terça-feira, 3 de julho de 2007

Capítulo 6 Um estranho dentro de mim

Capítulo 6

Deixei as malas em casa e desci para pegar o carro, pedi para que o Daniel viesse comigo para apresentá-lo a minha família.
-Daniel, vou até a casa da minha mãe buscar a Dani, vamos comigo?
-Até a casa da sua mãe?
-É... Quero te apresentar para minha família...
-Sério?
-Sim, agora que eu sei que amo você...
-Nossa... Eu vou sim, quero muito conhecer a família do meu... Namorado.
-Do quê?
-Meu namorado. Falei algo de errado?
-Estou surpreso, pois você nunca me pediu em namoro.
-E precisa? Você ainda tem duvidas de que eu gosto demais de você?
-Não tenho mais.
Ele me puxou pela gola camisa, me abraçou e começou a me beijar com muitos afagos, carinhos e calor, aquele movimento que ele fazia de me puxar pra junto do seu corpo e afastar, me fazia tremer, era difícil resistir ao charme do Daniel. Depois de aproximadamente dez minutos de beijos e apertões, descemos para pegar o carro. Dessa vez eu fui dirigindo, meu braço já estava bem melhor. Era encantador o jeito que ele me olhava, me tratava, me tocava, comecei a reparar que já não pensava mais no Bruno, reparei que a ausência do Daniel já era notável, estar com ele me fazia sentir bem, sem ele era como se algo faltasse em mim, principalmente quando ele me olhava com aquele olhinho de cachorro abandonado, ai eu não resistia, acho que isso se chama amor.
-Não vejo a hora de voltar para a academia.
-Você não está em condições de pegar peso ainda, mas eu posso montar para você uma série e acompanho todos os dias seu desempenho.
-Hum... Vou adorar...
-Nossa... Eu gosto tanto de você que às vezes chega até a doer.
-Eu também!
-E se você me esquecer um dia?
-Não irei te esquecer, porque você é presente em minha vida e dela nunca mais vai sair.
-Você quer me fazer chorar?
-Veja...
Levei sua mão até meu coração, que palpitava só de ouvir sua voz.
-Nossa... Por que isso?
-Basta ouvir sua voz para ele ficar assim... Como posso esquecer de alguém se ele me lembra todo dia de você?
-Primeira vez que você se declara...
-E também é a primeira vez que eu digo que te amo!
Fiquei emocionado ao ver seus olhos cheios de lágrimas, na hora seu rosto se abriu uma luz, ele não conseguia conter sua alegria e começou a gritar pela janela, com metade do corpo pra fora, os carros passavam e buzinavam, eu tentava puxá-lo pra dentro outra vez, mas ele queria dizer a todo mundo sobre nosso amor...
-Se você soubesse o quanto eu sonhei em ouvir isso de você... Mas dizer que te amo eu já disse, agora preciso dizer a todo mundo... Bader... Te amo... Te amo...
-Pára com isso, você vai cair aí...
-Eu já caí de amor por você há muito tempo...
Ele abriu o teto solar do carro e ia subindo quando eu o puxei:
-Chega, você já gritou o quanto você quis, senta ai e põe o cinto antes que eu leve uma multa.
-Desculpa, amor!
Liguei o rádio e começou a tocar “Lá vem o alemão”, aumentei o rádio e começamos a cantar juntos, com os vidros abertos, os carros ao lado passavam por nós e dava pra ver que as pessoas gostavam e cantavam conosco, alguns buzinavam também, é incrível como existem coisas em nossas vidas que ficam marcadas para sempre, pode ser uma música, um perfume, uma peça de roupa, uma foto ou até mesmo uma data, o que importa é as boas lembranças que a vida nos trás e a saudade que ela deixa.
-Subiu a serra, me deixou no boqueirão, arrancou meu coração depois desapareceu...
-Fiquei na merda, nas areias do destino...
-Olha aquele carro ali...
-O que tem?
-Repara que eles estão cantando com a gente...
-É verdade...
Chegamos na casa da minha mãe, buzinei na porta e escutava a Dani latir sem parar, ela deve ter reconhecido meu cheiro, os cães tem esse sentido bem aguçado, incrível. Minha mãe abriu a porta e a Dani passou por baixo das pernas dela, pulando dentro do carro pela janela, a coitada até chorava de felicidade em me ver.
-Isso que é amor, hein...
-Estava com saudade do papai?
-Filho, ela olhava pra lua toda noite e ficava chorando...
-Ah mãe, é que eu falo sempre pra ela que se eu não estiver por perto é só olhar pra lua que eu me torno presente, a Dani é muito inteligente.
-Vamos entrar, filho...
-Mãe, deixa eu te apresentar o Daniel...
-Prazer, Daniel...
-Prazer, Vivian. Espero que você faça meu filho feliz e não o faça chorar como o de antes.
