quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Meia Despedida...

Hoje eu acordei cansado, ñ em "deprê", apenas cansado.Durmi muito mal, acordei e fiquei assitistindo um filme, q no caso era de terror. O filme acabou, veio "O Corujão" e ainda meus olhos estavam abertos e minha mente ñ parava de pensar qq tinha algo errado comigo....Sou uma pessoa q procuro sempre está me olhando de dentro p/ fora e posso dizer q se estive acordado madrugada afora é pq algo não está em harmonia em minha vida....Tudo começou á tarde, entrei no Uol e fui na sala de bate papo dos "Bissexuais"...
Entrei na janela e fiquei dando uma espiada nos nicks ... sai de uma entrei em outra, sai de outra e mais outra..... Em todas ... só conseguia ficar olhando os nicks e não entrei realmente em nenhuma ñ tava em nenhum momento down e também nenhum momento de carência.... Veio a minha mente "Por quê você está fazendo isso?"!!! Juro que esta pergunta bateu fundo em mim....Por alguns minutos em frete ao PC e olhando os nicks fiquei pensando q eu sou um cara legal, e n vou aqui fazer falsa modestia sou mesmo eu acho kkk.... Tenho uma certa inteligência um bom papo uma vida estável eblablabl'a me sinto bem sucedido profissionalmente e até realizado no ambiente familiar apesar dos pesares ... E tenho que ficar "caçando"!!!É normal fazer isso... muitos podem me dizer.... Também achava isso, mas dai vem aquela coisa de você mesmo ficar se sentido desvalorizado...Ao entrar nestas "salas" rarissimas são as vezes que eu tenho q digitar algo, pois as perguntas são sempre as mesmas e as repostas já estão na memoria do PC. Uns q se dizem bons de papos acabam a conversa quando conseguem obter a resposta se é ativo ou passivo, ou se você é sarado e tem "cam" para bater uma....Juro que cansei.... Cansei de bate papo; cansei de e-mail; cansei de blog msn então cansei até mesmo deste cara que está escrevendo agora.... Se fui capaz de superar meus medos e superar dificuldades.. também serei capaz de mudar eu preciso disso.... Poderia ter pensado nisso a um ano atraz mais ou menos mas ~m adianta chorar pelo leite derramado a vida e como um livro a kd pagina uma nosa surpresa...
Este ano foi marcado por muitas mudanças em minha vida e tudo veio de uma vez...Uma hora era o cara do interior, preso dentro si... Em outro momento sou o cara q está vivendo sensações e emoções que não tivera vivido antes. Mulheres, homens,câncer, filhos, irmãos, emprego, amigos... Tantas coisas vindo e batendo de frente a mim, do tipo "você é forte leva mais essa", não sou tão forte assim, confesso....Estou com a cabeça confusa, n sei se foi por causa da noite mal dormida, ou realmente pq eu estou cansado de está neste turbilhão.... Apesar disso eu sei que não é momento "deprê" e também não é carência. Sei disso, porque não estou sentindo falta de um colo, é algo comigo mesmo....Vou sair de férias.... Tenho q me encontrar e saber quem será o cara que entrará 2008 ou ja encontrei e vou continua sem esse ecesso de carencia ... Não quero receber um ano novo onde eu posso criar, contruir , realizar, tendo momentos como estes... Sinto a necessidade de mudar minha vida mais uma vez e estou disposto a pagar o preço de uma mudança dessas....Este não é um post de despedida mas certamente que vou ficar um bom tempo afastado do mundo virtual ... incluindo-se ai e-mail´s , msn e tudo que foge a minha vida real.... Vou ficar bem e não se preocupem se demorar a voltar, é o tempo que precisarei para mim mesmo ou volte para postar momentos de minha vida ....
Desejo q todos tenham um natal em harmonia e um novo ano repleto de momentos de felicidade e conquistas....Obrigado a todos que estivem comigo nos momentos alegres e dificeis.. . A todos que torceram por mim, por minha familia, muito obrigado mesmo...

Mensagem:Posso não tido a capacidade de escreve um bom começo, mas sou capaz de fazer um novo fim.

Essa menssagem e pra vc caro amigo de BH... okPense Reflita... abraços...

Nunca se eskeça cara.. que cada momento de nossa vida é unico, tem coisas que ficarão para o resto de nossas vidas. Vencer os proprios medos é a maior conquista que podemos ter, é uma conquista só nossa.Ainda vais viver muitos momentos felizes em tua vida, ainda vai levar muitos foras, mas sempre o que ficará serão as investidas que deram certas, o sucesso é o q fica na lembrança!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

dia dia

Estava estes dias na net no bate papo a muito tempo q n entrava.
Fiquei observando muitas pessoas q estava com nicks "Solitário" solitário carente" etc.
Fiquei pensando q é sina dos "gays" principalmetne acima de 30 anos ficarem solitários.
Teve um com 35 anos que teclou comigo e me perguntou se eu por ser mais jovem, curtia caras acima de 30 anos. Disse q n tinha nada contra e perguntei pq ele tinha me feito esta pergunta? a resposta até q me surpreendeu disse q a maioria dos caras mais novos n curtem pessoas mais velhas por isso sempre tem mais solitários entre 30 e 50, do que entre 15 e 29 anos....
Ainda n tenho medo de ser solitário, + acredito q muito dos momentos de altos e baixos q temos é devido a carência e, principalmente, a solidão. Observo outros vizinhos de blogs, aqueles qe têm alguém n entram em momentos "deprês" como nós os solteiros e sós. Eles estão mais envolvidos em problemas do relacionamento ao contrário de nós q estamos sempre a procura de alguém que nos complete....
O foda é que até conseguimos achar pessoas q pensam como nós são inteligentes
tem jeito de homem e tal porém não se encaixam no perfil que gostamos e ai desconsideramos tudo o que tá dentro do cara por causa da "carcaça" (aparência fisica).
Talvez esteja ai o motivo por terem tantas pessoas solitárias pricipalmente ente nós (os não afeminados)....
Não vou ser hipócrita e dizer que aparencia n importa, sim, + na medida certa. N vou esperar achar um principe de olhos azuis sarado com furo queixo e um sorriso colgate.
Meu grau de exigência existe mas n é alto e acho q assim meu leque de opções aumenta e minha chances de ser mais um com nick "boy alone" diminue.

Quero para de pensar tanto, kkk!!....

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Um belo dia


"Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o q eu queria fazer, me libertei daquela vida vulgar"Um certo dia de meados de 2007 eu resolvi colocar meus medos de lado e buscar viver o q até então era tabu para mim. Comecei a por fim a uma guerra sem razão...Esperava encontrar 1% de pessoas decentes q quisesse algo além do simples sexo e 99% de lixo. A promiscuidade era a palavra q descrevia esse "meio" q estava entrando. Não acreditava que dois homens fossem capazes de construir um laço forte que perdurasse por mais do algumas fodas. As pessoas q encontraria, simplismente sumiriam da minha vida após gozarem.


O primeiro ocorreu isso, só confirmou o q eu já esperava. Mas, me dispus a encontrar o 1%. Nesse caminhar me apaixonei pelo segundo e este se demonstrou um ser humano fantástico, desprovido de tudo de ruim que minha mente tinha plantado. Qndo não foi possível viver com esta pessoa a paixão q tinha em meu peito, sofri , porém me enchi de esperança q se existia ele , outros também apareceriam p/ balançar meu coração.

Paciência... eu sabia q em alguns momentos eu poderia ficar sem esperança, cansado, triste para baixo nessa espera mas q tinha q me manter na minha linha pois se eu me vejo com uma pessoa legal, tinha q encontrar um que fosse próximo.Veio o terceiro, q me trouxe uma forma de simplificar essa bissexualidade existente em mim. Era mais simples do q pensava. Não era ele ainda que seria meu complemento, mas seria ela o meu amigo LOKO que tanto me faz rir. Que me faz sair de balada de uma hora para outra, com sua febre por ouvi uma sonzeira na nigth e tomar 1 cerveja (umas 10, kk).


Até q, finalmente, veio aquele q torna muitos momentos de meu dia leves, risonhos e brilhantes. Pensando em seu sorriso já me alegro; pensando em sua companhia, me conforto; pensando em sua existência em minha vida já me sinto feliz pensando nele junto a mim, já vejo a vida com mais sentido. Longe, a falta aperta meu peito, a saudade aumenta e o desejo de agarrar, apertar, morder, kk, vem tudo misturado. Adoro você cara e sinto sua falta a cada instante do dia, não sai de minha mente e nem de meu coração.















segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Momento Depre...


Lembro-me quando tinha meus 20 anos q morava sozinho. Era uma solidão ficar em casa ficava buscando o q fazer no fim de semana. Enfiava me com meus amigos heteros em baladas e mesmo cercado por eles me sentia sozinho. Bebia na sexta p/ ter ressaca sábado e ficar dormindo até tarde. Depois, acordava, grudava na TV e esperava o tempo passar. Domingo era o terror, so de imaginar q talvez não saisse de casa e teria que assistir "Faustão" já ficava triste e melancólico. Qdo chegava o toque do fantástico era o fim. Nossa não sei se só ocorre comigo, mas ouvir a abertura do fantástico é deprimente kkkk parece q algo teve um fim e as coisas vão ficar difíceis, já entramos no clima da segunda, RS.... Vixe!!!


sábado, 1 de dezembro de 2007

Amigos


Tenho aqueles amigos q mal nos conhecemos, e ja temos toda a intimidade do mundo. Falamos sem medo de sermos julgados, recebemos os melhores conselhos, e sentimos que tudos os q eles nos falam é p/ nosso bem. È um gostar sem motivo, sem causa, simplismente se gosta."Amizade e felicidade repartida"O legal de ter amigos assim e q a distância não importa, a pessoa pode está na Bahia, No Rio de Janeiro ou simplimente na Zona sul de Sampa q a intensidade e o carinho é o mesmo."A amizade diminui distâncias.Embora longe, o amigo é alguém perto de nós."

Sempre que encontramos um amigo,encontramos um pouco mais de nós mesmos...

"Quando se tem um amigo e uma grande paixão, ambos os sentimentos coexistem dentro do coração”.Sempre quanto estou assim feliz, me vem a mente q n precisamos sermos ricos p/ podermos viajar e nem ter uma BMW coupê na garagem p/ a poder curti com os amigos. Temos q ser verdadeiros conosco primeiramente, pois assim, outras pessoas verdadeiras acabam por nos encontrar ou acabamos por encontrá-las." Rico sem amigo é pobre"


Amores e amizade: Existe razão para a vida !!!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fiz minha escolha


Fiz minha escolha ... dei mais ouvidos á minha voz interior e estava disposto a pagar o preço q fosse ... caso tivesse errado. Superar o q nos dá medo é muito compensador... Chegar um ano depois e dizer q lutei , venci , continuo ganhando é muito prazeroso....Hoje admiro a nossa (de todos nós) capacidade de mudar nossas vidas.... Corremos o risco de dá errado, pq faz parte da vida também... + na mesma proporção corremos o risco de dá certo também. Comigo deu certo...
Além de ter me aceito.. está me sentido leve e verdadeiro comigo mesmo, nesse tempo q se passou conseguir amigos q seguirão comigo pela vida afora... Consegui ser mais forte ainda consegui compartilhar com minha amiga mais coisas de minha vida e o maior de todos os ganhos q foi ter encontrado ou ser encontrado por alguém q eu tenho extrema admiração e que compartilha comigo essa fase feliz de minha vida... Um presente depois de tantas batalhas próprias...
Só dou um toque a quem passa pelo que já passei: ñ busque felicidade em outras pessoas, objetos, bens ou grana, o máximo q essas coisas e pessoas podem fazer por vc é acrescentar mais felicidade. Encontre a felicidade dentro de você primeiro, pq depois só terás q dividi-la com alguém. Quem me conhece sei que são poucas sabe do que estou dizendo ... tenha um bom dia pra vcs ...














quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Eu, solitário sempre solitário, eu seguia minha vida preso dentro de mim com uma desesperança profunda no meu coração, sentia q minha alma doía. Perguntava a Deus diariamente por q ele tinha me feito desse jeito, por q tanto anos de angústia?Ligava p/ minha melhor amiga para dizer q eu estava mal, + não tinha coragem de falar o real motivo daquela angústia. O q antes eu só pensava quando estava em companhia de meu travesseiro agora, já era parte também do meu dia a dia, já começava a atrapalhar meu desempenho profissional, consequentemente minha vida financeira.
Assim era eu há 12 meses atrás. descrevo-me assim p/ dizer o quanto somos capazes de nos transformar... Há 1 ano atrás eu estava à beira de uma depressão... No auge do conflito entre aceitar-me ou segui aquela vida e um dia, quando estivesse velho ou em um leito de morte me arrepender de ter deixado de viver, talvez nem morresse pela doença e sim pela amargura. vida é feita de escolhas também q podem ser as certas ou erradas + precisamos escolher na esperança de ser a escolha correta...Tivesse eu escolhido segui na mesma angústia, certamente q estaria com meus comprimidos no bolso ao invés de uma camisinha, kk; uma lágrima a um sorriso como tenho hoje; a solidão á felicidade q me acompanha atualmente. Somos capazes de escrever nossa própria história, de virar a mesa as vesez hauahaa

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Verão

Ah... O verão!!!Dizem que é a estação da perdiçãoÉ por que é no verão que vc faz tudo aquilo que vai contar para seus netos, bisnetos e tataranetos, um diaÈ no verão que o amor floresce...O amor a preguiça...Amor ao sol...Ou até mesmo o amor a uma sirigaita ou a uma dúzia de sirigaitasPorque não???Seja otimista, rapaz!!!!Vai contar o que para o neto????Que ficou jogando... o dominó!!Não!!Vai contar que pulou da pedra...Comeu churrasco...Deu cambalhotas...Essas coisas, que a gente só faz no verãoAh... VERÃO...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007






Hoje eu abri a caixa dos meus óculos e encontrei os seus. Aqueles que você me emprestou quando fui a tua casa, porque eu tinha esquecido os meus. E fiquei sem me entender porque eu não os devolvi.Foi aí que eu lembrei: tem uma cueca minha por aí. E uma camisa sua por aqui.Aí me veio à cabeça aquela vez em que jantamos juntos. Não em um restaurante chique, como em nosso aniversário, mas aí em sua casa mesmo. Preparei uma torrada pra você, meio gelada, meio queimada, não sem antes cozinhar na chama do café seu pano de prato e quase destruir as suas taças de vinho.Aí me perguntei o porquê de tudo isso.E lembrei de uma história que minha mãe me contava, cada vez um pouco diferente, dependendo do grau de sono em que ela se encontrava:
"Era uma vez dois irmãos, meu amor, João e Maria, que espalhavam miolos de pão pela floresta com medo de se perder. "Cuecas, camisas, o leite de soja em sua geladeira. Tudo isso não passa de miolo de pão.Tudo isso é vontade de voltar pra sua/nossa casa.Tudo isso não passa de vontade de ficar com você.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Fora Do Ar

Olá galare estou meio fora do ar no momento quem quiser ver o final do livre me add no msn que mandeiro completo abraços meu msn bta no meu perfil abraços ....

