sábado, 19 de abril de 2008

Vida.com...Parte 3

-Com licença, você está acompanhado?-Sim, mas acredito que ele vai demorar a voltar.-Posso me sentar com você?-Fique à vontade.-Você namora há quanto tempo?-Não namoro mais, tive que deixar minha namorada e vir morar com meus tios.-Mas você não disse que estava acompanhado?-Estou, vim com meu primo. Ele começou a rir, eu não entendi nada, afinal, eu era novo nesse “meio”, não entendia quase nada do que as pessoas falavam, muitas gírias diferentes das que eu costumava ouvir. -Qual seu nome?-Sou Lucas, e você?-Prazer, meu nome é Denis. Ficamos conversando por um bom tempo, ele me explicou algumas gírias que o pessoal usava, me deu algumas dicas também, ele era um rapaz muito legal, me tratou com muito carinho e muita atenção, um rapaz muito bonito, nem aparentava ser gay, tinha um sorriso de anjo e uma voz muito serena, tinha bom gosto para roupa e perfume pelo que pude notar. Depois de um tempo eu comecei a me familiarizar com o ambiente, me senti mais à vontade também, mas fiquei constrangido quando ele me pediu um beijo:-Rod...-Eu?-Posso te dar um beijo? Olhei pra ele com os olhos estufados, sem saber o que responder.-É que fiquei muito afim de você. Confesso que eu também me senti atraído, embora eu ainda estivesse um pouco apreensivo por ser a primeira vez que recebia uma indireta tão direta de um cara, não soube como agir de momento, com aquela pele morena de sol, um pouco mais baixo que eu, cabelo liso com topete espetadinho e luzes, o que mais me encantou foram aqueles olhos negros e brilhantes que me olhavam de uma tal maneira a me tirar um raio-x por completo. Claro que ele notou minha falta de “jeito” para esse tipo de situações, foi aí que ele puxou sua cadeira pra perto da minha, olhou lá dentro dos meus olhos, tocou em meu rosto com sua mão esquerda delicadamente, fechou seus olhos e aos poucos foi aproximando seu rosto do meu e encostando sua boca na minha, passo a passo, primeiro um selinho delicado, aos poucos ia abrindo sua boca e o beijo estava ficando cada vez melhor, alternava entre o seco e molhado, enquanto nos beijávamos carícias no rosto e na nuca rolavam de ambas as partes, eu não sei explicar, mas aquele beijo foi muito gostoso, aquele seu perfume ficou na minha pele, era um perfume doce, parecia uma mistura de amêndoas com morango, em meio aos beijos intercalados com mordidas nos lábios ele ruborizava, sua respiração já estava ofegante, foi muito bom, ficamos conversando e nos beijando a noite inteira quase. Quando meu primo apareceu já chegou de mãos dadas com um garoto, ao me ver junto com o Denis ele ficou surpreso, mas ao mesmo tempo feliz por mim, abusado como ele era já foi tomando a iniciativa e se apresentou ao Denis.-Não perdeu tempo hein Gê. Meu nome é Robson, prazer.-Prazer, Denis.-Rod, daqui a pouco vamos embora.-Tudo bem.-Deixa eu te apresentar... Esse é o Gabriel.-Beleza?-Tudo bacana.-Vou dançar um pouco na pista e depois eu volto pra te buscar.-Ta bom.-Posso te beijar outra vez, Rod?-Pode. Ficamos nos beijando por mais um tempo, o jeito que ele me tocava me deixava louco, era um toque leve, mas ao mesmo tempo firme, ele sabia onde pegar. Na hora de ir embora, ofereci carona para ele que aceitou na boa...-Obrigado!-Por nada.-Falou cara.-Tchau. Cheguei em casa e aquele perfume ainda estava em minha roupa, na minha pele, como é bom você poder beijar alguém com prazer sem se preocupar com quem está olhando ou peso na consciência... Ao entrar no quarto encostei a porta e fui direto tomar um banho, aproveitei para descarregar meu tesão acumulado da noite toda, depois do banho me enxuguei e fui me deitar, eu tinha o costume de dormir nu, às vezes de cueca. No outro dia acordei com o Gê me chamando dentro do quarto, eu levantei correndo procurando uma toalha para me cobrir, fui pego de surpresa:-Rod, acorde. -Caramba...-Calma, não precisa esconder, eu já vi muitos desses, ta certo que o seu é tudo de bom, isso eu não posso negar.-Você está me deixando sem graça.-Com o tempo você acostuma. Como foi com o Denis ontem? -Foi ótimo, adorei.-Quando é que vocês irão se ver outra vez?-Não sei.-Como não sabe?-Não sei, como vou encontrá-lo?-Vocês não trocaram telefones? E-mail?-Não -Da uma olhada no nick desse cara...-Qual deles?-O BoyToy...-O que tem ele?-Provavelmente ele já entrou na intenção de encontrar alguém pra fazer sexo.-Como você sabe?-O próprio apelido dele na sala insinua que ele é um brinquedinho para os outros...-Credo... Vem cá, é fácil de conseguir arrumar alguém pra transar nessa sala de bate papo?-Muito fácil, as pessoas só entram aqui pra procurar sexo, dificilmente tem alguém procurando fazer amizade... Quer ver? Robson fala pra BoyToy: Beleza cara? BoyToy fala para Robson: firmeza... o que curte?