-Se depender de mim, as lágrimas que seu filho derramar serão somente de felicidade.
Pelo visto, o Daniel ia se dar muito bem com minha família, pois já estava se sentindo em casa, entramos para tomar um café e conversar um pouco, além de matar a saudade que eu estava de todos eles. Sentamos no sofá da sala, peguei na mão do Daniel e abracei a Dani, ele ficou um pouco envergonhado no começo, mas depois viu que meus pais viam com naturalidade e foi se soltando.
-Boa noite...
-Boa noite. Você que é o Daniel?
-Sim.
-Eu sou Felipe, pai do Bader.
-Prazer, senhor Felipe.
-Pode continuar sentado.
-Ok.
-O que você faz da vida?
-Eu sou Professor de Educação Física.
Nessa hora meu irmão Rodrigo chegou junto com a noiva dele, a Millena. O Rodrigo sempre teve bom gosto para suas namoradas, ta certo que cada mês era uma que ele arrumava, mas confesso que ele sempre soube escolher mulher. Ele e Millena já estavam namorando há 3 anos, e noivos há 2, só a Millena conseguiu segurar as rédeas do Rodrigo, o que deixou minha mãe feliz da vida. Ela era uma mulher muito simpática, cabelos acobreados todo repicado, fazia faculdade de fisioterapia, olhos verdes, muito inteligente, corpo muito bem cuidado, já morou fora do país, uma pessoa bonita em todos os sentidos.
-Boa noite... Bader, quanto tempo...
-Millena... Tudo bem? Beleza Rodrigo?
-Firmão cara...
-Bader me conte, como foi em Paris?
-Foi ótimo, Millena. Visitamos aquele restaurante que você sugeriu perto da Basílica, é maravilhoso, fomos também ao Moulin Rouge!
-É assim Rodrigo?
-Desculpa amor... Você sabe que só tenho olhos pra você...
-Depois conversamos sobre isso...
-Bem que você poderia dançar assim pra mim, né?
-Hahaha...
-E Varsalles, você foi conhecer?
-Mas é claro, simplesmente linda!
-Estava muito frio por lá?
-Estava razoável, eu adorei.
-Quando eu fui era verão, um calor insuportável, mas não perdeu o charme daquelas cidades lindas.
-Deixa eu te apresentar o Daniel... Amor, essa é a Millena, noiva do meu irmão.
-Prazer, Millena!
-Prazer, sou o Daniel!
-Você tem bom gosto, Bader. Parabéns.
-Valeu.
-Bader, temos uma novidade pra você...
-Qual?
-Eu e seu irmão já temos data marcada para o casamento.
-Que bacana, já estava na hora mesmo.
-Então... Pensamos em chamar você e o Daniel pra serem nossos padrinhos...
-Nós?
-É... Claro que terão mais, né.
-O que acontece é que a Millena adora o Bader e morreria se ele não fosse padrinho dela.
-Falou tudo, amor.
-Por mim, beleza.
-E então, Bader?
-Eu topo também.
Meu pai foi buscar um espumante na cozinha e trouxe para comemorarmos, procuramos não beber muito, pois ainda íamos pegar a estrada pra voltar. Enquanto todos brindavam, Daniel me levou até o canto e falou no meu ouvido:
-Muito legal sua família, gostaria que a minha fosse assim...
-Eles são uma comédia... Pode considerar sua também.
-Vamos brindar, eu e você?
-Pra quê?
-Brindar o nosso amor, quer motivo maior?
Começamos a nos beijar na sacada da sala, era noite de verão, na rua crianças brincavam, adultos conversavam, enquanto eu e Daniel nos beijávamos no escurinho. Sempre me achei um cara de sorte por ter a família que eu tinha, sempre me apoiando e me dando força quando precisava. Ficamos por mais uns quarenta minutos conversando na sala, meu pai e o Daniel já ficaram amigos, meu pai começou a contar sobre suas aventuras na Aeronáutica, e o Daniel também já serviu a Aeronáutica, parece que seu pai e meu pai serviram juntos, chegaram até a jogar bola no mesmo time de várzea, assunto era o que faltava entre os dois, mas já estava ficando tarde e tive que interromper:
-Pai, precisamos ir.
-Mas já?
-Dorme aqui, filho.
-Não mãe, quero a minha cama, minha casa.
-Ah que pena...
-Mas nós voltamos outro dia, ou vocês vão nos visitar em São Paulo...
-Mas eu vou sim Bader, pode deixar.
-Vou te esperar Millena.
Nos despedimos de todos, e viemos embora, só faltou o Pedro que havia ido acampar com uns amigos. Na volta pra casa, fomos conversando sobre o assunto de sermos padrinhos do casamento, de início eu fiquei surpreso, mas depois passei a amar a idéia, já o Daniel ficou empolgadíssimo.
-Adorei ter conhecido sua família...
-Pelo que vi, eles te adoraram também.
-O que me deixou feliz foi ver que eles aceitam nosso relacionamento com muita naturalidade.