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Capítulo 8

Capítulo 8

Tomei banho, passei meu perfume pra ficar cheirosinho, vesti roupa nova e fiquei na sala esperando o Daniel ir me buscar, ansioso para ver aquele rostinho inocente que ele tinha. Quando eram quase 21h a campainha tocou, fui atender correndo, eu já quase nem tinha mais unha de tanto que roí, ao abrir a porta ele entrou com tudo me beijando, prendeu meu corpo junto a estante da sala, eu adorava quando ele fazia isso, seus beijos eram selvagens, quentes, mas ao mesmo tempo carinhoso, às vezes ele fazia um estilo cafajeste que me levava à loucura.
-Como você está cheiroso...
-Estou cheiroso pra você!
-Mas você já é cheiroso sem passar perfume...
-Te amo, sabia?
-Eu também te amo, "petit"! Vamos?
-Sim.
Fui pegar minha carteira que estava no criado-mudo do meu quarto, Daniel abriu a porta da sala e ficou segurando até eu sair, sempre gentil comigo e com todo mundo, isso era mais um de seus encantos. Fomos até o estacionamento de visitantes do condomínio onde ele havia estacionado seu carro, entramos na caminhonete preta dele e seguimos pelas ruas de São Paulo, com os vidros do carro fechado em uma noite quente, liguei o ar-condicionado:
-Nossa... Ta muito calor, vou ligar o ar...
-Por favor...
-Sabe que eu adoro essa parte da cidade?
-Eu também gosto muito do Centro à noite, pena que não se pode arriscar muito andando por essas ruas...
-Olha essa vista do Municipal...
-Vamos tirar uma foto?
-Eu não estou com a câmera aqui.
-Deixa que eu tiro do celular...
-Vou parar o carro.
Daniel parou o carro em frente ao Teatro Municipal e tiramos uma foto com o Teatro de fundo, apesar de ser pelo celular a resolução ficou ótima. As ruas estavam vazias e haviam alguns casais de namorados passeando de mãos dadas, deveria estar tendo algum evento no Municipal, pois havia uns canhões de luz na porta, tapete vermelho e uns seguranças, ás vezes batia uma brisa fresca, mas a noite continuava quente. Entramos no carro e seguimos para o lugar onde iríamos comemorar nosso aniversário de namoro, deixei que ele escolhesse, não dei palpite em nada porque sabia que o Daniel tinha bom gosto. Chegamos ao lugar onde ele havia programado me levar, era uma espécie de bar/restaurante com música ao vivo, o lugar que ele escolheu era muito agradável, sofisticado e a comida era ótima, muita gente bonita e os funcionários bastante simpáticos.
-Boa noite!
-Boa noite. Eu tenho uma mesa reservada em nome de Daniel Marzin.
-Podem me acompanhar.
-Obrigado.
Fomos acompanhando o garçom até chegar na mesa reservada para nós, caminhando entre as mesas eu ia observando o lugar, notei que o pessoal que freqüentava o local era um público jovem e bonito, a decoração era em estilo rústico/moderno, havia mesas para duas, quatro, seis e oito pessoas, a mesa que estava reservada para nós estava bem no canto, uma vela em cima da mesa que boiava sobre um recipiente com água, a música que tocava era ambiente, uma garota muito talentosa cantava “Teto de vidro” da Pitty.
-Gostou do lugar?
-Adorei, você sempre tem bom gosto...
-E você é minha inspiração.
Ele tocou na minha mão e olhou no meu olho, respirei fundo e fechei os olhos, os carinhos que ele fazia na minha mão me faziam relaxar, me apaixonar, nossa relação era aquele tipo de "amor perfeito", tudo lindo, tudo perfeito. No jantar comemos pato ao molho de manga, confesso que no começo quando ele disse "pato ao molho de manga" eu fiz uma careta, mas quando eu comi comprovei o quanto era bom, e que meu amor como sempre, acertou. No decorrer do jantar conversamos sobre nossas vidas, planos para o futuro.
Antes de acabar o jantar, ele se levantou e disse que voltaria logo, fiquei aguardando sentado na mesa terminando de comer meu bolo de chocolate, de repente a música parou de tocar, uma voz começou a falar no microfone e quando olhei para o palco, o Daniel estava sentado no lugar da garota com um violão na mão se declarando pra mim, no telão passava nosso vídeo de Paris.
-Já volto.
-Tudo bem.
-Boa noite a todos! Bem... Hoje estou comemorando 6 meses de namoro, 6 meses de felicidade e alegrias. Conhecer você Bader, foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida, o amor que sinto por você é tão grande que às vezes até dói, com você eu quero viver pra sempre. Em nome de todo esse amor que sinto por você, eu vou cantar uma música dedicada a você.
Eu fiquei sem reação na hora, pra mim só iria ter o jantar, ele pegou o violão e começou a tocar olhando pra mim, às vezes fechava os olhos e parecia tirar a música do fundo do coração, cantava com a alma, uma verdadeira declaração de amor.
-“Eu e você.
Não é assim tão complicado Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer
Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei você vai rir da minha cara
Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar
Teu sorriso é só disfarce
E eu já nem preciso
Sinto dizer
Que amo mesmo,
Tá ruim pra disfarçar
Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contramão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida
Eu procurei
Qualquer desculpa
Pra não te encarar
Para não dizer
De novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já não to nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Lê no meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Por que eu já nem preciso
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida.”

Composição: Dudu Falcão

Essa música tinha tudo haver com nossa história, acabou virando “nossa” música, o ambiente todo começou a cantar junto com ele, os casais se abraçavam e trocavam carícias, enquanto isso eu tentava conter minhas lágrimas, mas foi impossível não se emocionar, só vivendo uma situação assim para saber como é a sensação de receber uma declaração de amor em público, pra se fazer algo assim tem que amar muito a outra pessoa, pois eu achei uma verdadeira loucura. Depois de cantar a música ele foi aplaudido de pé por todos, pelo visto todos adoraram, até o pessoal da cozinha foi ouvir ele cantar, meu coração disparou quando o vi se dirigindo até a mesa onde eu estava, havia uma garota na mesa ao lado da nossa que estava com seu namorado que olhou pra mim e disse:
-Parabéns pelo namoro e pelo namorado...
-Obrigado.
O Daniel parou na minha frente, pediu para que eu fechasse os olhos e colocou uma venda em meus olhos, pegou pela minha mão e foi me conduzindo, no começo fiquei com medo, não sabia o que ele iria fazer colocando aquela venda nos meus olhos, mas confiei nele e permiti, fui caminhando de mãos dadas com ele até o carro, eu perguntei onde estávamos indo e ele falou que era segredo. Fiquei um bom tempo andando de carro sem ver nada, quando já estava quase tirando a venda senti o carro parar, ele segurou minha mão e pediu para que eu não estragasse a surpresa que ele havia preparado pra mim tirando a venda, então acabei deixando a venda onde estava e ele foi me conduzindo, deixei o carro, o local tinha eco, deveria ser uma garagem, subi alguns degraus tropeçando, depois um silêncio tomou conta do ambiente que foi quebrado por um barulho de porta sendo fechada, foi quando ele disse para eu tirar a venda:
-Já pode tirar...
-Mas está escuro...
Estava tudo escuro, quando ele acendeu a luz meus olhos brilharam, eu estava dentro de um quarto de motel, sobre a cama havia um urso de pelúcia enorme branco com um laço vermelho no pescoço, era maior que eu, havia espalhado por todos os cantos pétalas de rosas vermelhas, no chão, na cama, até no banheiro, dentro da banheira havia algumas velas aromáticas boiando na água e pétalas de rosas vermelhas misturadas com amarelas, aquele ambiente um pouco escuro, apenas iluminado pelas velas que decoravam o lugar e algumas luzes decorativas, um quarto bem sofisticado, a cama era enorme, lençóis brancos, quatro travesseiros, no banheiro tinha dois roupões de banho, chinelo, escova de dente e outros produtos de higiene pessoal.
-Gostou?
-Nossa... Adorei...
-Você que fez tudo isso?
-Não, mas contratei alguém para deixar do jeito que eu queria...
-Ficou lindo.
-Lindo é você.
Começamos a nos beijar, abraçados eu já podia sentir as batidas do seu coração, seu braço atravessou minhas costas aproximando mais ainda meu corpo do seu, sobre aqueles lençóis brancos em contraste com o vermelho das pétalas nos deitamos.
-Petit, eu te amo tanto que às vezes chega até a doer meu peito.
-Só de pensar em ficar longe de você um dia eu tremo, não consigo mais viver minha vida sem você, meu futuro é você comigo.
Deitamos naquela cama já em brasa, o clima foi esquentando, de corpos nus tocávamos calor humano, já não conseguíamos distinguir o que era gemido de dor e de prazer, pois os dois se fundiram tornando-se uma coisa só, um corpo apenas, um repasse de energias que se transformavam em combustível que aumentava nosso tesão, seu corpo gelado e suado se arrepiava quando sentia minha língua explorá-lo, aquela sua mão grande puxava meu cabelo com cuidado para não me machucar, em movimentos desordenados, às vezes ele tremia quando sentia uma “fisgada”, fizemos amor gostoso, sexo selvagem, seu corpo coberto de pelos serrados esfregava no meu corpo liso, transamos na cama, no chão, na hidromassagem, sem intervalos até o amanhecer. O Daniel tinha muito fogo, se deixasse ele conseguia seis, sete em uma noite, além de fogoso ele era gostoso, por sermos jovens acho que contribuía muito, juntando seu fogo com o meu nos tornávamos uma fogueira impossível de apagar.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Capítulo 7 Um estranho dentro de mim