Robson fala para BoyToy: eu curto um sexo bem gostoso e você?BoyToy fala para Robson: eu também... tem local?Robson fala para BoyToy: topa motel?
-Você vai sair com ele?-Claro que não, só estou zoando...-Parece que ele ficou muito afim de sair com você.-Ele só está a fim de gozar... Vai querer sair com ele?-Ta louco? -Bom, então fique ai se divertindo um pouco...-Aonde você vai?-Vou telefonar pro meu gato.-Pra quem?-Para o Gabriel...-Nossa... Pelo visto você está confiante com esse garoto, hein?-Espero que agora eu tenha acertado na felicidade.-Vou torcer por você.-Obrigado. Não sei por que, mas não fui muito com a cara do Gabriel, porém não tive coragem de dizer ao GÊ, pois ele estava tão feliz que fiquei com receio de magoá-lo. Pode ser que era só implicância minha, talvez estivesse rolando um ciuminho da minha parte pra cima do meu primo, mas se esse garoto fosse fazê-lo feliz o que eu poderia desejar era sorte apenas. Enquanto ele foi ligar para o seu mais recente amor eu continuei conversando com alguns caras no bate papo, conversar com os caras no bate papo era um pouco difícil, pois só pensavam em sexo, foram muito poucos os caras no qual consegui conversar um papo cabeça, até cheguei a trocar e-mail com um deles. Depois de ficar quase duas horas na frente do computador fui vestir uma roupa e tomar café da manhã.-Bom dia!-Bom dia, Rod! Você viu o GÊ?-Eu acho que está no quarto dele...-Deixa que daqui a pouco ele vem. Como foi a balada ontem?-Foi bacana...-Conheceu alguma garota? Na hora eu não sabia o que dizer, fiquei vermelho de vergonha, meu tio também tinha que fazer esse tipo de pergunta? Sorte foi que minha tia interrompeu o assunto e o GÊ chegou bem na hora propicia para mudarmos de conversa:-César, você não está vendo que ele é tímido?-Mas o que foi, Helena?-Não fique fazendo esse tipo de pergunta idiota para o garoto...-Bom dia pai, bom dia mãe!-Bom dia meu filho.-Bom dia!
--Chega. Vamos falar de coisas boas? É amanhã que -Relaxa, Rod. A gente vai dar umas voltas no shopping mais tarde, aproveitamos e pegamos um cinema...-Tudo bem.-Aproveite e compre um celular para o GÊ também, ele vai precisar...-Claro!
Enquanto eu me arrumava em meu quarto, o GÊ foi ligar para o Gabriel o convidando para ir conosco ao shopping, de principio não gostei muito da idéia, ficar segurando vela pros outros não era comigo, mas não tinha outra escolha.-Lucas, já está pronto?-Só vou passar um pouco de gel no cabelo...-Tudo bem, vou te esperar na garagem...
Ok. Fui até o banheiro, olhei bem pro meu rosto no espelho e pensei em desistir, eu não estava a fim de olhar pra cara do idiota do Gabriel, tudo bem que eu nem cheguei a conhecer o cara direito, mas não adiantava, resolvi assumir minha implicância com ele e pronto. Voltei pro quarto na intenção de ligar no celular do Gê avisando que não iria mais com ele ao shopping, ao entrar no quarto minha tia entrou com o telefone na mão, era minha mãe que havia ligado para dar noticias, Desliguei o telefone super feliz, peguei um boné dentro do armário, coloquei na cabeça e me despedi da tia Helena, falar com minha mãe acabou me encorajando para ir ao shopping com o GÊ e o insuportável do seu namorado. Chegando no estacionamento ele já estava dentro do carro falando no celular, claro que nem me dei ao trabalho de adivinhar quem era do outro lado da linha, pelo tom de voz que ele usava e a forma com que ele falava estava obvio demais.-Podemos ir?-Gato, vou ter que desligar, te espero lá, ok? Beijão. Pronto...-Já?-Sim... Põe o cinto...-Só não quero demorar...-Pare com isso Rod, vamos nos divertir um pouco... Você está precisando de um amor...-Sem comentários. Chegamos no shopping e deixamos o carro no estacionamento, naquele dia o shopping estava lotado, e eu sempre detestei multidão, me sentia mal no meio de muita gente aglomerada. Fomos até a porta do cinema encontrar o Gabriel, o cumprimentei apenas por educação, não via a hora de comprar o que precisava logo e ir embora, aquele ambiente estava me fazendo mal.-Oi amor...-Oi meu gato! Tudo bem, Lucas?-Beleza.-Pra onde vamos?-Vamos comprar algumas roupas e um celular...-E depois?-Depois...-Depois eu vou embora e vocês decidem o que vão fazer, podemos ir logo, GÊ?-Calma ROd , o que você tem hoje?-Humpft... É melhor eu ficar de boca fechada. -Vamos ver nessa loja... Boa tarde!-Boa tarde, em que posso ajudar?-Veja alguns ternos para meu primo, gravata, sapato, cinto...-Podem me acompanhar...