-Desde adolescente meus pais sabem sobre mim, nunca me trataram diferente dos outros irmãos, eles são pessoas livres de preconceito. Quando contei para minha mãe que era homossexual, ela estava costurando uma camisa minha antes de eu ir pra escola, aquele segredo já estava me sufocando e cheguei pra ela já desabafando, contei que era gay e ela perguntou: E...? Claro que estranhei, aí ela me sentou na cadeira da cozinha, olhou nos meus olhos e disse: Homossexual não ama? Não respira? Não chora? Não sofre? Onde está a diferença? Você saiu daqui de dentro, eu sofri pra ter você, passei nove meses esperando pra ver sua carinha, ouvir seu choro, esperei um ano pra ouvir você dizer “mamãe”, passava noites em claro cuidando das suas cólicas... Acha mesmo que eu seria capaz de deixar de amá-lo por isso?
-Nossa... Sua mãe é demais, pena que a minha não é assim.
-O lado homossexual que é mostrado por aí não condiz com nossa realidade, ser homossexual não quer dizer que eu vá querer me vestir de mulher, usar batom, colocar peito, não é isso...
-É verdade.
-Nós somos homens comuns, iguais a outros homens, somente temos preferência por homens, mas nada interfere em nossa personalidade ou capacidade de sermos o que somos.
-É, eu sei muito bem como é, também pensava assim. A visão quando se está dentro é bem diferente da que vemos de fora. Mas eu não gosto de homens, gosto só de você...
Parados na rua do condomínio do Daniel demos um longo beijo, nos despedimos e depois segui para minha casa, cansado e com fome. Ao chegar em casa a Dani foi cheirar todos os cantos, coloquei as coisas dela em um dos quartos e fui desfazer minhas malas, tirei todas as roupas e coloquei sobre a cama, depois fui tomar um banho com os cosméticos que trouxe da França, hum... Cada coisa boa... Após o banho, fiz uma salada de alface americana com tomate e um suco de abacaxi. Peguei o prato e o copo, fui jantar na sala de frente para a TV, quando entrei na sala comecei a sentir frio, o mais estranho era que a noite estava quente, nem havia dado tempo de abrir as janelas ainda, levei a mão à testa e notei que estava com febre, tomei um remédio para baixar a febre e fui jantar. Depois de jantar, fui até a cozinha e coloquei a louça dentro da lavadora, deixei-a se encarregando da lavagem enquanto fui escovar os dentes, depois vesti uma cueca samba canção e fui ver TV, fiquei deitado na sala assistindo um documentário até o telefone tocar:
-Alô?
-Alô, Bader...
-Oi Dani...
-Não me chame de Dani, se não vou pensar que está falando com a cachorra...
-Hahaha... Desculpa amor...
-O que você está fazendo ai de bom?
-Eu jantei há pouco tempo e fiquei aqui vendo um pouco de TV.
-Você está com a voz um pouco rouca...
-Eu não sei o que está acontecendo, do nada fiquei com febre, agora estou ficando rouco.
-Deve ser a diferença de temperatura, lá estava tão friozinho...
-Deve ser, e você o que estava fazendo?
-Eu estava passando pro computador as fotos que tiramos, ficaram lindas.
-As que tirei com minha máquina eu passo amanhã, não vou trabalhar mesmo...
-Pode deixar que depois eu te mando em CD, me acabei de rir com o vídeo que gravamos em Versalles...
-Hahaha... Deve ter ficado engraçado.
-Ficou demais, amanhã eu vou até ai para supervisionar seus exercícios.
-Hum... Vou esperar ansiosamente...
-Nos vemos amanhã então.
-Beijão.
-Te amo.
-"Moi aussi."
Depois de desligar o telefone, desliguei a TV e fui dormir, acabei dormindo em outro quarto, porque as roupas da viagem estavam todas sobre minha cama e acabei ficando com preguiça de tirar. Durante a noite inteira eu passei mal, tive febre outra vez, levantei para ir ao banheiro e estava mais uma vez com diarréia, senti fraqueza ao levantar da cama, me olhei no espelho e me achei um pouco abatido, quando ia me deitando outra vez comecei a sentir ânsia de vômito, corri para o banheiro, ajoelhei próximo ao vaso e tentei vomitar, mas não consegui, era uma sensação horrível, meu corpo estava dolorido, um mal estar vinha me consumindo cada vez mais, a febre não baixava, troquei de roupa, desci até a garagem e peguei o carro para ir a uma farmácia 24 horas comprar outro remédio para febre e um para diarréia. Só não entendi o por que disso tão de repente, será que eu comi alguma coisa que me fez mal? Mas o Daniel e eu comemos a mesma coisa e só em mim deu problema, o melhor a fazer era ir ao médico mesmo.

Um comentário:

Il Bastardo disse...

Atualiza ae...
Estou curioso!