Capítulo 7

Na manhã seguinte, acordei cedo e fui preparar o café, coloquei uma toalha branca na mesa como de costume, capuccino, brioches, pão de queijo, suco de maracujá, salada de frutas, barras de cereal, enfim, como todos os dias eu fazia. Depois de tomar café, fui passar as fotos da câmera para o computador, realmente ficaram lindas, tinha uma que o Daniel estava abraçado comigo no castelo de Versalles, de rostinho coladinho com o meu, ficou tão linda que mandei fazer um pôster para presenteá-lo, também imprimi para colocar no porta-retrato e transformei em papel de parede do meu micro.
Lá pelas 9:00h o Daniel chegou, como o porteiro já o conhecia permitia que ele subisse sem problemas, fui atender a porta e como sempre ele trouxe algo para me agradar, uma caixa de bombons de chocolate com licor.
-Bom dia, amor!
-Bom dia!
-Trouxe isso aqui pra você... E isso também...
-O que é isso?
-Um CD.
-Jura?... Que é um CD eu sei, quero saber o que tem nesse CD.
-Coloca lá no DVD que você vai ver...
Coloquei a caixa de bombom sobre a mesa e fui ver o que tinha no CD que ele me trouxe, a capa do CD era nossa foto e de fundo a Torre Eiffel, muito linda a montagem. Liguei o DVD e sentei no sofá, ele deitou no meu colo, começou a tocar uma música e um céu foi se abrindo na frente da TV, de fundo veio surgindo nossa foto, depois a foto se desfazia e vinha um poema que ele fez pra mim, só de ouvir a música comecei a me emocionar, depois foram passando varias fotos nossas da viagem, correndo pelas ruas, provando chapeis nas bancas da rua, em frente à torre Eiffel, tudo era lindo, as dedicatórias que ele fez nas fotos ficaram perfeitas, o slide terminava com uma foto onde nos beijávamos e de fundo o por do sol decorava o cenário de amor.
-Gostou?
-Amei! Só você mesmo...
-Agora vamos lá fazer uns exercícios, afasta essa mesinha daqui e deite aí no tapete.
-Sim...
-Agora eu vou segurar seus pés, você vai cruzar os braços de forma que suas mãos fiquem no seu ombro...
-Assim?
-Perfeito. Agora você vai subir e descer 30 vezes sem parar...
-Ok.
Começamos com a Abdominal, Daniel segurava meus pés enquanto eu me exercitava, de frente pra mim ele acompanhava a série de exercícios, a cada vez que eu subia dava um selinho nele, desse jeito eu iria querer fazer exercícios com ele todos os dias, quando completei as séries, ele segurou minha cabeça, trouxe pra junto da dele e ficamos ali na sala nos beijando por uns 5 minutos, até ele me deitar no tapete, olhar dentro dos meus olhos e deitar seu corpo coberto de músculos por cima do meu, me prendendo no tapete da sala de maneira que só sairia dali quando ele deixasse. Eu ainda estava de pijama, ele estava de bermuda e regata branca, pelo que senti, ele parecia estar sem cueca, com uma bermuda vermelha estilo surfista, suas pegadas fortes exploravam meu corpo como um terreno desconhecido, ele levou sua mão por baixo da minha camiseta e ia acariciando parte por parte do meu corpo, minha pele ficava arrepiada quando sentia sua mão com calos alisar minha pele lisa, com o roçar do seu corpo no meu ele ia tirando sua bermuda, que depois de desabotoada saiu facilmente, confirmando a minha suspeita de que ele estaria sem cueca. Com os dentes ele foi arrancando meu short, me deixando totalmente nu, sua respiração já estava ofegante, se misturando com a minha que seguia em ritmos desordenados, o suor que corria pelos nossos corpos era uma mistura de tesão e desejo, com uma pitada de prazer, aquelas coxas grossas com pelos serrados se esfregavam na minha, com os dois corpos totalmente nus ele me pegou no colo e me levou para o quarto, com o pé Daniel fechou a porta que estava aberta e me colocou na cama, o vento soprava pela janela, confundindo com sua respiração. As mordidas na orelha que ele me dava me faziam viajar, gemidos de prazer, arranhões, lambidas na orelha, chupadas no pescoço, no mamilo, muito tesão, sussurrando no meu ouvido varias vezes "Te amo"...
Passamos a manhã inteira no quarto, nos curtindo, nos amando, adormecemos agarradinhos, pele com pele, no lençol ficou a mistura do nosso perfume com nosso suor, foi lindo, gostoso, acho que agora eu sei o que significa "Fazer amor". Acordei quase 13:00h, levantei delicadamente para não acordá-lo e fui tomar banho, encostei a porta do banheiro e deixei a do box aberta, de olhos fechados eu deixava a água cair sobre meu rosto, não demorou muito e o Daniel entrou no banheiro.
-Banho... E nem me chamou...
-Você estava dormindo tão gostoso...
-Gostoso é estar com você, sentir você, beijar você, tocar você, tomar banho com você...
Ele ia falando e chegando mais perto de mim, entrou no box e fechou a porta, me prendeu na parede me deixando indefeso, sobre seu poder, tomando posse do meu corpo e do meu coração:
-Está querendo fugir de mim?
-Imagine... To gostando muito de você, te amo cada dia mais...
-Eu também te amo.
-Tenho medo que esse sonho acabe...
-Mas não vai acabar, confie em mim.
O que eu sentia pelo Bruno era diferente do que o que eu sentia pelo Daniel, agora eu consigo perceber que o que eu sentia pelo Bruno não era amor, era apenas uma paixão, uma ilusão, sendo meu primeiro namorado, primeira paixão, acabei me iludindo, mas não me arrependo, foi importante para meu amadurecimento e crescimento como pessoa.

Meses se passaram, eu e Daniel já íamos comemorar 6 meses de namoro, como passou rápido, a cada dia que passava mais eu o amava, parecia um sonho, nos entendíamos em todos os sentidos, nunca havíamos brigado, às vezes eu me perguntava se merecia tanto, meu único medo era que aquela história de amor por algum motivo um dia viesse acabar. Conheci o Daniel em uma ocasião muito louca, não sei se é obra do destino, não acreditava nessas coisas, só sei que aquele jeitinho dele me olhar fazia meu coração disparar, aquele olhar de cachorro abandonado, sorriso perfeito, lábios carnudos e safados, com seus 187 cm de altura preenchia minha cama e minha vida, tapando os buracos deixados pelo passado.
No dia em que estávamos comemorando o aniversário de 6 meses de namoro havíamos marcado de jantar fora, o Daniel ficou encarregado de escolher o lugar, como ele sempre teve muito bom gosto para esse tipo de ocasiões, preferi deixar por conta dele. Durante o dia eu fui ao shopping comprar um presente e roupa nova para jantar com meu "petit" (Era assim que ele me chamava). Comprei calça, camisa, sapato, cinto, tudo novo, e de presente eu comprei um pingente de ouro branco com brilhante, era um Ideograma Japonês que significava "Amor".
Antes de o Daniel chegar, ele estava em seu quarto se preparando para passar em casa quando sua mãe entrou no quarto furiosa:
-Daniel...
-Fala, mãe...
-Quem é Bader de que você tanto fala?
-Meu amigo, por quê?
-Amigo que beija na boca?
-Do que a senhora está falando?
-Estou falando dessa foto...
Ela jogou uma foto em que estávamos abraçados no Louvre, na nossa viagem à França, atrás havia uma dedicatória minha pra ele.
-O que há de errado com essa foto?
-Eu não acredito, deixa de ser falso, eu não quero ter um filho bicha.
-Olha como à senhora fala comigo.
-Então olhe você as companhias com quem anda saindo.
-Não fale assim do Bader, eu sei muito bem com quem eu saio.
Ela sentou na beira da cama e começou a chorar, com a mão no rosto ela lamentava:
-Por que isso tinha que acontecer comigo?
-Mas eu continuo sendo o mesmo Daniel de sempre...
-Só falta você me dizer agora que quer meus brincos emprestados...
-Já chega, mãe. O fato de estar amando um homem não me faz menos homem do que qualquer outro. Não tenho intenção de usar colares, pulseiras, por silicone e nem cortar meu pinto...
-Me respeite, Daniel.
-Me respeite a senhora que chega invadindo meu quarto dessa maneira como se tivesse algum poder sobre minha vida, eu estou feliz com meu corpo, continuo sendo o mesmo Daniel de antes, só que amando um outro homem.
-Você acha fácil pra uma mãe abrir uma pasta no computador e encontrar um monte de fotos do único filho dela beijando outro homem? E depois encontrar uma foto com uma dedicatória de amor?
-Mãe...
-Meu sonho era ser avó, quem vai herdar os patrimônios que seu pai deixou?
-Eu vou herdar.
-Quem vai dar continuidade ao nome da família?
-Chega mãe, deixe de ser egoísta. O tempo todo você só pensou em você...
-Mas Daniel...
-E eu? Meu coração? Meus sentimentos? Eu A-M-O o Bader, minha vida sem ele já não tem mais sentido...
-O que a sociedade vai dizer...
-Foda-se o que a sociedade vai dizer, eles não tem o que dizer, enquanto tivermos dinheiro para freqüentar os mesmos lugares que eles, seremos tratados como "gente deles". Não tenho motivos pra esconder de ninguém os meus sentimentos.
-Mas meu filho, é pecado...
-O que é pecado? Quem disse que é pecado?
-O padre disse na missa que...
-Ah... O padre... A igreja... A mesma igreja que no século retrasado dizia que negros não eram filhos de Deus? A mesma igreja que pede dinheiro na missa? Que matava as pessoas na Santa Inquisição?
-Bader...
-Onde que Deus diz que é pecado amar? Se homossexualidade não fosse coisa de Deus, ninguém nasceria estéril, já que a filosofia da igreja é que o sexo só serve para procriar. Mãe, eu quero que a senhora entenda uma coisa: Assim como a senhora ama sua mãe eu amo o Bader, e por a senhora amar sua mãe não é considerada homossexual, só porque ela é sua mãe, mas tem o mesmo sexo.
-O que isso tem haver?
-Nada... Não tem nada haver, só quis dar o exemplo de que você não pede para amar uma especifica pessoa ou sexo, isso é um preconceito social, alguém disse que isso era certo e outro alguém obedeceu.
-Pelo menos eu vou poder conhecer esse seu...
-Namorado. Vou conversar com ele, o Bader é um cara legal e vai gostar de conhecer a sogra dele, assim como eu adorei conhecer a minha.
-Você já conhece a mãe dele?
-Não só a mãe, mas também o pai, irmão e a cunhada, fui até convidado para ser um dos padrinhos do casamento do irmão mais velho dele.
-Eles sabem que vocês dois tem um caso?
-Não sou homem de casos, eles sabem que nós namoramos sim, e dão o maior apoio. Agora estou de saída, tchau.
Claro que não é fácil para uma mãe saber que o filho é gay, apesar do mundo estar moderno, ainda existem pessoas conservadoras, preconceituosas, racistas, pessoas que vão passar o resto da vida com a mesma filosofia, mente fechada para as mudanças que o mundo sofre. Daniel pegou a foto da mão de sua mãe, colocou em um quadro ao lado de sua cama, deu um beijo na testa dela e saiu.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Capítulo 6 Um estranho dentro de mim

