdemos a oportunidade de vivê-la por orgulho, bobagens da vida. Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, agora tenho consciência de que poderia ter evitado muitas coisas e aproveitado mais. Meu nome é Bader, nasci em São Paulo, mas fui criado em Campinas, com 22 anos eu já era independente, tinha uma vida estável, morava sozinho desde os 18 anos, digamos que "sozinho" mesmo há pouco tempo, pois quando eu namorava o Bruno vivíamos juntos, ele passava mais tempo na minha casa que na casa dele. Eu era assumido entre todos da família e trabalho, apesar de ser gay nunca fiz nada que meus pais pudessem se envergonhar, pelo contrário, sempre fui o orgulho da família. Quando passei no vestibular foi uma festa em casa, meu pai fez um churrasco e convidou todos os parentes, foi muito bom ter a família reunida, aquela tarde rimos bastante com as piadas do tio Ricardo, devoramos os doces da tia Cida, tomei banho de mangueira com meus primos... Tenho saudade daqueles tempos. Cresci em uma família de 3 irmãos, eu era o do meio, tinha o Pedro que era o mais novo e o Rodrigo que era o mais velho, a diferença entre cada irmão era de 5 anos, sempre tivemos de tudo, principalmente carinho, amor, disso não tenho do que reclamar, sempre fui mimado pela minha mãe, acho que isso me estragou um pouco.
Éramos uma família típica de classe média, viajávamos nos feriados, almoçávamos e jantávamos com todos à mesa, passeávamos aos finais de semana, eu e meus dois irmãos íamos para a escola durante a semana, informática, inglês e natação, foi uma infância muito boa.
Logo depois de passar no vestibular, me mudei para São Paulo, assim eu ficaria mais perto da faculdade, meu pai alugou um apartamento e mudei logo em seguida. No meu segundo ano de faculdade eu consegui um emprego na área que estava fazendo, que era Publicidade. Desde então, comecei a viver com meu próprio dinheiro, depois que me formei fui promovido na empresa e meu salário triplicou.
Minha vida estava ótima, tinha meu apartamento, meu carro e um namorado que amava demais, pelo menos era o que eu pensava.
Certo dia cheguei em casa e havia um bilhete sobre a mesa:

"Bader,
Desculpe por te comunicar dessa maneira, mas acho que nosso relacionamento chegou ao fim. Conheci uma outra pessoa e não quero mais te enganar. Desculpas sinceras.

Ass Bruno."


Ser abandonado por alguém que você gosta dói, machuca, fere. Comecei a chorar, liguei para minha mãe em Campinas, nessas horas eu sempre procurava os conselhos da minha mãe que sempre vinham em hora certa. -Alô? -Mãe? -Oi filho... -Mãe... O Bruno me deixou... -Mas por que, Bader? -Não sei, deixou um bilhete dizendo que encontrou outro alguém e se apaixonou... -Filho, o que é seu ninguém tira, se ele te deixou é porque algo melhor e merecedor espera por você. -Só você pra me entender, mãe. -Acredite Bader, nada em nossas vidas acontece por acaso. -Será, mãe? -Um dia você vai me dar razão. Não fique chorando por isso meu filho, procure fazer algo para se distrair, quem sabe você encontra um sentido e um incentivo para viver algo novo? -Acho que a senhora tem razão. Obrigado pelas palavras. -Te amo! -Eu também.