A vendedora era muito simpática, nos deu bastante atenção, é claro que o interesse dela é vender e por isso nos tratou nas nuvens. Provei vários ternos, nunca tinha me olhado no espelho de social, até que eu fiquei bonito, modéstia a parte é claro.-Nossa... Como você ficou bonito, GÊ ?-Já to com ciúme, Gabriel.-Que isso amor...-Acho que vou levar um pra mim também. Fingi que nem ouvi o que o Gabriel me disse, enquanto o GÊ foi provar um terno na cabine eu trouxe todas as que eu havia provado, entreguei para a vendedora que os separou em cima da mesa.-Gostou?-Ficaram legais, vou levar.-Todos?-Sim. Enquanto ela foi anotando tudo na nota e separando as peças o Gabriel se aproximou de mim e começou a puxar assunto:-Ficou muito bonito vestido de social...-Humpft... Não mereço, mas agradeço.-Claro que merece... Você parece não ir muito com a minha cara, né?-Boa observação a sua...-O que eu fiz pra você?-Vamos mudar de assunto?-Nossa Lucas, me sinto tão mal com isso... Se eu te fiz alguma coisa de ruim me desculpa. -Não... Você não me fez nada de ruim... -Só não queria que ficasse esse clima chato entre nós...-Desculpa, mas não me peça para ser seu amigo, pois não te suporto.-Caramba, você é muito sincero Rod.-Demais.-Sobre o que vocês estão falando?-O Gabriel estava elogiando as roupas... Sorte a minha que o GÊ chegou na hora certa de interromper aquele dialogo estúpido, eu já estava quase quebrando a cara do Gabriel, mas eu não sabia o por que tinha tanta raiva assim dele, não sei se era ciúme do meu primo, só sei que não gostava dele, achava seu olhar muito falso, dava pra notar também que ele era uma pessoa muito interesseira. Depois de comprar as roupas eu pedi para o gê me levar pra casa, eles ainda queriam que eu fosse ao cinema, mas é claro que eu recusei, já fiz o sacrifício de comprar roupa junto com aquele idiota, imagine segurando vela para dois marmanjos. Três meses se passaram e minha vida parecia estar se ajustando, tirei minha carta de habilitação, fiz vários amigos na internet, O carnaval estava chegando, tive uma semana sem aulas na faculdade, na terça-feira entrei na internet e estava muito chata, fiquei on-line por um tempo até me cansar e quando eu estava saindo da sala de bate papo um garoto me chama pra teclar. Como eu já não estava mais com saco pra ficar em chat teclando com alguém trocamos e-mail e passamos a conversar por lá. Depois que inventaram o e-mail com certeza facilitou a vida de muita gente, as correspondências chegam na hora, a comunicação fica mais rápida, uniu as distancias literalmente. Passei a conversar com aquele garoto por dias, ele era um garoto adorável, muito simpático, divertido e interessante, é difícil encontrar alguém assim que você se identifique, ele disse que adorava carnaval e até iria desfilar na escola, pois sua família costumava desfilar, eu particularmente não gostava muito de carnaval, mas gostava de ver os desfiles pela TV. Depois de conversarmos por quase quinze dias marcamos um encontro no shopping, seria meu primeiro encontro com alguém que eu conhecia via internet, fiquei com um pouco de receio, mas também na expectativa de encontrar alguém legal. Cheguei dez minutos adiantado, comprei um milkshake e sentei em uma mesa na praça de alimentação, fiquei ali ansioso esperando por ele, quando meu relógio marcou a hora do encontro minha barriga começou a doer, minhas pernas tremeram, comecei a suar, não sei se isso acontece só comigo, creio que deve acontecer com várias pessoas quando vão ao primeiro encontro com alguém, a gente fica imaginando as pessoas de todas as formas, tentando adivinhar qual perfume será que ele usa, estilo de roupa, se tem bom papo, entre outras inúmeras coisas. Esperei durante vinte e cinco minutos, foram os minutos mais longos de minha vida, quando já não agüentava mais esperar escutei alguém pronunciando meu nome:Rod...