Capítulo 6

Deixei as malas em casa e desci para pegar o carro, pedi para que o Daniel viesse comigo para apresentá-lo a minha família.
-Daniel, vou até a casa da minha mãe buscar a Dani, vamos comigo?
-Até a casa da sua mãe?
-É... Quero te apresentar para minha família...
-Sério?
-Sim, agora que eu sei que amo você...
-Nossa... Eu vou sim, quero muito conhecer a família do meu... Namorado.
-Do quê?
-Meu namorado. Falei algo de errado?
-Estou surpreso, pois você nunca me pediu em namoro.
-E precisa? Você ainda tem duvidas de que eu gosto demais de você?
-Não tenho mais.
Ele me puxou pela gola camisa, me abraçou e começou a me beijar com muitos afagos, carinhos e calor, aquele movimento que ele fazia de me puxar pra junto do seu corpo e afastar, me fazia tremer, era difícil resistir ao charme do Daniel. Depois de aproximadamente dez minutos de beijos e apertões, descemos para pegar o carro. Dessa vez eu fui dirigindo, meu braço já estava bem melhor. Era encantador o jeito que ele me olhava, me tratava, me tocava, comecei a reparar que já não pensava mais no Bruno, reparei que a ausência do Daniel já era notável, estar com ele me fazia sentir bem, sem ele era como se algo faltasse em mim, principalmente quando ele me olhava com aquele olhinho de cachorro abandonado, ai eu não resistia, acho que isso se chama amor.
-Não vejo a hora de voltar para a academia.
-Você não está em condições de pegar peso ainda, mas eu posso montar para você uma série e acompanho todos os dias seu desempenho.
-Hum... Vou adorar...
-Nossa... Eu gosto tanto de você que às vezes chega até a doer.
-Eu também!
-E se você me esquecer um dia?
-Não irei te esquecer, porque você é presente em minha vida e dela nunca mais vai sair.
-Você quer me fazer chorar?
-Veja...
Levei sua mão até meu coração, que palpitava só de ouvir sua voz.
-Nossa... Por que isso?
-Basta ouvir sua voz para ele ficar assim... Como posso esquecer de alguém se ele me lembra todo dia de você?
-Primeira vez que você se declara...
-E também é a primeira vez que eu digo que te amo!
Fiquei emocionado ao ver seus olhos cheios de lágrimas, na hora seu rosto se abriu uma luz, ele não conseguia conter sua alegria e começou a gritar pela janela, com metade do corpo pra fora, os carros passavam e buzinavam, eu tentava puxá-lo pra dentro outra vez, mas ele queria dizer a todo mundo sobre nosso amor...
-Se você soubesse o quanto eu sonhei em ouvir isso de você... Mas dizer que te amo eu já disse, agora preciso dizer a todo mundo... Bader... Te amo... Te amo...
-Pára com isso, você vai cair aí...
-Eu já caí de amor por você há muito tempo...
Ele abriu o teto solar do carro e ia subindo quando eu o puxei:
-Chega, você já gritou o quanto você quis, senta ai e põe o cinto antes que eu leve uma multa.
-Desculpa, amor!
Liguei o rádio e começou a tocar “Lá vem o alemão”, aumentei o rádio e começamos a cantar juntos, com os vidros abertos, os carros ao lado passavam por nós e dava pra ver que as pessoas gostavam e cantavam conosco, alguns buzinavam também, é incrível como existem coisas em nossas vidas que ficam marcadas para sempre, pode ser uma música, um perfume, uma peça de roupa, uma foto ou até mesmo uma data, o que importa é as boas lembranças que a vida nos trás e a saudade que ela deixa.
-Subiu a serra, me deixou no boqueirão, arrancou meu coração depois desapareceu...
-Fiquei na merda, nas areias do destino...
-Olha aquele carro ali...
-O que tem?
-Repara que eles estão cantando com a gente...
-É verdade...
Chegamos na casa da minha mãe, buzinei na porta e escutava a Dani latir sem parar, ela deve ter reconhecido meu cheiro, os cães tem esse sentido bem aguçado, incrível. Minha mãe abriu a porta e a Dani passou por baixo das pernas dela, pulando dentro do carro pela janela, a coitada até chorava de felicidade em me ver.
-Isso que é amor, hein...
-Estava com saudade do papai?
-Filho, ela olhava pra lua toda noite e ficava chorando...
-Ah mãe, é que eu falo sempre pra ela que se eu não estiver por perto é só olhar pra lua que eu me torno presente, a Dani é muito inteligente.
-Vamos entrar, filho...
-Mãe, deixa eu te apresentar o Daniel...
-Prazer, Daniel...
-Prazer, Vivian. Espero que você faça meu filho feliz e não o faça chorar como o de antes.
-Se depender de mim, as lágrimas que seu filho derramar serão somente de felicidade.
Pelo visto, o Daniel ia se dar muito bem com minha família, pois já estava se sentindo em casa, entramos para tomar um café e conversar um pouco, além de matar a saudade que eu estava de todos eles. Sentamos no sofá da sala, peguei na mão do Daniel e abracei a Dani, ele ficou um pouco envergonhado no começo, mas depois viu que meus pais viam com naturalidade e foi se soltando.
-Boa noite...
-Boa noite. Você que é o Daniel?
-Sim.
-Eu sou Felipe, pai do Bader.
-Prazer, senhor Felipe.
-Pode continuar sentado.
-Ok.
-O que você faz da vida?
-Eu sou Professor de Educação Física.
Nessa hora meu irmão Rodrigo chegou junto com a noiva dele, a Millena. O Rodrigo sempre teve bom gosto para suas namoradas, ta certo que cada mês era uma que ele arrumava, mas confesso que ele sempre soube escolher mulher. Ele e Millena já estavam namorando há 3 anos, e noivos há 2, só a Millena conseguiu segurar as rédeas do Rodrigo, o que deixou minha mãe feliz da vida. Ela era uma mulher muito simpática, cabelos acobreados todo repicado, fazia faculdade de fisioterapia, olhos verdes, muito inteligente, corpo muito bem cuidado, já morou fora do país, uma pessoa bonita em todos os sentidos.
-Boa noite... Bader, quanto tempo...
-Millena... Tudo bem? Beleza Rodrigo?
-Firmão cara...
-Bader me conte, como foi em Paris?
-Foi ótimo, Millena. Visitamos aquele restaurante que você sugeriu perto da Basílica, é maravilhoso, fomos também ao Moulin Rouge!
-É assim Rodrigo?
-Desculpa amor... Você sabe que só tenho olhos pra você...
-Depois conversamos sobre isso...
-Bem que você poderia dançar assim pra mim, né?
-Hahaha...
-E Varsalles, você foi conhecer?
-Mas é claro, simplesmente linda!
-Estava muito frio por lá?
-Estava razoável, eu adorei.
-Quando eu fui era verão, um calor insuportável, mas não perdeu o charme daquelas cidades lindas.
-Deixa eu te apresentar o Daniel... Amor, essa é a Millena, noiva do meu irmão.
-Prazer, Millena!
-Prazer, sou o Daniel!
-Você tem bom gosto, Bader. Parabéns.
-Valeu.
-Bader, temos uma novidade pra você...
-Qual?
-Eu e seu irmão já temos data marcada para o casamento.
-Que bacana, já estava na hora mesmo.
-Então... Pensamos em chamar você e o Daniel pra serem nossos padrinhos...
-Nós?
-É... Claro que terão mais, né.
-O que acontece é que a Millena adora o Bader e morreria se ele não fosse padrinho dela.
-Falou tudo, amor.
-Por mim, beleza.
-E então, Bader?
-Eu topo também.
Meu pai foi buscar um espumante na cozinha e trouxe para comemorarmos, procuramos não beber muito, pois ainda íamos pegar a estrada pra voltar. Enquanto todos brindavam, Daniel me levou até o canto e falou no meu ouvido:
-Muito legal sua família, gostaria que a minha fosse assim...
-Eles são uma comédia... Pode considerar sua também.
-Vamos brindar, eu e você?
-Pra quê?
-Brindar o nosso amor, quer motivo maior?
Começamos a nos beijar na sacada da sala, era noite de verão, na rua crianças brincavam, adultos conversavam, enquanto eu e Daniel nos beijávamos no escurinho. Sempre me achei um cara de sorte por ter a família que eu tinha, sempre me apoiando e me dando força quando precisava. Ficamos por mais uns quarenta minutos conversando na sala, meu pai e o Daniel já ficaram amigos, meu pai começou a contar sobre suas aventuras na Aeronáutica, e o Daniel também já serviu a Aeronáutica, parece que seu pai e meu pai serviram juntos, chegaram até a jogar bola no mesmo time de várzea, assunto era o que faltava entre os dois, mas já estava ficando tarde e tive que interromper:
-Pai, precisamos ir.
-Mas já?
-Dorme aqui, filho.
-Não mãe, quero a minha cama, minha casa.
-Ah que pena...
-Mas nós voltamos outro dia, ou vocês vão nos visitar em São Paulo...
-Mas eu vou sim Bader, pode deixar.
-Vou te esperar Millena.
Nos despedimos de todos, e viemos embora, só faltou o Pedro que havia ido acampar com uns amigos. Na volta pra casa, fomos conversando sobre o assunto de sermos padrinhos do casamento, de início eu fiquei surpreso, mas depois passei a amar a idéia, já o Daniel ficou empolgadíssimo.
-Adorei ter conhecido sua família...
-Pelo que vi, eles te adoraram também.
-O que me deixou feliz foi ver que eles aceitam nosso relacionamento com muita naturalidade.
-Desde adolescente meus pais sabem sobre mim, nunca me trataram diferente dos outros irmãos, eles são pessoas livres de preconceito. Quando contei para minha mãe que era homossexual, ela estava costurando uma camisa minha antes de eu ir pra escola, aquele segredo já estava me sufocando e cheguei pra ela já desabafando, contei que era gay e ela perguntou: E...? Claro que estranhei, aí ela me sentou na cadeira da cozinha, olhou nos meus olhos e disse: Homossexual não ama? Não respira? Não chora? Não sofre? Onde está a diferença? Você saiu daqui de dentro, eu sofri pra ter você, passei nove meses esperando pra ver sua carinha, ouvir seu choro, esperei um ano pra ouvir você dizer “mamãe”, passava noites em claro cuidando das suas cólicas... Acha mesmo que eu seria capaz de deixar de amá-lo por isso?
-Nossa... Sua mãe é demais, pena que a minha não é assim.
-O lado homossexual que é mostrado por aí não condiz com nossa realidade, ser homossexual não quer dizer que eu vá querer me vestir de mulher, usar batom, colocar peito, não é isso...
-É verdade.
-Nós somos homens comuns, iguais a outros homens, somente temos preferência por homens, mas nada interfere em nossa personalidade ou capacidade de sermos o que somos.
-É, eu sei muito bem como é, também pensava assim. A visão quando se está dentro é bem diferente da que vemos de fora. Mas eu não gosto de homens, gosto só de você...
Parados na rua do condomínio do Daniel demos um longo beijo, nos despedimos e depois segui para minha casa, cansado e com fome. Ao chegar em casa a Dani foi cheirar todos os cantos, coloquei as coisas dela em um dos quartos e fui desfazer minhas malas, tirei todas as roupas e coloquei sobre a cama, depois fui tomar um banho com os cosméticos que trouxe da França, hum... Cada coisa boa... Após o banho, fiz uma salada de alface americana com tomate e um suco de abacaxi. Peguei o prato e o copo, fui jantar na sala de frente para a TV, quando entrei na sala comecei a sentir frio, o mais estranho era que a noite estava quente, nem havia dado tempo de abrir as janelas ainda, levei a mão à testa e notei que estava com febre, tomei um remédio para baixar a febre e fui jantar. Depois de jantar, fui até a cozinha e coloquei a louça dentro da lavadora, deixei-a se encarregando da lavagem enquanto fui escovar os dentes, depois vesti uma cueca samba canção e fui ver TV, fiquei deitado na sala assistindo um documentário até o telefone tocar:
-Alô?
-Alô, Bader...
-Oi Dani...
-Não me chame de Dani, se não vou pensar que está falando com a cachorra...
-Hahaha... Desculpa amor...
-O que você está fazendo ai de bom?
-Eu jantei há pouco tempo e fiquei aqui vendo um pouco de TV.
-Você está com a voz um pouco rouca...
-Eu não sei o que está acontecendo, do nada fiquei com febre, agora estou ficando rouco.
-Deve ser a diferença de temperatura, lá estava tão friozinho...
-Deve ser, e você o que estava fazendo?
-Eu estava passando pro computador as fotos que tiramos, ficaram lindas.
-As que tirei com minha máquina eu passo amanhã, não vou trabalhar mesmo...
-Pode deixar que depois eu te mando em CD, me acabei de rir com o vídeo que gravamos em Versalles...
-Hahaha... Deve ter ficado engraçado.
-Ficou demais, amanhã eu vou até ai para supervisionar seus exercícios.
-Hum... Vou esperar ansiosamente...
-Nos vemos amanhã então.
-Beijão.
-Te amo.
-"Moi aussi."
Depois de desligar o telefone, desliguei a TV e fui dormir, acabei dormindo em outro quarto, porque as roupas da viagem estavam todas sobre minha cama e acabei ficando com preguiça de tirar. Durante a noite inteira eu passei mal, tive febre outra vez, levantei para ir ao banheiro e estava mais uma vez com diarréia, senti fraqueza ao levantar da cama, me olhei no espelho e me achei um pouco abatido, quando ia me deitando outra vez comecei a sentir ânsia de vômito, corri para o banheiro, ajoelhei próximo ao vaso e tentei vomitar, mas não consegui, era uma sensação horrível, meu corpo estava dolorido, um mal estar vinha me consumindo cada vez mais, a febre não baixava, troquei de roupa, desci até a garagem e peguei o carro para ir a uma farmácia 24 horas comprar outro remédio para febre e um para diarréia. Só não entendi o por que disso tão de repente, será que eu comi alguma coisa que me fez mal? Mas o Daniel e eu comemos a mesma coisa e só em mim deu problema, o melhor a fazer era ir ao médico mesmo.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Capítulo 5 Um estranho dentro de mim