Depois de falar com minha mãe me senti bem melhor, só ela conseguia me animar, peguei o jornal e comecei a olhar o classificado de imóveis, decidi que iria comprar um novo apartamento e vender o meu, assim eu me livraria das lembranças do Bruno que marcaram aquele lugar. Durante a semana eu fui trabalhar normalmente, estava abarrotado de projetos, graças a Deus não me faltava trabalho, sendo assim minha vida financeira era bem tranqüila. Teve um dia que estava voltando pra casa, parei no semáforo e me entregaram um panfleto de uns apartamentos recém construídos, 3 dormitórios, 2 vagas, bem amplo. Fiquei interessado e no outro dia fui até o local onde os corretores estavam de plantão, visitei o apartamento decorado e me encantei, era lindo e bem confortável, fechei negócio, poderia me mudar a hora que eu quisesse. Passei um mês negociando a venda do meu antigo apartamento, finalmente consegui vender, depois fui cuidar da mobília do meu novo apartamento, eu queria moveis planejados, quem fossem a minha cara, feitos pra minha casa. Desenhei tudo o que eu queria e como eu queria, depois levei a loja e encomendei tudo, não queria mais nada do antigo apartamento, preferi deixar no passado o próprio passado. Eu estava todo entusiasmado com meu novo apartamento, sem contar que ficava próximo ao shopping, onde eu costumava ir malhar na academia que lá tinha, me mudei em 45 dias. Chegar em casa e sentir aquele cheiro de "novo" era ótimo, a Dani estranhou um pouco, mas com o tempo ela ia acostumar. Eu estava um pouco triste ainda pelo abandono do Bruno, notei que precisava comprar algumas coisas que ficaram faltando pra casa, então decidi ir ao shopping me distrair e levei a Dani comigo. Uma amiga minha sempre dizia que o melhor remédio para a tristeza era fazer compras, comecei a notar que ela tinha razão, me senti muito melhor depois de ter feito compras com a Dani, levei ela ao pet shop pra tosar e até comprei umas roupinhas pra ela. Na volta pra casa coloquei um CD e comecei a escutar música bem alta, fui cantando e dançando, a Dani subiu no meu colo e foi com a cabeça para fora da janela, o dia estava lindo, ensolarado, tudo estava se tornando perfeito até que no cruzamento da Avenida Angélica apareceu um cachorro na frente do meu carro, para não atropelar o cachorro eu desviei e acabei batendo no carro de outra pessoa. Era bom demais para ser verdade, tinha que acontecer alguma coisa para estragar meu dia. O motorista do outro carro não sofreu nada, em compensação eu cortei meu braço, um corte na cabeça, a minha camisa que era branca estava molhada de sangue, só percebi que havia cortado a cabeça quando senti algo quente escorrendo pelos meus olhos, sai do carro para ver o estrago que a batida havia feito, o lado do passageiro do meu carro ficou destruído, a sorte era que a Dani estava no meu colo. -Você precisa prestar mais atenção no trânsito. -Desculpa, você se machucou? -Graças a Deus, não. Mas você está ferido. -Não foi nada. -Sua cabeça está ferida, você precisa de socorro urgente...
Ele tirou o celular do bolso e ligou para chamar ajuda, depois disso não vi mais nada. Acabei desmaiando, acordei no hospital, um pouco atordoado ainda, me lembrava vagamente do acidente, está certo que eu fechei o carro do rapaz, mas ele poderia ter evitado o acidente se não estivesse distraído falando ao celular. Quando acordei ao meu lado estava o rapaz do acidente. -Não tente se levantar, pode afetar sua coluna. -O que estou fazendo aqui...? -Você desmaiou, tem algum parente seu para vir aqui ficar com você? -Não, eu moro sozinho em São Paulo. -Mas você precisa de um acompanhante... Vamos fazer o seguinte, eu vou buscar minha mina na faculdade e depois volto aqui pra saber como estas. -Valeu pela força. -Não esquenta.
O cara era gente boa, diferente de muitas pessoas por ai que por qualquer coisa já arma um circo. Minha cabeça estava com um curativo, meu braço tinha uma faixa e uma tipóia apoiando, às vezes doía um pouco quando eu mexia, a enfermeira me deu um remédio para aliviar a dor que me deu sono, adormeci por um bom tempo, nunca gostei de hospital, desde criança sempre tive trauma de enfermaria, depois de ter caído de bicicleta aos 7 anos e quebrado a perna. No começo da noite o rapaz do acidente voltou ao hospital, bem na hora que eu estava recebendo alta, mas necessitaria de um acompanhante para me liberarem do hospital. -A enfermeira disse que você já pode ir para casa. -É... Perdi meu celular, preciso ligar para minha mãe vir me buscar. -Mas você não disse que mora sozinho em São Paulo? -Eu moro sozinho, mas minha família também não mora tão longe assim. -De onde eles são? -Eles moram em Campinas. -Não vá preocupar sua mãe, eu assino a responsabilidade de te acompanhar, pode ser? -Eu só estou atrasando sua vida... -Não se preocupe, pelo menos eu me distraio um pouco, estou precisando... -O que aconteceu? -Depois te conto. -Ok.