Capítulo 5

Chegou o dia que iríamos viajar, decidimos ir para a França, apesar de que eu queria também conhecer o Egito, mas resolvemos ir em uma outra oportunidade. O vôo estava marcado para as 22:00, eu preferi marcar para vôo noturno porque a gente vai dormindo e quando acorda já chegou, eu sei que dormir em avião é muito desconfortável, mas pelo menos esperamos o tempo passar sem vê-lo passar. Na parte da manhã fui até Campinas deixar a Dani na casa da minha mãe, ela cuidaria do meu “bebê” até eu voltar, pensei em deixá-la em um hotel pra cachorros, mas fiquei com receio dela ficar doente, pois ela era muito apegada a mim, já estando com minha mãe ela se distraia com a família, e também seria uma viagem curta, apenas dez dias. Voltando da casa da minha mãe, eu fui até a loja de roupas de inverno comprar algumas peças, pois na época em que fomos viajar na Europa era inverno e as roupas que eu tinha nem sei se me serviam mais, também fazia tanto tempo que eu não saia do país...
Depois das compras fui pra casa preparar minhas malas, aproveitei e deixei uma mala vazia, para trazer um monte de lembrancinhas da França para os amigos e família, claro que pra mim também, sempre fui fã de perfumes e lá eu estaria na “nascente”. Quando eram aproximadamente 19h o Daniel tocou a campainha, cheio de malas também, ele deve ter colocado até roupa de esquiar dentro da mala, tamanho era o volume que aquelas três malas faziam.
-Nossa...
-O que foi?
-Não acha que tem malas demais?
-Você disse que lá vai estar frio...
-Sim, mas também não vamos esquiar pela “Rue de la République”, não terá montanhas de neve pelas calçadas, nós só vamos à Paris e não à Bariloche... Deixe esse esqui aqui em casa...
-Tudo bem, da próxima vez avisa...
-Desculpe! Agora vamos...
-Calma... E o meu beijo?
-Hum...
Chamamos um táxi para nos levar até o aeroporto, deu um trabalho enorme pra colocar aquele monte de malas dentro do carro, tivemos que deixar uma mala do Daniel em casa, ele não gostou muito da idéia no começo, mas depois concordou, mas também pra que levar uma mala só com sapatos? Ficamos na sala vip até a hora do embarque, tiramos algumas fotos, olhamos o mapa do local onde estariam os guias para não nos perdermos, e também um mapa de Paris.
No avião pedi para sentar na janela, Daniel se levantou e trocou de lugar comigo, atrás de nós havia uma mulher com as outras duas poltronas vagas, pelo que deu a entender ela comprou os três lugares só pra ela, na poltrona da frente havia um casal com uma criança, que deveria ser uma pestinha, pois queria furar a poltrona do avião com um palito de sorvete, o pior de tudo era que os pais não falavam nada, a comissária teve que intervir, os pais da criança não gostaram muito, mas deram um puxão de orelha no moleque e ele ficou quieto, ainda bem que ao nosso lado ficou uma poltrona vazia, eu e Daniel pudemos viajar mais à vontade. Quando o avião decolou, ele segurou na minha mão e disse olhando nos meus olhos:
-Está com medo?
-Não, e você?
-Um pouco, se eu disser que te amo agora, você acredita?
-Você está quase me convencendo.
-Vamos ver se com esse beijo eu te convenço...
Ele pegou na minha cabeça com sua mão esquerda e trouxe minha boca para junto da dele, acariciando meus lábios com os seus, suavemente, depois notei que as pessoas no avião nos olhavam um pouco assustadas, mas até então nem estávamos preocupados.
O que era para ser apenas 10 dias, acabou virando 20 dias. Quando chegamos no aeroporto de Paris, o Daniel não entendia o que os avisos diziam, mas como eu sabia falar francês fluente, pra mim não foi difícil achar o hotel e os guias. Chegamos no hotel, pegamos a chave do quarto e fomos conhecê-lo, haviam duas camas de solteiro, a decoração era estilo clássico, de bom gosto e muito charmosa. Colocamos as malas sobre as camas, começamos a tirar as roupas de dentro e arrumá-las nos armários.
-Ai que frio...
-Frio bom pra namorar...
-Ficar agarradinho...
Estava muito frio, a paisagem vista da janela nos enchia os olhos, aqueles jardins de folhas secas no chão formando um tapete natural, parecia um bolo “floresta negra”, haviam poucos carros na rua, bem tranqüilo o lugar.
Depois de arrumar tudo em nosso quarto, fomos passear pela cidade, andando pelas calçadas de Paris paramos em um café, comemos um delicioso croissant acompanhado de um chocolate bem quentinho. Quando batia aquele vento gelado o Daniel me abraçava, era muito bom.
-“Bonjour”!
-“Bonjour! S’il vous plaît, un chocolat et un croissant”.
-“Oui. Et vous monsieur”?
-“Diz pra ele que vou querer o mesmo que você”.
-“Aussi”.
-“Voilà”.
O garçom foi buscar nosso pedido, reparei que na mesa ao nosso lado tinha um casal de gays que se beijavam com a maior naturalidade, era um casal jovem, deveriam ter a faixa de idade que eu e o Daniel tínhamos, eram muito bonitos os rapazes, às vezes algumas pessoas olhavam disfarçadamente para os dois com uns olhares meio tortos, mas nenhuma reação homofóbica foi presenciada por nós.
-O que você tanto olha para aqueles dois?
-Nada...
-Como nada? Você não tira o olho...
-Eu estou surpreso com a atitude deles de beijar em publico e das pessoas em volta que tratam com naturalidade...
-E o que tem haver beijar em público? Se for o caso fazemos também.
Ele me puxou pra junto dele e começou a me beijar, o Daniel tinha suas loucuras que me assustavam, mas tinha umas que me deixava sem fôlego, claro que tudo que vinha dele eu adorava, quando a gente gosta de alguém temos que aprender a gostar das qualidades e defeitos, e eu gostava dele por completo.
-Você sabe que eu não me sinto bem...
-Mas o que tem de errado?
-Eu sei que não tem nada de errado, mas tem pessoas que se assustam, pois não estão acostumadas...
-Tudo bem, nós paramos então.
-Mesmo assim eu continuo gostando de você...
-Por que você não me deixa te fazer feliz?
-Não entendi.
-Você parece ter medo de se entregar...
-Mas é claro, você vem de um mundo diferente do meu, talvez amanhã você acorde e vê que não é isso que quer pra sua vida...
-Eu sei o que eu quero pra minha vida, se eu decidi ficar com você é porque tenho certeza do que eu quero...
-Tudo bem, discutimos isso depois.
-Ta bom.
Depois do nosso lanche, fomos dar uma volta no parque, começamos a correr entre as arvores, até que o Daniel conseguiu me pegar, mas acabamos tropeçando no banco e caímos sobre as folhas secas no chão, meu corpo ficou sobre o dele, cara a cara, demos muita risada, quase sem fôlego, até rolar um beijo, ele foi me abraçando com seus braços fortes e ficamos ali trocando carinhos, ao som dos pássaros, foi muito bom. À noite fomos passear pelas ruas da “Cidade luz”, Paris à noite é linda, charmosa, pegamos o metrô na estação central e ficamos passeando até ficarmos perdidos, olhei naquele mapa cheio de linhas que nos confundia, ouvimos o anuncio de que a operação estaria se encerrando em 15 minutos, corremos para pegar o ultimo metrô para a estação central, por pouco não o perdemos, pois já estavam fechando as portas.
Saímos da estação central morrendo de rir, tirei uma foto pelo celular do Daniel tropeçando na calçada, acho que as pessoas nos achavam loucos, mas éramos dois loucos felizes e que se amavam. Voltamos para o hotel de madrugada, fomos tomar um banho bem quente juntinhos, achei a água um pouco estranha, sem contar que é muito cara, tivemos que tomar banho bem rápido. Depois do banho juntamos as duas camas de solteiro e dormimos como um casal, bem agarradinhos.
Para o Daniel tudo era novidade, eu era o primeiro homem que ele havia ficado, até então ele sabia lidar com mulheres e não com homens. Naquela noite ele olhou para mim, tocou em meu rosto e olhando nos meus olhos ele disse:
-É estranho...
-O que é estranho?
-Eu amar um homem.
-Ainda dá tempo de se arrepender e voltar atrás.
-Nunca, é de você que eu gosto, é com você que quero ficar, é pelo seu amor que quero lutar.
-Nossa... Nunca recebi uma declaração dessa...
-Se você me permitir te amar, te farei uma pessoa muito feliz...
-É...?
-Sim...
-E a mina que você estava ficando?
-Nunca mais a vi.
Começamos a nos beijar, ele era um cara muito carinhoso, meigo, mexia comigo dia após dia, fizemos amor à madrugada toda, em Paris, foi algo mágico, inesquecível, nossos corpos suando de frio e calor ao mesmo tempo, nosso suor misturado nos fazia deslizar um sobre o corpo do outro, meu cabelo estava já molhado, o dele também, tamanha era a intensidade do nosso desejo. Tremendo de frio ele deu um beijo na minha testa, encostou sua cabeça sobre meu peito e me abraçou.
-Está com frio?
-Um pouco, mas vai passar.
-Deita aqui que te esquento.
Dormi no céu e acordei no paraíso, lá fora chovia um pouco, uma garoa chata, um ótimo pretexto para ficar dentro do quarto o dia todo abraçadinhos, deitados trocando carinhos, fazendo amor. Aquela garoa durou dois dias, ficamos os dois dias dentro do quarto namorando, abraçadinhos, dormindo com aquele friozinho.
No décimo dia fomos para Carcassonne, ficamos na estação aguardando a partida do TGV que é um trem bem veloz na França, dependendo do lugar a viagem sai mais cara que ir de avião. Sentados na estação ficamos aguardando o anuncio, o Daniel não entendia nada, ficou todo confuso:

“Correspondance pour Carcassonne”
“départ 11h29, quai nº 4, voie B.”

-Mas o que ele está falando?
-Ele disse que o trem que parte para Carcassonne vai partir às 11h29, na plataforma 4, via B.
-Nossa...
-Hahaha...
-Pára de rir, eu só sei falar inglês...
-Mas eu não to rindo de você.
-Do que você está rindo?
-Da careta que você fez...
Dentro do trem tive que fechar a cortina, pois ele andava tão rápido que quando passava outro ao lado nos dava vários sustos e me deixava um pouco tonto, mas as paisagens eram lindas.
A cada dia que passava eu gostava mais do Daniel, seu jeito me cativava, sua alegria me contagiava, seu brilho nos olhos me faziam acreditar que seu sentimento era verdadeiro, ele tinha uma sensualidade inexplicável, uma magia dentro de si. Meu medo era a hora que ele não me quisesse mais, o melhor a fazer era não criar expectativas, o difícil era por em pratica, eu estava começando a gostar dele de verdade, já nem lembrava mais do Bruno, ao lado do Daniel eu me sentia seguro, mesmo assim não ia me entregar por completo e correr o risco de me machucar depois.
No décimo quinto dia fomos conhecer o Chateau de Versailles, Louis XIII em 1623, construiu em Versailles uma morada para sua residência em tempo de caça, Louis XIV, seu filho, conhecido como “Rei Sol”, aproveitou essa construção e mandou erigir um dos mais lindos palácios existentes até hoje na Europa, com seus jardins e edifícios, o famoso salão dos espelhos, os luxuosos quartos do rei e da rainha, era tanta beleza que chegava até a doer os olhos. Graças à sua dupla vocação, residência real e Museu da história da França, possui inúmeras obras de arte, uma mais linda que a outra, pena que não podemos tirar fotos. O lugar teve sua inscrição na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO em 1979. Eu e Daniel ficamos babando na beleza daquele lugar, aproveitei a oportunidade e caminhei, corri pelos corredores verdes da vegetação que cercava aqueles lindos jardins, tiramos fotos, filmamos o lugar, foi engraçado em uma hora que o Daniel foi segurando a câmera e eu fui fingindo que era o rei Louis XIV, desfilando pelo corredor de nariz empinado. Naquele dia brincamos bastante, foi tudo muito divertido, eu caminhando na ponta dos pés com o nariz empinado, as imagens saíram um pouco tremidas, pois o Daniel se matava de rir.
-Do que você está rindo?
-Nada majestade...
-Quer ir para o calabouço?
-Não, não...
Depois fomos ao Museu do Louvre, um dos mais importantes museus do mundo. Tivemos que ir com um mapa nas mãos, fomos visitando as obras expostas lá, para conhecer tudo seria necessário pelo menos 1 semana lá dentro, tamanha era a grandiosidade do lugar e quantidade de obras. Construído em 1190 como um forte, foi reconstruído em 1360 para ser um Palácio Real. Durante 4 séculos, com Reis e Imperadores, sofreu acréscimos e construções tendo sido transformado em Museu, em 1793. O acervo está dividido em 7 departamentos por período: Antiguidades orientais, gregas, romanas, egípcias e etruscas, pinturas, esculturas, objetos d'art da Idade Média até 1850, impressões e desenhos. Eu fiquei maravilhado com a parte egípcia, pois adoro essa mitologia de faraós, aquelas múmias originais na minha frente me fizeram tremer de emoção e medo ao mesmo tempo. A coleção de tesouros do Museu começou com Francisco I que adquiriu muitos quadros italianos, inclusive a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. No Louvre também está a Vênus de Milo, que data de século 2 a.C. São 8kms de galerias com milhares de trabalhos expostos, claro que eu e o Daniel não conseguimos ver tudo, mas valeu a pena ver o que vimos. A nova entrada do Louvre é uma pirâmide de vidro, de autoria de um arquiteto sino-americano, inaugurada em 1989.
Depois de algumas compras e um almoço próximo à Basílica, descemos uma ladeira e chegamos ao Moulin Rouge, o bordel mais famoso do mundo, sempre tive curiosidade sobre a historia que contavam sobre esse lugar, finalmente pude conhecer o local. Assistimos o famoso show com 60 dançarinas, mil fantasias e "French Can Can". A célebre dança parisiense nasceu neste local, que também foi imortalizado por Toulouse Lautrec, no quadro "Bal du Moulin Rouge".
-Essas dançarinas não dançavam sem calcinha?
-Não acredito que você vai ficar reparando se elas usam calcinha ou não...
-Desculpa amor, foi só um comentário bobo.
-Ta bom, Daniel.
Na volta para o hotel acabei me perdendo do Daniel, com medo de me perder pela cidade resolvi voltar para o hotel e esperá-lo por lá, quando cheguei na recepção a recepcionista me parou para entregar algo:
-“Pardon monsieur, une chose pour vous”
-“Pour moi?”
-“Oui.”
-“Qu’est-ce?”
- “Je ne sais pas”.
-“Voilà. Merci beaucoup.”
-“De rien.”
Peguei o embrulho que esperava por mim na recepção, deixei para abrir no quarto do hotel, quando eu estava subindo as escadas comecei a sentir cólicas, aconteceu de repente, de uma hora pra outra comecei a ter diarréia, deveria ser alguma coisa que eu havia comido estragada, nem dei muita importância. Após sair do “toillete” fui abrir o pacote que recebi, era um coração vermelho de pelúcia, com o perfume do Daniel, no meio estava escrito “Je t’aime”, que significa “Te amo” em francês. Não demorou muito e o Daniel chegou, com um botão de rosa nas mãos.
-Gostou da surpresa?
-E tem como não gostar das suas surpresas?
-Comprei isso aqui pra você guardar como recordação.
-Obrigado.
No dia de voltarmos ao Brasil, quase perdemos o avião, a culpa foi do Daniel que inventou de pegar um ônibus até o aeroporto e mais uma vez ficamos perdidos. Fomos os últimos a embarcar, dessa vez ele ficou na janela e eu no corredor. Já era noite e todos no avião já dormiam, inclusive o Daniel, sem despertar muita atenção das pessoas me levantei e fui até o banheiro, não estava conseguindo dormir, lavei o rosto, enxuguei as mãos no papel e quando ia saindo levei um susto, ao destravar a porta o Daniel já foi me empurrando com tudo pra dentro do banheiro, travou a porta e começou a me beijar.
-Eu sempre tive vontade de fazer amor no banheiro de avião...
-Mas...
-Vou me realizar com você...
Ele me fazia perder o juízo, eu ficava fora de mim quando ele vinha com aquela carinha de cachorro abandonado, bati 2 vezes a cabeça na parede tamanha era à força de suas pegadas, ele me beijava como se não me visse ha anos, em menos de 5 minutos o Daniel já havia tirado minha roupa e a dele também, começamos a pingar de suor, o ar condicionado não estava dando conta, transamos no canto da pia, naquele banheiro apertadinho, não podíamos gritar nem fazer muito barulho para não acordar os passageiros, nossos gemidos eram bem baixinhos, um seguido do outro, em ritmo lento e acelerado, ficamos em média meia hora fazendo amor, sexo, sacanagem. Muito tesão, desejo, era uma mistura de sentimentos que me deixava louco, eu adorava essas fantasias muito malucas que ele tinha, era divertido e ao mesmo tempo dava muito tesão, a adrenalina subia a mil. Deixamos o banheiro do avião discretamente, sem que fossemos notados voltamos para nossas poltronas e tentamos dormir, suados, ofegantes, exalando sexo.
Eu e Daniel achamos em geral, as pessoas em Paris, um pouco mal educadas, andam rápido e se fosse preciso passavam por cima da gente. Não me senti seguro andando em Paris, não sei por que, mas em várias situações nos pegamos sendo observados por pessoas estranhas, principalmente dentro de trens e metrôs. Incrível, mas foi um dos lugares onde me senti mais inseguro. Paris é uma cidade muito cara, fiquei impressionado, mas também pudera, Paris é Paris.
Ao desembarcarmos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, chamamos um táxi, Daniel preferiu me acompanhar até em casa, eu estava ansioso, parecia que nunca chegávamos, não via a hora de rever minha “bebê”, ver minha mãe, meu pai... Quando chegamos em casa fui logo telefonar para minha mãe:
-Alô?
-Alô... Mãe?
-Oi meu filho, como você está?
-To bem, mãe! Acabei de voltar, como está minha “bebê”?
-Está aqui do meu lado.
-Põe o telefone no ouvido dela?
-Dani... Dani...
Minha mãe colocou o telefone na orelha dela e comecei a chamar seu nome, ela reconheceu minha voz e começou a latir sem parar.
-Filho, ela chorou todas as noites olhando pela janela...
-Eu vou buscá-la hoje, mãe. Meu braço já está curado e eu já posso dirigir.
-Ta bom meu filho, vou arrumar todas as coisinhas dela na malinha.
-Ok mãe, beijo.
-Outro!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Capítulo 4 - Um estranho dentro de mim

Capítulo 4

-Vou pegar uma roupa pra você vestir e depois vamos dormir... Pegue...
-Não vou vestir... Eu só consigo dormir pelado.
-Você quem sabe. Vou dormir no outro quarto, tenha uma boa noite.
Apaguei a luz do quarto, peguei um travesseiro e fui dormir em outro quarto. Não vou dizer que consegui dormir, pois mal preguei o olho, fiquei revirando na cama, pensando naquele beijo, naquele corpo, não sei o que deu nele para me agarrar e muito menos em mim de permitir, só consegui adormecer quando o dia estava clareando.
Fui acordado com o telefone tocando, era minha mãe querendo saber como eu estava, disse pra ela que a recuperação do acidente estava correndo bem, seguindo as orientações médicas, pelo seu suspiro ela parecia bem mais aliviada, falamos um pouco no telefone e depois desliguei, fui até o quarto onde o Daniel dormia, abri a porta cuidadosamente para não acordá-lo, sentei na beirada da cama e fiquei velando seu sono, tão tranqüilo... Não demorou muito e ele acordou.
-Nossa...
-O que foi?
-O que estou fazendo aqui? Por que estou sem roupa?
-Você bebeu demais ontem e ultrapassou dos limites...
-Sério? Fiz você pagar mico? Abusei da sua paciência?
-Você não se lembra de nada?
-Não.
-Nada mesmo?
-Nada...
-Você não estava em condições ontem de dar um passo sozinho, tive que trazer você pra cá, até banho eu te dei pra tentar passar um pouco a bebedeira.
-Caramba... Desculpa.
-Não se preocupe, vamos esquecer tudo. Agora eu vou colocar sua roupa para lavar e depois coloco na secadora. Em 2 horas fica prontinha para você vestir.
-Beleza.
Fui até o banheiro e peguei sua roupa de dentro da pia, levei até a lavanderia e coloquei as roupas dentro da máquina de lavar, deixei as roupas lavando e fui até a cozinha preparar o café, deixei a cafeteira preparando e fui até o quarto.
-Bom, já coloquei sua roupa para lavar e estou fazendo um café.
-Mas você não tinha feito café ontem?
-Mas café amanhecido é horrível...
-É... Posso tomar um banho?
-Claro, o banheiro é bem ali...
-Valeu.
Enquanto ele foi tomar banho eu fui pegar uma toalha, deixei no banheiro e fui até a cozinha arrumar a mesa para o café da manhã, coloquei um monte de coisas gostosas, tudo que eu costumava comer diariamente. Achei estranho ele ter citado o café da noite anterior, como ele sabia que eu havia feito café? Já que ele parecia não se lembrar de nada... Daniel terminou seu banho e foi até a cozinha onde eu estava, com a toalha enrolada na cintura e o corpo molhadinho, era inevitável não olhar, fiquei desconsertado, parecia que fazia de propósito só pra me provocar, ele pegou uma maçã da cesta de frutas, encostou-se ao batente da porta e começou a me fazer perguntas.
-Está cheiroso seu café...
-Obrigado.
-Porque você não abre o jogo?
-Que jogo?
-Sobre ontem.
-Mas eu já contei sobre sua bebedeira...
-Eu perguntei o que tinha acontecido nessa madrugada, queria saber T-U-D-O, entendeu?
-Não, onde você quer chegar?
-Por que você não falou sobre o beijo de ontem?
Nessa hora eu queimei meu dedo com o bule de café, Daniel colocou a maçã sobre a pia e veio olhar meu dedo preocupado, ele era tão cuidadoso...
-Ai...
-O que foi?
-Queimei meu dedo com o café...
-Deixa-me ver... Não foi nada, quer um beijinho pra sarar?
Ele segurava meu dedo quando eu recuei a mão.
-O que você quer?
-Por que você não me falou do nosso beijo?
-Qual beijo?
Peguei os copos e fui para a sala colocar na mesa, Daniel pegou as xícaras e veio relembrando a madrugada.
-Aquele beijo que eu te dei...
-Mas você disse que...
-Eu menti. Lembro de tudo que aconteceu, só fingi que não lembrava para ver se você seria corajoso para me contar a verdade.
-O que você queria? Que eu chegasse em você e dissesse: “Daniel, você me beijou ontem”.
-E por que, não?
-Porque você não é gay, há alguns dias atrás você tinha uma namorada, e para um cara como você não deve ser fácil conviver com um homossexual. Tem também o fato de você poder achar que eu abusei de você por estar bêbado...
-Mas se fui eu que te beijei...
-Sim, foi você, mas você poderia muito bem dizer que eu me aproveitei da situação... Olha Daniel, acho melhor esquecer tudo isso e mudarmos de assunto, se não vamos acabar brigando.
-Eu namorava garota, sempre tive tesão por seios, marca de biquíni, jogar meu futebol com os amigos...
-Eu não estou interessado em saber da sua virilidade...
-Tudo bem, eu só queria dizer que ontem eu senti atração por você...
Engasguei com o suco quando ele falou aquilo.
-Como assim?
-É difícil pra eu ter que assumir isso, mas não sei o que me deu ontem que senti vontade de beijar você...
-Eu sei o que te deu, você estava bêbado.
-Não é isso...
Ele se levantou da cadeira, foi até onde eu estava, ajoelhou ao meu lado, pegou na minha mão e continuou a falar.
-O seu beijo foi diferente... Foi gostoso... Pela primeira vez eu beijei alguém sem primeiro sentir uma atração sexual...
-E você está querendo me convencer que...
-Não quero te convencer de nada, só quero que você saiba que eu gostei, que o fato de ter gostado de beijar você não quer dizer que eu vá me interessar por homens.
-E eu sou o que?

-Você é homem, mas é 1 homem, e eu senti vontade de beijar só você, não é porque eu beijei você que vou sair por ai agora beijando um monte de caras, é o seu beijo que eu gostei, é do seu beijo que eu provei.
-O que você quer que eu diga?
-Não diga nada, apenas me beije.
Ele tocou meu rosto com os dedos por trás da minha orelha, com a outra mão ele segurava minha cintura, seguido de um carinho gostoso e intercalado com uns apertões, não foi um simples beijo, foi mais que um beijo, sem palavras para explicar, nos levantamos e encostamos corpo com corpo, Daniel me colocou contra a parede e seu corpo me imobilizava, ficamos ali nos beijando por um longo tempo, aquela língua safada me fazia perder o juízo quando passava no meu pescoço, aqueles sussurros no meu ouvido me faziam estremecer...
-Acho melhor pararmos por aqui...
-Mas está tão bom...
-O café vai esfriar, preciso colocar sua roupa dentro da secadora também...
-Ok, vamos terminar o café.
-Eu vou colocar sua roupa pra secar.
-Está bem.
Fui colocar suas roupas na secadora, depois voltei e tomamos café juntos, conversamos sobre futebol, sobre baladas, e muitas outras coisas. Fiquei confuso com o fato dele ter gostado do meu beijo, mas ao mesmo tempo eu adorei a idéia, pois também havia adorado o beijo dele.
Depois do café ele vestiu suas roupas e nos despedimos com um longo beijo, fechei a porta e fiquei com medo que ele se arrependesse mais tarde, afinal, antes de me beijar ele só ficava com mulher. Aproveitei o domingo para arrumar o guarda-roupa, tirar umas roupas que já não usava mais e doar para quem precisava. Quando eu era criança, minha mãe sempre nos ensinou que devemos ajudar aos necessitados, eu ia com ela e meus irmãos em orfanatos e doava nossos brinquedos que não usávamos mais, era uma satisfação para nós vermos o brilho nos olhos daquelas crianças ganhando um brinquedo, eram usados, mas não importava.
Na segunda feira acordei com a campainha tocando, eu odiava ser acordado com barulho, me deixava de mau humor, levantei, vesti meu roupão e fui atender a porta querendo socar o infeliz que me acordava, era o porteiro com uma linda cesta na mão.
-Bom dia seu Bader!
-Fala.
-Deixaram isso pro senhor hoje cedo lá na portaria.
-Obrigado.
Fechei a porta e coloquei a cesta sobre a mesa, nunca recebi nada assim e nem fazia idéia de quem havia mandado. Abri o cartão que tinha preso na alça, tinha um perfume familiar naquele envelope.

“Bom dia!

Dormiu bem? Como está o braço? Não consegui dormir muito bem essa noite, fiquei pensando em você, no seu cheiro, na sua boca.

Logo irei para a academia, depois te ligo.


Daniel”