A enfermeira chega para informar que eu estava de alta e já poderia sair, entregou para o rapaz assinar a responsabilidade e fui liberado do hospital. Eu já não agüentava mais aquele cheiro de hospital, não via a hora sair e chegar em minha casa. -Então... Eu vou te levar em casa... -Mas... Seu carro... -É o carro da minha mãe, o meu o seguro já levou para arrumar. -Entendi.
Fomos até o carro, ele abriu a porta para mim porque meu braço estava imobilizado, dentro do carro estava a Dani, que ao me ver não parava de latir. -Dani... Olha o papai aqui... -Eu esqueci de te avisar, sua cachorra ficou na minha casa, minha mãe adorou ela... -Obrigado por ter cuidado dela pra mim. -De nada, sua cachorra é bem comportada e muito esperta, minha mãe adorou. -Acho que ainda não nos apresentamos. -É verdade, meu nome é Daniel. -O meu é Bader. Você é um cara bacana. -Por quê? -Porque eu bati no seu carro e você ao invés de brigar comigo, está me ajudando... -Faria a mesma coisa com qualquer outra pessoa, sou contra a violência no trânsito, porque foi assim que perdi meu pai, e também eu errei por estar falando no celular. -Então é melhor mudarmos de assunto. Você trabalha com o que? -Sou formado em Educação Física, e você? -Eu trabalho com Publicidade e Propaganda... O que foi? -Nada, lembrei da minha ex-namorada apenas. -Entendi. -Nos separamos hoje. -Puxa... Que chato... -Foi melhor assim, nosso relacionamento já não estava dando certo. E você, namora? -Eu não, fui abandonado.
Quando chegamos perto de casa, ele parou o carro em frente ao edifício, onde ficamos conversando um pouco mais. -Eu moro aqui... -Parece ser grande esses apartamentos. -3 dormitórios. -Tudo isso só pra você? -Sim, quando vem minha família para cá eles ocupam os outros 2. -Ah... Então ta explicado. -Daniel... Eu tenho uma dívida com você. -Eu já disse que o seguro vai cobrir o prejuízo... -Por isso mesmo, ficarei em débito contigo. -Não esquenta, você me paga uma balada e fica tudo certo. -Firmeza. Agora eu vou indo. -Falou cara.
Durante aquela semana eu tive que levar o atestado médico na agência onde eu trabalhava, ganhei 3 meses de afastamento por conta do acidente, precisei também resolver alguns assuntos com o seguro por conta do acidente com meu carro, que não tinha nem 1 ano de uso. Os funileiros disseram que em 20 dias meu carro estaria como novo, enquanto não ficava pronto a seguradora me forneceu um outro carro temporariamente. Depois de ficar quatro dias em casa sem fazer nada, resolvi voltar para a academia, para que meu corpo não desacostumasse dos exercícios, mas como meu braço não estava totalmente curado, teria que fazer exercícios somente de pernas. Eu costumava ir sempre à academia na hora de almoço ou de manhã, porque no meio da tarde e à noite eu trabalhava, mas como fui afastado por um tempo do trabalho passei a ir na parte da tarde.
Era meu primeiro dia no novo horário, fui até a academia caminhando, porque ficava dentro do shopping perto de casa. Passei meu cartão na catraca e estava bloqueado, comuniquei a uma garota muito arrogante que estava na recepção:
-Por favor, meu cartão está bloqueado...
-Você é aluno?
-Não... Achei essa carteirinha na rua e vim testar, que por coincidência tem meu nome...É obvio que sou aluno, meu horário é de manhã, mas por esses meses quero fazer à tarde. -Então deve ser por isso...
Com muita má vontade ela liberou a catraca pra mim, depois que fica desempregada sai por ai chorando, dizendo que ninguém da oportunidade... Fui até o vestiário trocar de roupa, guardei a mochila no armário e fui fazer Spiling, 1 hora de pedalada sem parar, fiquei logo na frente, atento ao cenário que o professor criava, no término da aula chegou outro professor, mas como já havia feito e estava um pouco cansado, resolvi lavar o rosto e depois fazer um pouco de esteira. Fui até o vestiário e quando abri a porta senti que havia batido em alguém, quando fui olhar quem era... -Opa... Foi mal... -Você? -Daniel?