Fiquei encantado com essa atitude, ninguém nunca me tratou assim, peguei a cesta e levei para a mesa da cozinha, não conseguia parar de cheirar aquele bilhete perfumado, parecia proposital. Fui tomar um banho, depois do banho fui fazer meu almoço, na verdade eu fui descongelar a comida, porque eu costumava fazer toda a comida no começo da semana e distribuir em pequenas quantidades, depois colocava no freezer e tirava quando fosse comer. Tirei do freezer uma porção de batata, feijão e frango assado, coloquei o feijão e o frango no microondas, comecei a fritar as batatas e cozinhar o arroz, quando eu estava virando as batatas meu telefone tocou, baixei o fogo e fui atender:
-Alô?
-Alô! Bader?
-Sim...
-É o Daniel, você está bem?
-Com aquela cesta que recebi hoje pela manhã, não poderia estar ruim...
-Que bom que você gostou. O que você está fazendo?
-Preparando meu almoço, você já almoçou?
-Ainda não, acabei de sair da academia, vou passar na praça de alimentação do shopping e comer alguma coisa...
-Vem almoçar comigo?
-Hummm... O que vai ter de bom para o almoço?
-Feijão, arroz, frango assado, batata frita e salada de agrião.
-Que delicia! Vou levar a sobremesa então.
-Vou te aguardar ansiosamente.
-Em um piscar de olhos estarei aí.
-Beijo.
-Outro.
Desliguei o telefone e fui correndo virar as batatas no fogo, sorte que elas não tinham queimado ainda, o arroz estava quase pronto, e a Dani não parava de pular na minha perna querendo comer.
-Calma bebê, o papai já vai te dar comida.
Coloquei um pouco de ração no pote dela, comecei a lavar a salada quando o interfone tocou.
-Diga...
-O senhor Daniel está na portaria.
-Pode deixar subir.
Tratei de ir arrumar a mesa rapidinho, enfeitei com algumas flores e frutas, logo a campainha tocou, eu morava no 19º andar, mas o elevador do prédio era bem rápido. Quando ouvi a campainha tocando meu coração disparou, eu não sabia o que fazer na hora, a campainha tocou mais uma vez, respirei fundo e fui abrir a porta.
-Oooooi.
-Oi Daniel.
Nos cumprimentamos com um beijo e um abraço.
-Não via a hora de te encontrar outra vez...
-Eu também mal podia esperar.
-Vontade de sentir seu cheiro... Sua pele... Seu beijo...
Começamos a nos beijar e a Dani começou a latir, ficamos nos beijando por quase 5 minutos...
-Fica quieta, Dani.
-Deixa ela... Continue me beijando...
Quando íamos dar outro beijo o microondas apitou, fui até a cozinha retirar a comida:
-O microondas...
-Vamos que eu te ajudo, não é bom você pegar peso com o braço machucado se não os pontos podem abrir...
-Tira essa vasilha aqui... Você não se importa de comer comida congelada?
-Estando perto de você, eu comeria até cachorro quente na esquina.
-Desculpa, é que não tenho tempo de cozinhar todo dia, então deixo tudo prontinho, só aquecer e comer.
-Por falar em aquecer, o sorvete que eu trouxe deve estar derretendo lá na sala...
-Meu Deus... Vou buscar...
Fui até a sala buscar o pote de sorvete, quando peguei o pote, o Daniel me abraçou por trás e começou a morder meu pescoço, na hora eu me assustei, deixando cair o sorvete.
-Ai que susto...
-Desculpa gato... Olha só a sujeira que fez...
-A sujeira é o de menos, deixe ai que depois eu limpo, vamos almoçar se não a comida esfria.
-Vamos.
Almoçamos e conversamos por um longo tempo, sua companhia era muito agradável, ele tinha assunto pra tudo, uma pessoa muito inteligente, a cada palavra sua eu ficava mais apaixonado, era um sentimento puro, inocente, sincero.
-Você vai ficar em casa por quantos dias ainda?
-Acho que mais um mês e meio.
-O que acha de fazermos uma viagem?
-Pra onde você me levaria?
-Japão!
-Já conheço.
-Sério?
-Sim, fui a trabalho uma vez e morei por 2 meses lá.
-Você já conhece a França?
-Ainda não.
-Eu também não, o que acha de irmos conhecer?
-Podemos conversar sobre isso depois, você está de carro?
-Estou sim!
-Você pode me dar uma carona? Pra voltar eu me viro...
-E você acha que eu vou te deixar lá sozinho? Te levo e trago até em casa.
Depois do almoço fomos até meu trabalho levar uns projetos, o Daniel me esperava no carro, até queria levá-lo para conhecer o pessoal que trabalhava comigo, mas ele não encontrou vaga para estacionar o carro.
Duas semanas se passaram, eu e Daniel nos falávamos todos os dias por telefone, algumas vezes ele passava em casa no finalzinho da tarde para ver como eu estava, e foi em uma tarde dessas que quase morri de medo ao sair com ele.
Havíamos marcado de ir ao cinema em uma sexta feira à noite, à tarde ele me ligou e pediu para eu me aprontar que iria passar em minha casa para me buscar, antes do cinema tínhamos programado um jantar. À noite me arrumei, fiquei todo bonito pra ele, não demorou muito e ele ligou dizendo que já estava pegando o elevador, meu coração palpitava só de ouvir sua voz, apaguei as luzes do apartamento, fechei as portas e fiquei na sala esperando ele chegar para sairmos. A campainha tocou, fui abrir a porta e ele já entrou me agarrando, mal deu para respirar, ele sempre me tirava o fôlego, ficamos nos beijando por uns dez minutos, com ele eu perdia os sentidos, às vezes nem conseguia pensar, tamanha era o impacto que ele causava com sua presença, confundindo todos meus sentidos.
-Ai que boca gostosa...
-Mais gostoso ainda é ficar agarrado com você...
-Está pronto pro nosso cinema?
-Prontinho!
-Então vamos.
Pegamos o elevador e não demorou muito entrou o síndico do prédio.
-Boa noite!
-Boa noite!
O elevador social do prédio era espelhado, não muito grande, deveria caber umas 10 pessoas aproximadamente, ficamos olhando um para a cara do outro sem ter o que dizer, é bem clima de elevador mesmo, todos ficam parados olhando pra porta sem falar nada, quando para minha surpresa o Daniel me pegou e começou a me beijar, o síndico ficou constrangido, notei que nasceu uma repugnância ao presenciar uma cena de beijo, claro que o Daniel fez aquilo propositalmente para testar a reação do Carlos. Para nossa surpresa, sua reação foi pior do que imaginávamos.
-Não é permitido esse tipo de cena dentro das áreas sociais desse condomínio.
-Desculpe, não entendi.
-Eu disse que não é permitido...
-Ele disse que não é permitido dois homens se beijarem dentro do condomínio.
-Não foi isso que eu quis dizer...
-Você sabia que isso é uma forma de discriminação?
-Olha aqui...
-Olha aqui você...
Tive que segurar o Daniel, pois ele já queria partir pra cima do Carlos, não tiro sua razão, o Carlos foi muito preconceituoso e estava pegando no nosso pé pela nossa condição, se mostrando uma pessoa totalmente homofóbica. Essas regras de não poder beijar nas áreas sociais do condomínio eu desconhecia, tanto é que a Gloria, moradora do 16º andar vive se agarrando com os namorados dela no Deck da piscina, no hall do elevador, cada semana era um diferente, e até então eu nunca vi nenhuma repressão.
-Vamos parar com isso, por favor.
-Eu vou quebrar a cara desse palhaço...
-Você não vai quebrar a cara de ninguém, por favor esquece isso.
-Só não quebro sua cara, porque o Bader ta pedindo, mas a gente ainda vai se cruzar...
O elevador parou no térreo, saímos do elevador e o Carlos continuou sem abrir a boca, deve ter ficado com medo de apanhar do Daniel, que é um homem alto e forte, e eu também fiquei com medo do Daniel machucá-lo, não seria bom para nossa imagem perante o condomínio. Quando chegamos no estacionamentos de visitantes eu não avistei o carro dele, estranhei e perguntei onde que ele havia estacionado o carro, ele abriu a mochila e me entregou um capacete.
-Onde você estacionou seu carro?
-Segura ai...
-O que é isso?
-Um capacete.
-Eu sei que é um capacete, mas pra que você me entregou?
-Para você colocar na cabeça e subir na minha garupa.
-Mas...
-Sem mas, sobe logo.
Subi na garupa de sua moto e grudei em sua cintura, morrendo de medo, mas confiei nele. Eu já deveria suspeitar que ele estava armando alguma coisa, notei quando ele desviou do caminho do shopping e começou a seguir por um caminho que eu não conhecia, passando por uma longa estrada de terra...
-Pra onde você está me levando?
-Pro paraíso.
Ele guardou segredo o caminho todo, me deixando curioso e com medo também, pois o caminho era um pouco escuro. Ao chegar, deu pra notar que era uma casa no mato, deveria ser um sítio, no meio da escuridão dava pra ver a luz que vinha de dentro da casa, um silêncio que chegava a incomodar, quebrado pelas cigarras em volta.
-Chegamos...
-Que lugar é esse?
-Nosso ninho de amor...
Segurando na minha mão ele me levou até a casa, abriu a porta pra mim e logo em seguida já foi me abraçando, a casa era linda, bem decorada, tinha um estilo country, as cortinas iam do teto ao chão, sofás de couro, ventiladores de teto, alguns retratos na parede de um homem com alguns cavalos, deveria ser seu pai, na varanda tinha uma rede e embaixo da escada havia um bar cheio de bebidas:
-Aqui vamos poder esquecer por um tempo da correria da cidade...
-De quem é essa casa?
-Da minha família... Minha mãe quase nunca vem pra cá, às vezes quando me sinto sozinho eu venho refletir aqui...
-Linda casa...
-É... Mais linda ainda é a visão que temos do segundo andar. Vem ver...
Ele pegou na minha mão e me levou até o andar superior da casa, subimos por uma escada de madeira que nos levava até um corredor cheio de portas, deveria ter umas oito portas, caminhamos até um dos quartos, era lindo, uma cama bem ampla, deveria caber umas cinco pessoas ali deitadas, o quarto tinha um estilo meio rústico, de um lado uma parede cheia de tijolinhos e do outro uma parede coberta por um armário que terminava na porta do banheiro, da varanda do quarto principal dava pra ver o céu cheio de estrelas, coisa que da cidade é quase impossível de ver por causa da poluição, uma lua linda nos iluminava e clareava aquele gramado. Daniel me abraçou e me contou uma história que seu pai contava para ele quando criança:
-Está vendo aquelas estrelas no céu?
-Sim.
-Quando eu era pequeno, meu pai dizia que as estrelas do céu eram reis, faraós e todas as pessoas boas que viveram na terra e continuavam a reinar no céu, só que olhando e cuidando daqueles que precisam aqui na Terra.
-Que lindo.
Daniel tocou no meu rosto, olhou nos meus olhos, fechou os seus e começou a me beijar, nos abraçamos e deitamos na cama, sozinhos, cercado pela natureza, trocando carinhos, carícias, sentimentos. Ele parecia ser uma pessoa totalmente desligada, mas só parecia, quem o via com aquela pose de machão não conseguia enxergar a criança carente que existia dentro dele. Sussurrando no meu ouvido, ele cantava bem baixinho, bem juntinho, só pra mim:
-Diz pra eu ficar mudo, faz cara de mistério, tira essa bermuda que eu quero você sério...
-Te amo, Daniel.
-Eu quero você, como eu quero...
Foi uma noite linda, impossível de esquecer, mais difícil ainda seria não me apaixonar pelo Daniel, que dia após dia me conquistava mais e mais.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Capítulo 3 - Um estranho dentro de mim
















Capítulo 3

Minha implicância com o Daniel foi se tornando carinho na medida em que ia o conhecendo mais, não sei o que estava acontecendo, só sei que já não tinha mais raiva dele, somente um carinho especial. Acabei adormecendo dentro da hidromassagem, quando acordei o dia já tinha amanhecido, minha pele estava toda enrugada, fui me enxugar, tomar meu café e ir pra academia que já estava na hora. Depois da academia estava saindo pra trabalhar quando na saída encontrei com uma amiga dos tempos de faculdade,
-Bader...
-Juliana?
-Quanto tempo...
-Tudo bem com você?
-Eu to ótima, e você?
-Eu estou bem. E como anda lá no seu trabalho?
-Ai nem me fala, depois que você saiu de lá aquele lugar nunca mais foi o mesmo.
-Serio?
-É... Ah... Sabe quem andou procurando por você?
-Quem?
-Aquele seu amigo que ia te buscar na faculdade...
-Que amigo?
-Aquele loirinho...
-O Bruno?
-De nome eu não sei...
Pela descrição dela deveria ser o Bruno que estava me procurando, o que será que ele queria comigo? Ficamos conversando um pouco até que ela se foi, quando eu ia atravessando a rua escutei um assovio me chamando, era o Daniel:
-Bader... Peraê...
-Fala, Daniel.
-Ta indo pra onde?
-Trabalhar...
-Bom, to indo pra Perdizes...
-Eu vou pra Pinheiros.
-Quer uma carona?
-Pode ser.
Vínhamos andando pelo quarteirão, pois ele havia estacionado o carro em um estacionamento na rua de trás, íamos conversando sobre as novas regras da academia, de repente eu senti alguém me empurrando, bati com tudo no poste, eram 6 caras que já chegaram nos agredindo do nada, eles jogaram o Daniel no meio da rua, a intenção deles era nos imobilizar, mas eu me debatia na tentativa de escapar deles, mas ao mesmo tempo eu queria tirar o Daniel dali, foi quando um deles ia dar uma garrafada na cabeça do Daniel, não sei o que me deu na hora, consegui escapar dos outros dois que me seguravam e dei uma voadora na cara que ia matando o Daniel, nisso um dos caras que estava me segurando veio e me deu um tapa na cara, o tapa foi tão forte que eu cai no meio da rua, o Daniel ficou furioso e partiu pra cima deles.
-Você não vai machucar ele...
-Filho da p...
-Não toca nele... Se vocês querem briga, que briguem comigo, deixem ele em paz. Corre Bader...
-Eu não vou te deixar aqui sozinho... Socorro... Alguém nos ajude pelo amor de Deus...
Comecei a gritar por socorro, eles iriam machucar o Daniel se continuassem e bater nele, me joguei na frente dos carros que passavam na rua, mas nenhum parou para nos ajudar, o Daniel já havia dado aula de jiu-jitsu, foi o que nos ajudou enquanto o carro da policia não chegava. Eu fiquei impressionado com as pessoas que ficaram assistindo tudo sem fazer nada, vendo nós ali pedindo ajuda e ninguém se mexeu para pelo menos chamar a polícia, eu fico indignado com o espírito humanitário de hoje em dia, se fosse eu com certeza ajudaria no que pudesse, mas ficar de braços cruzados vendo esse tipo de cena, é um absurdo, seria o primeiro passo pra acabar com a violência nessa cidade, um ajudar o outro e todos se ajudarem. Fomos para a delegacia registrar a ocorrência, eu fiquei mais indignado ainda com o descaso dos policiais que anotaram o nome do Daniel em uma prancheta e perguntaram se era de nosso interesse registrar uma ocorrência, como se ser agredido por quatro caras em plena luz do dia fosse a coisa mais normal do mundo. Chegamos na delegacia e tivemos que contar toda a história outra vez para o escrivão e para o delegado, não agüentava mais contar a mesma história. Passamos o resto da tarde e o começo da noite registrando BO e fazendo corpo de delito, eu me senti humilhado, um lixo, tamanho foi o descaso das autoridades.
-Muito obrigado, Bader!
-Pelo quê?
-Por ter me salvado, se não fosse você eu teria morrido com a garrafada que iam me dar.
-Eu fiz por você o que todo mundo deveria fazer ao presenciar um tipo de situação dessas, um por todos e todos por um... Você precisa passar no hospital pra ver esses ferimentos...
-Quanto aos ferimentos não se preocupe, muito obrigado, você se preocupou comigo como há tempos ninguém se preocupava... E você, está bem?
-Estou com as costas um pouco dolorida, mas estou bem. Então, vamos passar lá em casa para eu fazer um curativo nesse ferimento?
-Tudo bem...
Depois de fazer o corpo de delito fomos para minha casa, eu não sabia que corpo de delito era só responder algumas perguntas e basta, pensei que ao menos o médico olharia os ferimentos. Chegando em casa eu pedi pra ele aguardar na sala enquanto eu ia buscar a caixa de primeiros socorros no banheiro:
-Tira a camisa...
-Peraí.
-Foram só uns arranhões...
-Ai... Ta ardendo...
-Calma... Um homem desse tamanho com medo de remedinho...
-Fica zoando...
-Hahaha...
Ele era tão charmoso, me encantava cada dia mais com seu jeito de ser, meigo, sensível, nem aparentava com aquele corpo forte, mais parecido com um “Bad Boy”.
-Daniel...
-Fala.
-Por que você disse na delegacia que há muito tempo ninguém se preocupava com você?
-Porque é verdade. Desde que meu pai morreu, eu sinto falta de alguém pra conversar, alguém que me defenda, alguém que me ouça, me dê conselhos...
-Mas e sua mãe?
-Minha mãe está pouco se importando comigo, vive viajando com as amigas, eu passo mais tempo sozinho naquela casa enorme...
Conversando mais com ele, percebi que o Daniel era um cara carente, sensível, além de tudo, sofrido, ele deveria ser muito apegado ao pai, e a perda deve ter o deixado abalado.
No decorrer da semana eu liguei para minha mãe e contei sobre o acidente, ela ficou um pouco preocupada, mas tratei logo de tranqüilizá-la. Minha mãe era minha melhor amiga, quando eu precisava era só ligar pra ela, pelo menos três vezes na semana nos falávamos por telefone, pois era difícil eu ir pra Campinas. Continuei indo à academia normalmente e sempre tomando cuidado para não dar nenhuma pancada no Daniel, chega de mico.
-Bom dia!
-Fala Bader, firmeza cara?
-Tudo legal! Como estão os machucados?
-Nem sinto mais. É amanhã, hein...
-Pois é.
-Chamei uma mina que eu to ficando, você não se incomoda, né?
-Claro que não, chame mais amigos se quiser...
-Melhorou seu braço?
-Já consigo dirigir, mas não posso fazer esforço. Sorte que aqueles caras não tocaram nele.
-Menos mal, meu carro fica pronto semana que vem.
-Que bom! O meu já está pronto.
-Da hora... Ganhei um amigo num acidente de carro.
Estávamos dentro do vestiário masculino, eu havia acabado de chegar e fui guardar minhas coisas, o Daniel parecia já estar de saída, conforme ele falava, ia tirando a roupa, eu ainda não havia reparado muito no seu corpo até aquele momento, somente no peitoral no dia do passeio no parque do Ibirapuera, que foi impossível não reparar. Um corpo todo definido, ele era um magro falso, usava a calça meio caída com a cuequinha à mostra, corpo com pelos serrados, pele morena, cabelo todo espetadinho com gel, topete e um sorriso perfeito, era de deixar qualquer mulher apaixonada, não era a toa que as meninas da academia pagavam um pau pra ele, as vezes eu escutava elas comentando sobre um professor, mas nunca tínhamos nos cruzado antes nas dependências da academia, mas agora eu concordo com elas que ele é tudo e mais um pouco.
No sábado ele passou em casa por volta de 20h, pedi para o porteiro deixá-lo subir, quando ele entrou na sala, pedi para que ele me aguardasse enquanto iria tomar meu banho, ele sentou no sofá e ficou olhando as fotos dos porta-retratos.
-E aê cara...
-Beleza?
-Firmão. Já está pronto?
-Que nada, nem tomei banho ainda.
-Sem problemas, ainda está cedo.
-Da um tempo ai que vou tomar um banho.
-Vai lá.
-Você não ia trazer sua mina?
-A mãe dela tava meio adoentada... E também a parada hoje é só pra homem, nada de mulher pra encher o saco.
-Hahaha.
-Pô... Legal essas fotos, Bader.
-Quais?
-Essas aqui...
-Ah... Essa é minha família, tiramos já faz um tempo...
-É bonito ver uma família unida assim... Eu tenho poucas fotos com meu pai e minha mãe juntos, eles não se davam muito bem...
-Deve ser muito ruim mesmo.
-Quem é esse do seu lado? Seu irmão?
-Onde?
-Vocês estão em uma praia.
-Ah não, esse é meu ex-namorado.
-Namorado?
-É. Por que o espanto?
-Nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado...
-Você é contra um relacionamento homo?
-Não, tenho amigos homos, nada contra.
-Já é hora de jogar essa foto no lixo.
Peguei a foto, tirei do porta retrato e amassei, joguei no lixo, não sei nem por que aquela foto ainda estava em casa, eu me livrei de tudo que lembrava o Bruno, acho que só faltou aquela foto. Entrei no box e liguei o chuveiro, escutei a voz dele perguntando onde tinha água, gritei dizendo que na cozinha tinha. Após meu banho fui vestir uma roupa bacana, passei meu perfume de sempre, fiz meu penteado de sempre, levei quase meia hora em frente ao espelho pra deixar o topete do jeito que eu gostava.
-Pronto.
-Até que enfim...
-Nem demorou tanto assim...
-O que? Quase dormi aqui no seu sofá. Mas não tem problema, como você que vai pagar, vou beber pra caramba...
-Sem exageros.
Chegamos na balada já passava da 00h, eu dificilmente bebia, o Daniel logo quando chegou foi pegar uma caipirinha, a balada estava cheia, muita gente bonita, no começo as músicas estavam chatas, ficamos no bar conversando um pouco.
-Faz tempo que você freqüenta aqui?
-Eu vinha bastante quando namorava, o Bruno adorava esse lugar.
-Quanto tempo vocês namoraram?
-Três anos.
-Uau, bastante tempo...
-Sim, o conheci com 21 anos, mas como disse minha mãe: Algo melhor me espera.
-E você sonha com um conto de fadas?
-Não, só o que eu quero é ter alguém do meu lado todos os dias e para sempre.
-Legal isso... O engraçado é que nos tempos de hoje as meninas estão fugindo de compromisso sério e os homens estão afim...
-Pois é... E por que você terminou com seu relacionamento, então?
-Porque eu queria casar e ela não. Quero ser amado, receber carinho, tenho 26 anos, já transei com todas as garotas que eu quis, beijava as que dava vontade, agora eu cansei, queria ter a certeza de que alguém me ama de verdade, me deseja...
-Eu sei muito bem o que é isso...
-Pode não parecer, mas eu só tenho aparência de “Bad Boy”...
-Mas sua aparência assusta um pouco.
-Não me julgue pelas aparências.
-Desculpa, mas é verdade.
-Está ouvindo essa música?
-Sim... Adoro ela...
-Eu também. Vamos dançar?
-Claro.
Na pista de dança ele se soltou e mostrou que sabia dançar muito, a pista estava cheia, apertada, ele me puxou para o meio da pista e ficamos dançando um de frente para o outro, o Daniel era um cara muito bonito, cativante, dançando e olhando pra ele eu ficava pensando no que ele havia dito, sem que eu esperasse ele me puxou pra bem junto dele, fiquei sem reação, não foi com malícia, apenas uma empolgação, mas me deixou com vontade de beijar aquela boca carnuda, isso eu não posso negar. Eu acho que estava começando a gostar dele, se isto fosse concreto eu estaria perdido, ele gostava de mulher e eu não teria chance alguma.
As músicas estavam cada vez mais legais e a vontade era de ficar na pista e não sair mais, o Daniel continuava bebendo sem parar, comecei a ficar preocupado quando percebi que ele já havia ultrapassado os limites, o puxei pelo braço e avisei para irmos embora.
-Daniel... Já chega, está na hora de ir...
-Agora que está ficando bom?
-É necessário, você já bebeu demais.
-Ah... É por causa da bebida? Deixa que eu pago então, seu pão duro.
-Não é isso, estou preocupado contigo, o que você consumiu eu pago conforme o prometido.
-Ta bom...
-Vamos.
Saímos de lá eram quase 4h, o Daniel não estava em condições de dirigir, mal conseguiu subir as escadas, foi uma briga para convencê-lo a me deixar dirigir.
-Eu te deixo em casa e depois sigo para a minha.
-Você não está em condições de dirigir, Daniel.
-Eu to ótimo, veja...
-Cuidado... Você quase caiu...
Ele estava tão bêbado que foi fazer um “4” e quase caiu.
-Imagine... Eu sei muito bem o que to fazendo.
-Ok. Mas deixa que eu te levo até em casa...
-E como você vai voltar para a sua?
-Eu pego um táxi.
-Nananananão.
-Sim e sim.
Joguei ele dentro do carro, travei a porta, entrei no carro, ele ficou se debatendo e gritando, travei o cinto nele e fomos para casa.
-Entra...
-Eu já disse que irei te levar...
-Põe o cinto e cala essa boca. Onde você mora?
-Não vou dizer, você disse que era pra eu calar minha boca...
-É assim? Então vou te levar para minha casa, quando você estiver sóbrio eu deixo você ir sozinho.
-Socorro... Socorro...
-Pára de gritar, está louco?
-Louco eu estaria se deixasse você me levar, vai que dessa vez você bate o carro em um caminhão...
-Engraçadinho.
-Hahaha.
Fechei o vidro do carro e o trouxe para minha casa praticamente carregado por mim, porque sozinho ele não conseguia nem dar 2 passos. Precisei da ajuda dos seguranças do condomínio para carregá-lo até o elevador, com um pouco de dificuldade eu abri a porta da sala com ele apoiado em meus ombros, não falava coisa com coisa.
-Você precisa dormir um pouco...
-Dormir? Nada de dormir... Ta cedo...
-Daniel, você não está bem...
-Eu to ótimo... Vamos conversar um pouco...
-Vou fazer um café pra você beber.
-Enquanto você faz um café, vou jogar vídeo game...
-Nem pensar, você precisa de um banho frio...
Arrastei ele até o banheiro, foi difícil convencê-lo a entrar no box, ele se debatia o tempo todo, com muita paciência e força consegui colocá-lo em baixo do chuveiro.
-Venha...
-Eu não quero...
-Tira a roupa...
-Eu não vou tirar nada.
Abri o chuveiro e o empurrei para baixo da água fria com roupa e tudo, essa bebedeira tinha que passar de qualquer jeito.
-Ai... Está gelada... Ta molhando minha roupa...
-Você não quis tirar, eu avisei antes... Pára de se debater, você está me molhando...
-Deixa de viadagem e entra aqui, não vou me molhar sozinho.
Ele me puxou para dentro do box e travou a porta.
-Não...
-Hahaha.
Comecei a me debater, minha raiva ia aumentando na medida em que eu não conseguia sair, já estava me irritando aquela sua bebedeira, sóbrio ele era uma outra pessoa, mas bêbado ele era impertinente, comecei a tirar sua roupa, passei xampu em seu cabelo, com muito sacrifício consegui tirar toda sua roupa, o deixando totalmente nu.
-Me solta...
-Você não pode ficar com essa roupa molhada.
-Eu não quero tirar...
-Deixa de viadagem você agora... O que você tem ai eu também tenho.
-Sua roupa também está molhada.
-Ok, depois vou tirá-la.
-Depois nada, vai tirar agora também.
Tirei minha roupa e ficamos nus, terminei de dar banho nele e fui buscar uma toalha no quarto, pois a que estava no banheiro acabei molhando. Fui pegar uma toalha seca dentro do guarda-roupa, quando ia voltar para o banheiro me deparei com o Daniel dentro do meu quarto, todo molhado, como era a suíte de casa o banheiro praticamente ficava dentro do quarto.
-Mas o que você faz aqui? Eu disse para me esperar no banheiro...
-Até parece...
-Você está molhando todo o meu tapete.
-Judiação... Amanhã eu mando importar um tapete novo do Oriente pra você.
-Chega de bobagens e se enxugue...
-Não me amole...
-Se você não se secar, eu te seco.
O Daniel era muito teimoso, tive que secá-lo à força, mas ele não parava quieto, me dava até raiva. Nós éramos da mesma altura, então quando eu falava com ele era próximo ao seu ouvido, o que começou a despertar nele algo diferente.
-Pare quieto...
-Nossa... Não fale assim porque eu não resisto...
-Então se enxugue sozinho.
-Não vou me enxugar nada...
Ele pulou na minha cama todo molhado, quando eu o vi fazendo aquilo me subiu um ódio tão grande, paciência tem limite e a minha já tinha se esgotado.
-Caralho, você está molhando toda minha cama... Sai daí agora
-Hahaha...
Eu peguei pelo braço dele e comecei a puxá-lo pra fora da cama, eu já estava a ponto de quebrar sua cara, não é possível que uma pessoa quando bebe fique tão insuportável assim, maldita foi a hora que concordei em pagar uma balada pra ele, se eu tivesse passado um cheque pra cobrir os gastos do conserto do carro teria menos prejuízo. Puxei ele por duas vezes e ele insistia em não sair da cama, quando na terceira vez ele me puxou pra cama junto com ele, eu comecei a me debater, então ele subiu em cima de mim, segurou meus braços e olhou dentro dos meus olhos, fiquei imóvel, não tive reação nenhuma.
-Sai da minha cama...
-Deita aqui...
-Não...
-Nossa... Você tem uma boca tentadora...
-Será que você só sabe zoar?
-Eu to falando sério.
Ele segurou meu rosto e começou a me beijar, eu não sabia o que fazer, fui pego de surpresa, aquele seu corpo nu sobre o meu também nu me possuindo como se fosse uma terra desapropriada, sua mão explorava meu corpo com pegadas fortes, naquele instante eu fiquei sem fôlego. Ele beijava muito bem, tinha muito fogo, mas estava bêbado, não sabia o que estava fazendo, foi quando interrompi:
-Pare com isso...
-Parar por quê?